A redução da taxa básica de juros é um caminho a ser adotado pelo governo para que o país possa voltar a ter um modelo flutuante de moedas, mais eficiente que o atual, de acordo com o economista.
O recorrente esforço do governo em manter a taxa de câmbio controlada artificialmente no intervalo de R$ 2,00 a R$ 2,10 não é sustentável no médio e longo prazo, uma vez que gera distorções mais prejudiciais à economia brasileira do que em um modelo flutuante.
No entanto, o Brasil já está adotando as medidas que criam condições para um mercado cambial flutuante, que passa por uma redução da taxa básica de juros, já que seu alinhamento com os níveis de seus pares internacionais evita o fluxo de capital especulativo.
"É uma ilusão imaginar que alguém vai conseguir controlar o câmbio. Hoje 10 mil fundos operam em 140 países, procurando diferenças na terceira casa decimal. É impossível de ser controlado", afirmou Antônio Delfim Netto, nesta terça-feira (18/9), em São Paulo.
"A melhor coisa a se fazer é deixar o mercado controlar, que o dólar vai caminhar para seu ponto de equilíbrio, se é que há um", ponderou o experiente economista, que foi ministro da Fazenda no período entre 1967 e 1974.
Livre de qualquer tipo de amarra que atue como um direcionador para o câmbio, o fluxo de exportações e de importações irá ditar naturalmente a cotação mais confortável para a moeda americana.
Ainda que o atual nível de R$ 2,00 em que se encontra seja melhor do que o patamar de R$ 1,50 de tempos atrás, para contribuir para a evolução da indústria nacional, só poderemos saber se ele foi suficiente para garantir a sobrevivência do segmento daqui algum tempo.
"Esse nível está ligeiramente abaixo do que minha intuição diz que é. O patamar de R$ 2,10 é melhor que o de R$ 2,00, mas nem sempre há condições de se fazer o que quer", destaca o especialista.
O ganho de eficiência da indústria brasileira, que fica à mercê de uma redução do Custo Brasil, tornaria o setor exportador menos dependente de uma taxa de câmbio que favoreça suas operações, ressaltou o ex-ministro.
"A indústria de transformação sofreu por muitos anos com a supervalorização do real. Tiramos da indústria brasileira todas as condições econômicas de competitividade. O nível de consumo crescente foi suprido pelas importações", diz Delfim.
Para Maílson da Nóbrega, que ocupou o ministério da Fazenda entre 1988 e 1989, as ações heterodoxas que os bancos centrais dos países desenvolvidos têm adotado recentemente vieram com o objetivo de evitar uma repetição da crise de 1929.
"A crise de 1929 era evitável, mas ocorreu por conta de um erro do Fed na época, quando a economia precisava de liquidez, e a autoridade americana elevou as taxas de juros", pondera o sócio da Tendências Consultoria.
Para Nóbrega, os BCs foram bem sucedidos em evitar a depressão dos anos 30, mas as ações tomadas geram reflexos no câmbio ao redor do globo.
"Não acredito em guerra cambial. O objetivo dos BCs não é alterar a taxa de câmbio, mas evitar um colapso e criar condições de estímulo", diz o economista.
Apesar dessa constatação, as medidas de estímulo americanas e europeias tornam legítimas as ações defensivas de países que recebem forte fluxo de ingresso de capital, nota o especialista, que também defende a livre flutuação do câmbio.
Um exemplo dos efeitos negativos do câmbio administrado, observa Nóbrega, diz respeito ao impacto da seca nos Estados Unidos sobre a economia brasileira.
Com a valorização das commodities devido ao choque de oferta dos produtos agrícolas, em um mercado flutuante, a cotação da moeda iria se ajustar à variação do preço da matéria-prima. Já com um câmbio administrado, os preços das commodities sobem, mas não são acompanhados por uma elevação na cotação da moeda.
Fonte: Brasil Econômico
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