Atordoadas após os protestos contra o Japão que atingiram algumas regiões da China durante o fim de semana, algumas das maiores empresas japonesas interromperam a produção de suas fábricas situadas em território chinês nesta segunda-feira, além de aconselhar seus funcionários a ficar em casa e fechar suas lojas no país – medidas que levantaram mais dúvidas sobre o status do relacionamento entre a segunda e a terceira maiores economia do mundo.
A Panasonic Corp. fechou uma de suas fábricas na cidade de Qingdao, província de Shandong, após manifestantes chineses terem quebrado as janelas do prédio no fim de semana, além de terem destruído parte de seu maquinário e incendiado as instalações, segundo um porta-voz da Panasonic em Pequim.
Ontem, pelo menos duas montadoras japonesas decidiram suspender sua produção temporariamente em suas fábricas chinesas. A Honda Motor Co. informou que interromperia suas operações hoje e amanhã em cinco de suas plantas localizadas em território chinês, incluindo duas fábricas em Cantão e duas em Wuhan, segundo um porta-voz da empresa. Um porta-voz da Mazda Motor Corp. disse que a companhia suspenderá a produção de sua fábrica em Nanjing durante quatro dias a partir de hoje.
A Canon Inc. também informou que estava interrompendo as operações em três de suas quatro principais fábricas de câmeras, fotocopiadoras e impressoras na China.
A Fast Retailing Co., que opera cerca de 145 lojas da marca Uniqlo, de roupas casuais, em toda a China fechou temporariamente sete pontos de venda ontem. A empresa acredita que mais lojas serão fechadas hoje, disse a porta-voz da companhia em Tóquio.
Os protestos, que começaram no fim de semana e se relacionam à disputa por ilhas situadas no mar da China oriental, estão entre as maiores manifestações contra o Japão a eclodir na China – e ocorrem num momento em que muitas empresas japonesas têm voltado seu foco para o sudeste asiático à medida que os custos trabalhistas sobem na China. Mas a China ainda se mantém como a maior parceira comercial do Japão, e hoje o país é um mercado consumidor de rápido crescimento para muitas empresas japonesas – e não apenas um centro manufatureiro.
"O crescente sentimento anti-nipônico pode se tornar um catalisador para acelerar a mudança do foco das empresas japonesas da China para o sudeste asiático", disse Kyohei Morita, principal economista para o Japão do Barclays. Mesmo antes dos últimos protestos, as companhias japonesas já tinham começado a avaliar a China como um mercado menos atraente devido à alta dos salários observada no país e ao declínio previsto para o percentual da população em idade economicamente ativa, disse ele.
Mesmo assim, para a maior parte das fabricantes e varejistas japonesas, a China continuará sendo um mercado indispensável para aumentar o faturamento. "A China não é apenas um dos principais centros manufatureiros para a Canon, mas também um mercado gigante para nossos produtos", disse um porta-voz da Canon em Tóquio. "O país continuará sendo extremamente importante para nós."
Até o momento, não houve informações de danos causados a nenhum escritório ou fábrica da Canon no país, mas a empresa está tentando garantir a segurança de todos os seus funcionários na China – tanto os de origem chinesa quanto os de origem japonesa, disse o porta-voz.
O governo chinês e várias organizações que o apoiam se viram em uma situação delicada ontem, pois, ao mesmo tempo em que pediam calma aos manifestantes, ameaçavam ampliar as retaliações econômicas caso a disputa territorial continue.
Durante uma sessão de informes que ocorre diariamente, Hong Lei, porta-voz do Ministério do Exterior, disse que a "China protegerá os estrangeiros e as empresas estrangeiras", e acrescentou que os "cidadãos chineses expressam seus pontos de vista de forma organizada e dentro da lei".
Mas Hong acrescentou que os distúrbios explicitam o impacto da recente iniciativa japonesa de comprar as ilhas das mãos do público chinês. "O resultado dessa transgressão apareceu e o Japão precisa assumir sua responsabilidade", disse ele.
O jornal "Diário do Povo", veículo do Partido Comunista chinês, reconheceu que as sanções econômicas são uma "faca de dois gumes", mas acrescentou que, em relação a questões de soberania nacional, "a China precisa se mostrar à altura desse desafio". "Se o Japão continuar provocando a China, temos que contra-atacar", disse o comentário.
O texto também afirmou que a economia japonesa "não ficará imune" às ações retaliatórias da China, acrescentando que Pequim poderá mirar nos setores manufatureiro e financeiro do Japão, além de alvejar outros produtos de exportação específicos.
A China e o Japão são grandes parceiros comerciais, tendo negociado US$ 345 bilhões em produtos entre si no ano passado. Qualquer medida que vise a atacar o comércio bilateral poderá ameaçar as economias de ambos num momento em que eles tentam retomar o crescimento econômico. Os líderes chineses já têm sido pressionados para estimular a economia, que tem crescido no ritmo mais lento desde a crise financeira de 2008.
Muitas empresas japonesas estão recomendando a seus funcionários que tenham cuidado. Além do fechamento de lojas, a Fast Retailing aconselhou todos os funcionários japoneses de lojas Uniqlo na China a ficarem em casa hoje, disse a porta-voz da empresa. A companhia tem mais de 200 funcionários japoneses na China.
A Panasonic pediu a seus funcionários na China que não tomem táxis sozinhos e evitem falar japonês em voz muito alta nas ruas, disse seu porta-voz em Pequim. A empresa também restringiu as viagens de negócios do Japão para a China, dando autorização apenas àquelas que forem urgentes ou absolutamente necessárias. Já a Fast Retailing recomendou a seus funcionários japoneses na China que andem acompanhados de seus colegas chineses ao sair na rua.
Fonte: The Wall Street Journal
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