Os problemas da indústria brasileira são estruturais, pondera Antonio Carlos Alves dos Santos, professor da PUC.
O setor industrial no mundo inteiro tem sentido o impacto da crise na Europa. No entanto, apesar de 2012 ser considerado como um ano perdido, o segundo semestre deve mostrar recuperação diante das medidas internas e externas.
Para este ano, a previsão do mercado, segundo o boletim Focus do Banco Central (BC), para a produção industrial brasileira é de queda de 1,78%, mas para 2013, a expectativa é de alta de 4,5%.
"As medidas que o governo está tomando têm ajudado, como o corte do IPI [Imposto sobre Produtos Industrializados], desoneração da folha de pagamento e redução da taxa básica de juros. O importante é gerar ganho de produtividade para não desencadear em um cenário de forte desemprego. Medidas no cenário externo, como na China também vão ajudar", aponta Gil Deschatre, professor de investimentos da FGV.
O consenso é de retomada do setor industrial brasileiro neste segundo semestre, para entrar com força no primeiro trimestre de 2013. Para Deschartre, o Produto Interno Bruto (PIB) do país vai chegar a 1,8% neste ano.
Na opinião de Antonio Carlos Alves dos Santos, professor da PUC, os problemas da indústria brasileira são estruturais. "A redução da tarifa de energia elétrica foi um grande passo e vai impactar bastante a indústria de transformação. Mas ainda é necessário fazer desonerações e diminuir a burocracia. Mesmo se não houvesse crise externa, estaríamos tendo problemas em nossa indústria", desta.
Apesar da indústria da China passar por um arrefecimento, os problemas devem diminuir em três meses caso o país anuncie estímulos. As duas reduções nas taxas de juros, aumento da liquidez e avanço na capacidade de empréstimo bancário ainda não surtiram efeito no gigante asiático, mas há espaço para mais estímulos monetários.
"As autoridades chinesas estão atentas ao desaquecimento do país e devem injetar ânimo apenas com políticas monetárias. Talvez haja um corte de juros, mas será pequeno porque os valores já estão baixos, mas ainda há espaço para redução de impostos ou incentivos à indústria siderúrgica", explica Gil Deschatre.
Um dos motivos da China estar passando por desaquecimento na indústria é que, em 2008, o governo chinês incentivou o setor habitacional, o que acabou elevando os preços dos imóveis. Neste ano, o governo segue temeroso com incentivos no setor da construção civil.
"Não vejo uma bolha neste segmento porque o emprego na China está bom. Enquanto a indústria está ruim, o setor de serviços está melhorando a cada mês e poderá até compensar o setor industrial com os empregos", avalia Antonio dos Santos.
Ele complementa ainda que o desenvolvimento do setor no Brasil irá depender da melhora externa. Dados divulgados hoje no Reino Unido apontam para ligeira melhora.
Na Alemanha, apesar das exportações para a Zona do Euro terem sido fracas no primeiro semestre deste ano, em relação ao mesmo período do ano passado, houve forte crescimento de envio de encomendas para o Japão, Rússia e Estados Unidos.
Em relação à produção americana, que terá os dados divulgados na terça-feira (4/9), não devem surpreender negativamente os investidores. A consultoria Briefing.com estima que o nível de atividade industrial nos Estados Unidos atinja 50 pontos em agosto, contra 49,8 pontos no mês anterior.
Deschatre lembra que a situação por lá está longe de ser comparada com o cenário europeu e que, apesar da economia estar morna, não há necessidade de correções abruptas.
"O único problema dos Estados Unidos é se o déficit encavalar, mas isso não deve acontecer. Não acredito que venham estímulos mais fortes porque a economia está caminhando, embora lentamente. O ideal seria algo pontual, como crédito às empresas", completa o professor da FGV.
Também será publicado amanhã, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a produção industrial brasileira. O Bradesco prevê aumento de 0,3% na atividade industrial de julho, em relação ao mês anterior. Na comparação anual, a expectativa é queda de 2,9%.
Fonte: Brasil Econômico
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