Economista vê poucos impactos de flexibilização na Europa e Estados Unidos e alerta para escassez de ferramentas no combate à crise.
A reação otimista dos investidores às medidas de estímulo monetário americana, europeia e chinesa indica a crença de que a política monetária expansionista é a chave para tirar os Estados Unidos e a Zona do Euro da crise.
Foi somente o presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, ter entregado o plano de ajuda prometido na última quinta-feira (6/9) que as principais bolsas do globo registraram fortes altas.
Aqui e nos Estados Unidos, a valorização foi superior a 2%; nos países que atualmente estampam as manchetes europeias - Espanha e Itália - os ganhos foram ainda maiores, de 4,91% e 4,31%, respectivamente.
O mesmo cenário pode ser descrito em relação à expectativa de uma terceira rodada de compra de ativos em larga escala (QE3) pelo Federal Reserve, nos Estados Unidos. Enquanto o mercado espera o anúncio para esta semana, o otimismo permeia as negociações de ações.
No entanto, os economistas já chamaram a atenção para a excessiva confiança do mercado financeiro nas ações dos bancos centrais, dizendo que o problema não é a falta de liquidez e que novos estímulos monetários não devem ajudar muito na recuperação.
Segundo Patrick Artus, economista do banco francês Natixis, essa percepção vem de três pontos distintos. O primeiro é de que, quando há a desalavancagem de agentes do setor privado, a política monetária é ineficiente para impulsionar a atividade econômica.
O segundo é que os problemas de solvência de diversos países da Zona do Euro, particularmente da Espanha, continuariam a existir, mesmo com taxas de juros mais baixas.
E o terceiro é que "os principais problemas dos Estados Unidos e da Zona do Euro são estruturais, pertencentes à economia real". Para Artus, questões como desindustrialização, bolhas imobiliárias e fraqueza do crescimento potencial não são resolvidas através de políticas monetárias.
Por outro lado, o Wells Fargo ressalta que, embora os problemas - especialmente na Europa - sejam sérios e devam continuar a atrapalhar o crescimento econômico global por muito tempo, "qualquer sinal que mostre alguma luz no fim do túnel para a Zona do Euro será bem-vindo pelo mercado e poderia abrir o caminho para melhores perspectivas futuras".
Medidas (ainda) existentes
Nesse sentido, Artus lista as possíveis ações que o BCE poderia tomar, já que não pode mais agir através da redução do juro básico, que está em 0,75% ao ano, nem aumentar a liquidez dos bancos, que já está suficientemente abundante.
Tentar estimular a oferta de crédito através da compra de ativos de risco dos bancos também não adiantaria, segundo o economista, porque a demanda por empréstimos continua muito fraca.
"Portanto, restam duas soluções: reduzir as taxas de juros nos países problemáticos da Zona do Euro e criar um efeito de riqueza positivo através da elevação dos preços de ativos que estejam anormalmente baixos", explica Artus.
No primeiro caso, a compra de títulos públicos seria a solução. O problema é que o BCE testaria o limite de suas atribuições, segundo o Deutsche Bank.
"O BCE está em corda bamba em relação ao Artigo 123 que proíbe o financiamento monetário de déficits governamentais - a mais importante das objeções do Bundesbank", explica o banco alemão.
Os legisladores da Alemanha se reunirão na próxima quarta-feira (12/9) para decidir se apoiam ou não a compra de papéis da dívida pública de países problemáticos pelo Fundo Europeu de Estabilidade.
A outra alternativa citada por Artus poderia ser concluída através da compra em larga escala dos ativos subavaliados, o que ajudaria a impulsionar os preços.
Fonte: Brasil Econômico
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