À medida que alguns investidores aumentam as compras de petróleo antes de um potencial ataque dos EUA à Síria, outros estão defendendo o que parece ser uma estratégia incoerente: vender, vender, vender.
Contra o senso comum, alguns dizem que é mais provável que a ação na Síria provoque a queda dos preços porque o mercado já subiu em antecipação à intervenção e há na verdade pouco petróleo em risco na Síria.
"Quanto maior o salto antes do evento, maior a queda depois", afirmou o banco Morgan Stanley MS +0.53% num relatório desta semana. "Nós seríamos vendedores em qualquer alta de preço baseada na [possível] intervenção militar na Síria."
A história mostra que, quando é provável que o conflito não afete diretamente o suprimento, ele pode levar a um recuo nos preços. Em um estudo sobre os principais conflitos no Oriente Médio desde a crise do petróleo de 1973, o Morgan Stanley verificou que, na maioria dos conflitos na região — inclusive quando Israel bombardeou um reator nuclear iraquiano em 1981, e na invasão do Iraque liderada pelos EUA em 2003 —, os preços do petróleo já haviam baixado seis meses depois da alta inicial.
Na semana passada, o preço do petróleo Brent atingiu sua cotação máxima nos últimos seis meses, batendo em US$ 117 o barril, em meio à preocupação dos investidores com uma possível intervenção militar ocidental na Síria. Isso representou uma alta de US$ 18 em relação ao fim de junho. Ontem, o contrato futuro do petróleo Brent com entrega em outubro negociado na bolsa IntercontinentalExchange Inc., ICE -1.07% ou ICE, oferecia ganhos de US$ 0,35 por barril, ou 0,3%, para US$ 115,26.
"Se isso for algo muito rápido e nós dispararmos alguns mísseis Tomahawk e nada acontecer, então facilmente os preços vão cair US$ 4 ou US$ 5", disse Tariq Zahir, um dos gestores da Tyche Capital Advisors LLC. "Acho que isso já está embutido no preço."
Zahir, cuja firma — uma consultoria para negociações de commodity de Nova York — administra cerca de US$ 3 milhões em ativos, está vendendo contratos futuros de petróleo com primeira posição de entrega e comprando contratos com data de vencimento mais distante porque ele acha que os preços de petróleo para entrega imediata não tendem a subir.
O impacto da Síria sobre os preços pode estar sendo particularmente exagerado porque ela produz apenas uma pequena quantidade de petróleo. A produção do país era de 50.000 barris por dia em julho, comparado com os quase cerca de 350.000 que produzia antes da guerra civil começar, em março de 2011, segundo a Agência Internacional de Energia, sediada em Paris. A Arábia Saudita, em comparação, produz 9,8 milhões de barris de petróleo por dia.
Nicholas Johnson, gestor de portfólio de commodities da Pacific Investment Management Co., ou Pimco, que administra US$ 30 bilhões em ativos, disse que a diminuição da produção de petróleo na Líbia, em vez dos temores sobre a intervenção americana na Síria, foi em grande parte responsável pelo recente aumento dos preços. Uma vez que a produção da Líbia for retomada, os preços provavelmente vão cair, segundo ele.
Johnson disse que tem pouca exposição ao petróleo, devido à incerteza nos mercados. "É algo claramente conduzido pela mídia. Realmente depende do que as pessoas acham que serão os efeitos secundários na região", disse.
Outra razão fazendo alguns investidores esperar uma queda nos preços do petróleo é que os mercados tendem a levar em consideração preocupações geopolíticas antes de qualquer evento. As posições líquidas de longo prazo do Brent — que apostam que os preços vão subir — saltaram para uma quantidade recorde na semana encerrada em 27 de agosto, segundo a ICE. A alta significa que existe um grande risco potencial de uma correção de preço se os gestores de fundos correrem para sair dos investimentos ao mesmo tempo.
Existe, certamente, o risco de que uma intervenção militar inflame as tensões na região, o que pode perturbar os mercados de petróleo. Os principais produtores, como a Arábia Saudita, estão próximos, enquanto a intervenção na Síria pode servir como um catalisador para a escalada do conflito sectário no Iraque, uma grande preocupação para os negociadores de petróleo. Também é possível que uma intervenção americana acabe não ocorrendo.
"Os mercados vão sempre agir à frente de eventos específicos, mas o grande problema é que há muito pouca capacidade ociosa de produção para o petróleo em qualquer lugar do mundo", disse David Donora, chefe da área de commodities da firma de investimento Threadneedle Investments. "O que há de capacidade ociosa está dentro da Opep e bem no meio de onde estas desestabilizações estão ocorrendo."
A Threadneedle, que tem US$ 1,2 bilhão investido em commodities, está apostando que os preços do petróleo vão subir no médio prazo.
Mas, por enquanto, Donora disse que, devido ao mercado estar esperando um ataque muito limitado, ele ficaria surpreso se houvesse um aumento de mais de US$ 5 no preço do petróleo e que isso duraria pouco tempo.
"Tudo que estamos vendo, em termos do que os EUA podem fazer, não indica que sairíamos dessa faixa", acrescentou.
Outros duvidam que os investidores na verdade venderiam suas posições, provocando a queda dos preços, no caso de uma intervenção militar.
Sean Corrigan, estrategista-chefe de gestão de investimentos da Diapason Commodities, que administra US$ 6,5 bilhões, acredita que um ataque militar pode empurrar o preço do Brent para até US$ 125 ou US$ 130 o barril se o conflito fizer com que os rebeldes ataquem oleodutos no Iraque.
A Diapason não tem investimentos expostos ao preço do Brent.
"É uma lógica perversa — compra o rumor, vende o fato", disse ele. "Eu gostaria de ver se [os investidores] terão seus dedos posicionados no botão de venda quando o primeiro Tomahawk for disparado."
Fonte: The Wall Street Journal
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