Economista, Especialista em Economia e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Paraná e Graduando em Estatística, também, pela Universidade Federal do Paraná.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Dois cenários para o futuro dos EUA

No seu livro mais recente, "A Grande Degeneração", o historiador Niall Ferguson volta a falar sobre o declínio dos Estados Unidos de um modo alarmante.

Um estudo da consultoria Boston Consulting Group, porém, sugere um destino diferente. Ele ajuda a explicar, por exemplo, porque a Dow Chemical DOW -0.18% confirmou na semana passada que vai ampliar suas operações de manufatura nos EUA e porque empresas como Siemens, SIE.XE +0.09% Toyota e Michelin também estão expandindo a produção no país.

Mas, primeiro, o banho de água fria.

Ferguson, historiador econômico autor de vários best-sellers e que leciona na Universidade Harvard, há tempos tem alertado sobre a esclerose no Ocidente. Quando perguntei a ele há dois anos o que faria se comandasse uma empresa americana, ele respondeu: mudaria para Hong Kong.

No livro, ele vê uma decadência institucional na sociedade ocidental. Os EUA viraram o que Adam Smith chamava de "Estado estacionário", um país que era rico, mas que parou de crescer, onde uma elite rica explora leis e regulamentos em detrimento de empresas e indivíduos — e onde, também, o agravamento de desigualdades, principalmente de renda, pode levar à convulsão social.

"Nossas democracias têm quebrado o contrato entre as gerações ao acumular dívidas para nossos filhos e netos", adverte o livro. "Nossos mercados são emperrados por regulações muito complexas que debilitam os processos políticos e econômicos que foram criados para apoiar [...] Nós preguiçosamente esperamos que todos os nossos problemas sejam resolvidos pelo Estado."

Ferguson diz que não crescer pode ser uma sentença de morte. É "quando os impérios recuam, não quando avançam, que a violência atinge seu ponto máximo". Ele prevê que o "próximo pico de instabilidade" ocorrerá por volta de 2020.
Mas passemos a palavra, agora, para Hal Sirkin. Ele pode até não ser tão conhecido, mas suas observações definem uma trajetória diferente para os EUA com relação à perspectiva de crescimento. Sirkin, que analisa tendências econômicas no Boston Consulting Group, notou há alguns anos que o rápido crescimento salarial na China estava tornando o país menos barato. Sirkin e seus colegas previram o retorno da produção de alguns setores da China para os EUA, tendência que já começou a se materializar. Na semana passada, o grupo publicou seu mais recente relatório, que detalha como os custos declinantes da energia — resultado do boom do gás de xisto — estão dando aos EUA uma vantagem competitiva maior no mundo.

Segundo o Boston Consulting, por volta do fim da década, a manufatura dos EUA vai abocanhar anualmente entre US$ 70 bilhões e US$ 115 bilhões em exportações de outros países. Os perdedores serão, principalmente, a Europa e o Japão.

Acrescente a isso alguma manufatura que voltará da China para os EUA e o país pode ganhar até cinco milhões de novos postos de trabalho, inclusive no setor de serviços, estima o grupo. Ajustados pela produtividade, a média dos custos trabalhistas em 2015 nos EUA vai ser 18%, 34% e 35% menor que a de Japão, Alemanha e França, respectivamente.

Estaresmo diante de um EUA imbatível em custo?

Há mais de um ano, Joe Kaeser, hoje diretor-presidente da alemã Siemens, disse-me que a energia barata nos EUA já era um diferencial — a maior vantagem competitiva que os EUA tinham ganhado em décadas.

O preço do gás natural no atacado caiu pela metade nos EUA desde 2005, cortando o custo das matérias-primas e combustíveis. Comparativamente, o custo do gás é 2,6 vezes maior na Europa e 3,8 vezes no Japão.

Quando a Dow Chemical confirmou a sua expansão nos EUA na semana passada, ela de novo citou o gás de xisto como um fator crucial. A Dow fez uma lista de empresas que planejam apriveitar a energia barata ao expandir a produção nos EUA. O investimento total esperado atingiu US$ 110 bilhões e está crescendo, diz a empresa.

Isso soa como um impulso ao crescimento, um endosso à América — e não é bem o que Ferguson tem em mente.
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Essa visão é otimista demais? A Fundação da Tecnologia da Informação e da Inovação, um centro de estudos dos EUA, acha que sim. Na semana passada, ela criticou o relatório do BCG, dizendo que ele exagera a recuperação e ignora a necessidade de medidas políticas para recuperar a fabricação de produtos de alta tecnologia — perdida para as práticas "mercantilistas" de países como a China.

O BCG diz que ainda é cedo, que o crescimento na manufatura não vai embalar até 2015 e não vai estar a plena carga até mais ou menos 2020.

A premissa, porém é inegável: para os EUA, seria uma última grande regeneração.

Fonte: The Wall Street Journal

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