Economista, Especialista em Economia e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Paraná e Graduando em Estatística, também, pela Universidade Federal do Paraná.

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Yantin, uma cidade que ilustra como a China perdeu sua força

Não muito tempo atrás, essa cidade industrial no sudeste da China era um símbolo do imenso boom das exportações chinesas. Hoje, ela representa a dificuldade do país em manter o crescimento.

Salários baixos, acesso fácil aos mercados internacionais e uma liderança pró-empresas ajudaram a transformar Yantian de um pachorrento vilarejo rural nos anos 90 em um centro de manufatura com quase 150.000 habitantes. Em 1998, mais de 400 empresas estrangeiras já haviam se estabelecido lá, produzindo eletrônicos, brinquedos e relógios para exportação. Um campo de golfe e um hotel de luxo foram construídos para entreter executivos japoneses e de Hong Kong.
Agora, o número de firmas estrangeiras na cidade caiu para cerca de 150. O aumento do custo da mão de obra, a escassez de terras e a queda na demanda do consumidor ocidental afugentaram algumas empresas; outras se mudaram para lugares mais baratos. O número de trabalhadores migrantes, que antes inundavam Yantin, também diminuiu em quase 50%.

As várias condições desfavoráveis levaram as autoridades a buscar novas alternativas de crescimento, apostando em outras fontes de renda como arriscados investimentos imobiliários.

"O setor de exportação não tem muito futuro", diz Deng Zerong, o novo secretário do Partido Comunista em Yantian.

Os desafios de Yantian proporcionam uma visão microcósmica dos problemas que a China enfrenta hoje. Segundo a Agência Nacional de Estatísticas, o crescimento econômico do país, na comparação ano a ano, caiu de um pico de 14,8% no segundo trimestre de 2007 para 7,5% no segundo trimestre de 2013.

Durante décadas, o país mais populoso do mundo dependeu de uma fórmula simples para impulsionar o crescimento. Ele combinou uma grande oferta de mão de obra barata com pesados investimentos em novas fábricas e infraestrutura para liberar a energia econômica até então desperdiçada.
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O investimento estrangeiro fluiu para a China e o país se tornou o chão de fábrica do mundo. O crescimento anual atingiu uma média de 10% nos anos 80, 90 e 2000, informa a agência de estatísticas. Mas hoje muito do combustível que alimentou o velho modelo chinês parece esgotado.

A reserva de mão de obra barata — que manteve as fábricas da China funcionando e freou a concorrência de outros países — está secando. Ao mesmo tempo, os investimentos em novos equipamentos e outros bens de capital não estão gerando tanto crescimento quanto antes.

Fatores demográficos são uma parte importante dessa mudança. A população em idade de trabalhar da China encolheu em 2012, em grande parte devido às políticas de controle da natalidade, brecando uma tendência ascendente que se prolongou durante o período de reformas econômicas dos últimos 30 anos. Entre 2010 e 2030, espera-se que a força de trabalho da China encolha em 67 milhões de trabalhadores, mais do que toda a população da França, segundo projeções da ONU.

Com menos trabalhadores disponíveis, os salários dispararam. Operários de fábricas tiveram aumentos de dois dígitos por três anos seguidos, segundo dados oficiais, o que levou empresas a migrar para locais mais baratos como Bangladesh e Vietnã. O crescimento das exportações também diminuiu, passando de uma média de 30% por ano entre 2003 e 2007 para 9,2% nos primeiros oito meses de 2013, segundo a Administração Geral das Alfândegas.

O acúmulo de problemas não ficou imediatamente evidente. Em grande medida, eles foram mascarados após a crise financeira mundial à medida que a China despejava trilhões de dólares de crédito na economia. Essa injeção de recursos manteve o ritmo de crescimento com grandes obras de ferrovias, estradas e outros projetos de infraestrutura.

A economia da China vem mostrando novos sinais de resistência recentemente, em parte porque uma nova leva de crédito no início deste ano deu impulso aos principais indicadores.

Mas poucos acreditam que a economia chinesa vai poder voltar aos níveis de crescimento de outrora. Muitos preveem que, sem grandes reformas, o país terá dificuldades para manter sua trajetória atual. Embora a China continue sendo o maior exportador do mundo, ela vem perdendo influência, reduzindo as chances de que possa voltar ao crescimento superveloz liderado pelas exportações de antes. O aumento dos níveis de endividamento complica ainda mais o quadro.

Uma reunião importante da elite do Partido Comunista da China marcada para novembro está sendo anunciada pelo governo como uma tentativa de colocar a economia numa trajetória mais sustentável. O desafio está nas mãos do novo Secretário Geral do partido, Xi Jinping.

Especialmente urgente, dizem os economistas, é a necessidade de rever o regime que vincula o acesso aos serviços sociais para 260 milhões de trabalhadores migrantes da China à região onde nasceram. As regras atuais os obrigam a voltar para casa para obter tratamento médico gratuito, educação e outros serviços.

A falta de apoio aos trabalhadores migrantes teve um efeito dominó na economia. Muitos deles deixam de gastar para poder pagar por serviços básicos não cobertos pelo Estado. O consumo interno na China se mantém em 36% do produto interno bruto, de acordo com a agência de estatísticas. Isso se compara com 70% nos EUA. O resultado é que a China precisa contar com as exportações e o investimento liderado pelo governo para crescer.

Yantian ilustra muitas das vantagens do modelo anterior de crescimento da China, bem como as incertezas recentes quanto à sua durabilidade.

A cidade está abarrotada de fábricas. Quando a China começou a abrir-se para o mundo, na década de 80, Yantian foi preparada para decolar. A localização estratégica, a uma hora de Hong Kong e Shenzhen — onde foi instalada uma "zona econômica especial" como o primeiro passo da China na economia global —, criou as condições perfeitas para um boom de exportação.

"Foi como encontrar um veio de ouro bem na porta", diz Deng, o secretário do PC local.

Os perigos da dependência excessiva das exportações começaram a ficar claros logo no fim dos anos 90, quando a crise financeira asiática levou algumas empresas de Yantian à falência. A crise financeira de 2008 empurrou muitas outras para o vermelho. Mais de 200 pediram concordata ou se mudaram para outros locais de baixo custo, de acordo com pesquisa realizada por Hu Biliang, professor de economia da Universidade Normal de Pequim.

Para Deng, o futuro de Yantian não está na produção de bens de baixo valor para exportação porque "há muita gente fazendo a mesma coisa".

Como outros líderes locais que enfrentam a desaceleração das exportações, as autoridades de Yantian se voltaram para o mercado imobiliário para fortalecer a economia. A cidade também está entrando para os serviços financeiros, investindo em uma empresa de garantia de empréstimos e planejando uma pequena financiadora que poderia fornecer mais capital para empresários. Mas, dadas as preocupações generalizadas sobre o aumento dos níveis de endividamento da China, esse poderia ser um momento arriscado para ingressar no negócio de crédito.

Economistas dizem que para um crescimento mais sustentável em Yantian, e em outras partes da China, será preciso tornar a cidade mais hospitaleira a operários migrantes para que eles fiquem em vez de voltar para casa. Isso aumentaria a demanda por bens e serviços e tornaria mais fácil para fábricas sofisticadas e outras empresas estabelecer raízes.

Fonte: The Wall Street Journal

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