Janet Yellen, a principal candidata a assumir o comando do Federal Reserve, provavelmente traria um estilo de liderança mais rígido e exigente para o banco central americano, em contraste com o perfil mais sutil discreto do atual presidente, Ben Bernanke.
Yellen, que hoje é a vice-presidente da instituição, goza de grande respeito entre muitos integrantes do banco, mas já teve desavenças que deixaram certos ressentimentos, segundo entrevistas com mais de dez funcionários e autoridades atuais e antigos do banco que trabalharam diretamente com ela nos últimos anos.
A maioria concorda que Yellen — que galgou a hierarquia do Fed desde pesquisadora para diretora e presidente de uma regional, entre períodos fora do banco — é rigorosa e muito preocupada com os detalhes.
Nas reuniões de política monetária, Yellen se mostra cordial, respeitosa, séria e meticulosamente preparada. Ela tomou posições fortes em favor das medidas de relaxamento monetário do banco, que às vezes a colocaram em conflito com os opositores das medidas, segundo autoridades que participaram de reuniões com ela.
Quando Lawrence Summers, o ex-secretário do Tesouro americano, era considerado o favorito para a presidência do Fed, o seu estilo às vezes combativo chamou bastante a atenção. Já Yellen é geralmente descrita como mais moderada e mais apta a gerar um consenso. Agora que membros do governo declararam que ela é a favorita para a sucessão de Bernanke, sua liderança e estilo de gestão estão sendo examinados mais de perto. O presidente Barack Obama deve nomear seu candidato nas próximas semanas.
Pessoas familiarizadas com Yellen têm opiniões divergentes sobre seu estilo e eficácia. Muitos altos funcionários do Fed — inclusive aqueles que se opuseram a ela em questões de política monetária — dizem que seria fácil trabalhar com Yellen se ela for nomeada presidente.
"Ela escuta os dois lados do debate", disse Jeffrey Lacker, presidente da regional do Fed de Richmond que é favorável ao encerramento do programa de compra de títulos de US$ 85 bilhões por mês que o Fed criou para estimular a economia e que Yellen defende com veemência.
Outros que já trabalharam com ela discordam.
"O estilo conflituoso e intimidador de Yellen" não é adequado para o ambiente de trabalho moderno, disse Dick Anderson, que foi diretor de operações do Fed por um período curto até dezembro de 2012, e entrou em confronto com ela sobre um plano que ele propôs para cortar despesas das regionais do banco. Anderson disse que Yellen foi resistente ao plano. O estilo dela, disse ele, contrasta substancialmente com o de Bernanke e não seria bom para o Fed.
Um porta-voz do Fed não quis comentar esse assunto.
Um estilo mais rígido poderia em certas ocasiões levar o Fed a ações mais decisivas, mas poderia também aumentar os atritos numa instituição já dividida.
O processo de tomada de decisões sobre as taxas básicas de juros às vezes tem sido difícil de controlar para Bernanke. Os 12 presidentes regionais muitas vezes têm visões bastante divergentes que não escondem; os outros seis membros do conselho do Fed são mais discretos em público, mas suas fortes opiniões privadas podem ter uma grande influência sobre as decisões. Muitas vezes, Bernanke teve de trabalhar pacientemente nos bastidores para forjar acordos políticos.
Yellen apoiou as políticas de juros baixos do Fed para estimular o crescimento econômico e diminuir o desemprego, mas algumas outras autoridades duvidam que as medidas funcionem e receiam que elas terão consequências negativas. As divergências giram em torno da decisão de quando começar a reduzir o programa de compra de títulos de dívida.
Se ela se tornar a presidente, Yellen teria o desafio de equilibrar a necessidade de manter a divisão de poder no Fed contra seus próprios impulsos de fazer a instituição seguir suas convicções. No processo, tanto pessoas de dentro quanto de fora do banco estariam observando qualquer tentativa dela de impor mais disciplina aos outros 18 formuladores de política.
"Falar com menos vozes é bastante desejável", disse Alan Blinder, professor da Universidade de Princeton e ex-vice –presidente do Fed. "Mas será que é possível? Não tenho tanta certeza. Mas Janet Yellen, que vem observando o Fed de todos os melhores ângulos, é provavelmente a mais capacitada para isso."
Yellen tem sido uma figura polarizadora entre alguns altos funcionários do Fed em Washington, onde um exército de mais de 300 economistas se dedica a examinar os sistemas do banco, analisar a economia e formular políticas. Alguns funcionários a descrevem como a melhor chefe que já tiveram. Vários outros, no entanto, mencionam a impaciência dela, principalmente no importante grupo de política monetária, que faz a maior parte do trabalho de base na formulação das decisões quanto às taxas de juros antes das reuniões de política monetária.
Fonte: The Wall Street Journal
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