O governo chinês anunciou que vai transformar uma nova zona de livre comércio nesta cidade num laboratório para reformar o setor financeiro do país. Mas mudanças de grande porte, se é que virão, ainda podem levar anos, até que os reguladores decidam quanto controle ceder às forças do mercado.
O projeto, que foi inaugurado oficialmente ontem e entra em operação amanhã, vem sendo muito promovido pelo primeiro-ministro Li Keqiang como símbolo do compromisso da China com as mudanças econômicas.
Antes do fim da semana, o Conselho de Estado, principal órgão governamental de formulação de políticas, divulgou as regras que governarão a Zona Piloto de Livre Comércio da China, um conglomerado de quase 29 quilômetros quadrados de docas, hangares e armazéns no distrito de Pudong, em Xangai.
Reformular o setor financeiro para que as pessoas possam obter melhores rendimentos nos bancos e investir no exterior, e para que as firmas chinesas menores, sobretudo de serviços e alta tecnologia, tenham mais acesso ao crédito, é considerado crucial para manter o robusto crescimento do país.
Os reguladores também pretendem promover o desenvolvimento de um mercado de negociação de futuros de petróleo, atualmente inexistente na China.
Mudanças no setor financeiro estão no cerne do experimento da zona livre: deixar que o mercado, e não os reguladores, defina as taxas de juros, e permitir que as empresas possam converter mais livremente os yuans em moeda estrangeira e transferir o dinheiro para o exterior.
O governo se comprometeu a abrir outros setores, como transporte marítimo, comércio e os serviços especializados, incluindo jurídicos, de turismo e de colocação de executivos.
A zona livre pode, assim, gerar uma grande transformação da China — ou uma grande decepção.
Os céticos dizem que testar essas mudanças a nível local só serve para retardar o processo, tornando menos provável que possam ser implementadas a nível nacional em tempo hábil — antes que a economia entre em apuros.
"Reformar é algo mais fácil de dizer do que de fazer", disse Wang Tao, economista do banco UBS UBSN.VX -1.44% . "Qual é o político, por mais forte que seja o mandato que receba, capaz de realmente implementar reformas sérias [rapidamente]?"
A zona de livre comércio vai entrar em operação cerca de um mês antes de uma assembleia do Partido Comunista que deve apresentar uma estratégia para mudar a economia chinesa, para que esta dependa mais da demanda interna e da inovação e menos das exportações e do investimento em infraestrutura.
Mas nas regras divulgadas sexta-feira as autoridades indicaram que vão avançar com cautela.
As experiências financeiras vão prosseguir "à medida que as condições permitirem", disse o comunicado do Conselho de Estado, e "os riscos serão controlados". As regras serão aplicadas durante um período de três anos, segundo o comunicado, sem mencionar prioridades.
Executivos de alguns dos maiores bancos chineses disseram que o fato de as diretrizes serem vagas sugere que os próprios reguladores ainda não decidiram como proceder nem até que ponto estão dispostos a abrir mão do poder.
Alguns potenciais investidores na zona livre supõem que as autoridades levarão de cinco a sete anos para chegar a uma conclusão.
Ilustrando a falta de clareza, algumas publicações estrangeiras informaram na semana passada que a zona de Xangai, ou outra zona da província de Shenzhen, chamada Qianhai, teriam acesso mais livre à internet. O comunicado do Conselho de Estado não abordou esse ponto, mas fixou um plano para permitir que empresas estrangeiras sediadas na área ofereçam alguns serviços de internet no país.
As empresas estrangeiras que operarem dentro da nova zona livre também poderão vender consoles de videogame, proibidos há mais de dez anos, em toda a China, dependendo da aprovação de cada modelo pelo Ministério da Cultura.
Quanto à Zona Econômica de Qianhai, em Shenzhen, um porta-voz, Wang Jinhai, disse que as mudanças no acesso à internet podem vir daqui a cinco ou seis anos para atender "às necessidades das modernas comunicações financeiras internacionais".
Até agora, a única coisa que mudou na zona de livre comércio de Xangai são os sinais de trânsito anunciando o novo nome da área. Mesmo assim, as ações de empresas que fazem negócios na área subiram.
Os maiores bancos da China e também dois bancos estrangeiros, Citicorp e o Banco de Desenvolvimento de Cingapura, já receberam aprovação para abrir filiais na zona livre, disseram executivos na inauguração de ontem, durante uma entrevista coletiva.
Para algumas empresas com grandes operações em Xangai, abrir uma filial na zona de livre comércio pode exigir apenas um investimento pequeno. As firmas estrangeiras esperam que o relaxamento das normas possa aumentar suas operações cambiais e lhes dar uma fatia maior do mercado doméstico de títulos de dívida.
Para os bancos chineses, disse um executivo, a zona será uma oportunidade de se expandir no exterior e experimentar taxas de remuneração de depósitos definidas pelo mercado, em vez das ditadas pelo banco central, o que pode gerar mais concorrência.
Fonte: The Wall Street Journal
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