Os conservadores de Angela Merkel conseguiram uma vitória retumbante na eleição alemã de domingo, apesar do crescimento de um partido antieuro que ajudou a excluir do Parlamento o parceiro minoritário da coalizão governista.
A chanceler ganhou um terceiro mandato como líder da maior economia da Europa. Mas a ex-física de 59 anos de idade vai precisar de um novo parceiro com tendências de esquerda na coalizão, depois que o partido dela, a União Democrata Cristã (CDU) por pouco não conseguiu a maioria absoluta no Bundestag, a câmara baixa do Parlamento alemão.
A chamada grande coalizão com o Partido Social Democrata (SPD), de centro-esquerda, que conseguiu um distante segundo lugar na eleição de domingo, parece ser a opção mais provável de Merkel. Essa união enviaria um forte sinal para o resto da Europa de que a Alemanha continua totalmente comprometida com o euro, apesar do resultado melhor que o esperado do novo partido Alternativa para a Alemanha, o AfD, que quer separar o país da moeda comum.
Tal como os democratas-cristãos de Merkel, os sociais-democratas são grandes defensores da integração europeia e têm uma política semelhante à de Merkel acerca da crise da zona do euro, embora o partido tenha atacado a chanceler por impor exigências excessivas de austeridade aos países do sul da Europa em troca de ajuda financeira.
A força surpreendente do Alternativa para a Alemanha foi uma advertência para os políticos majoritários do país quanto à frustração de alguns eleitores com o resgate de países endividados, como a Grécia. O novo partido, conhecido por sua sigla em alemão AfD, roubou votos cruciais do aliado da coalizão de Merkel, o Partido Democrata Livre (FDP), que tem uma inclinação pró-empresas e foi excluído do Bundestag pela primeira vez no pós-guerra.
A CDU e seu partido coligado da Baviera ganharam quase 42% dos votos nacionais, segundo os resultados preliminares divulgados ontem. O melhor resultado do partido em 20 anos foi visto como uma recompensa pela alta popularidade pessoal de Merkel, bem como pela estabilidade econômica e o baixo desemprego no país.
"É um resultado maravilhoso", disse Merkel aos seus eleitores. "Vamos tratar essa confiança com muito cuidado."
Na câmara baixa do parlamento, que tem 630 assentos, os partidos de Merkel ficaram cinco abaixo do necessário para obter a maioria absoluta. A coalizão da CDU com a CSU (União União Social Cristã) conquistou 311 assentos, o SPD, 192 assentos, o Partido de Esquerda, 64 assentos e os Verdes, 63, segundo resultados preliminares.
O forte apoio à CDU também foi uma endosso à maneira como Merkel vem lidando com a crise da dívida da zona do euro desde 2009. Embora sua ênfase na disciplina fiscal e nas reformas favoráveis ao mercado tenha dividido as opiniões de muitos na Europa, ganhou o apoio generalizado dos alemães em todo o espectro político.
"Temos um consenso amplo fundamental sobre a política para a Europa", disse o veterano ministro das Finanças de Merkel, Wolfgang Schäuble, domingo à noite no canal de TV estatal. "Vamos continuar a desempenhar nosso papel como uma âncora de estabilidade para manter a Europa unida."
As esperanças de muitos na Europa de que a Alemanha pudesse adotar uma atitude mais generosa para com a crise financeira e econômica da zona do euro — mesmo se houver uma grande coalizão — provavelmente não vão se realizar. Hoje, todas as partes tendem a ser cautelosas quanto a medidas anticrise que possam alimentar a ascensão do AfD e permitir que esse partido rebelde se estabeleça firmemente no cenário político do país.
Embora o apoio alemão para o euro seja certo, uma grande coalizão poderia retardar ainda mais os planos para uma "união bancária", que exigiria que os governos da zona do euro unissem suas forças financeiras para formar uma rede de segurança para os bancos da região — um projeto já visto com ceticismo tanto pelo partido de Merkel como pelos social-democratas.
E os políticos alemães têm agora ainda menos probabilidade de perdoar parte dos empréstimos do resgate da Grécia — embora muitos economistas digam que a Grécia tem mais dívidas do que pode pagar.
O eurocético AfD, assim como o FDP, que apoia o governo, por pouco não conseguiu 5% dos votos, o necessário para entrar no parlamento. Mas o surgimento do AfD pode influenciar o tom da política alemã, fazendo os políticos tradicionais hesitarem ainda mais em oferecer mais ajuda para países da zona do euro em dificuldades.
Essa influência já era evidente no domingo à noite, quando Schäuble debateu com o líder do AfD, Bernd Lucke, num programa de televisão. Schäuble disse que era fácil para os "demagogos" deixarem os eleitores alemães revoltados quanto a pagar as dívidas dos outros.
"É um pouco mais responsável dizer: 'O que está em jogo é se esta moeda europeia se dissolver?", disse Schäuble.
Lucke, porém, disse aos seus partidários que o AfD vai procurar aproveitar o impulso de domingo nas eleições estaduais da Alemanha e também nas eleições para o parlamento europeu do próximo ano.
O provável terceiro mandato de Merkel vem cimentar seu lugar na história entre os líderes mais influentes e com mais anos de serviço na Europa do pós-guerra.
Mas em questões espinhosas, como a dívida grega, nuances importantes da política de Merkel para a zona do euro vão depender da composição do seu próximo governo.
Nos próximos dias, a CDU deve sondar os partidos de centro-esquerda sobre um possível governo de coalizão. As duas opções dos conservadores são os social-democratas e os verdes.
Uma composição com o SPD, que ganhou cerca de 26% dos votos, significaria um retorno à grande coalizão bipartidária do primeiro mandato de Merkel, de 2005 a 2009.
O SPD pode pressionar para ganhar o poderoso ministério da Fazenda como condição para aderir a um governo liderado por Merkel. Mas Schäuble já disse que está bastante disposto a conservar o cargo que fez dele o político mais poderoso da Alemanha, depois da chanceler. Muitos no SPD querem aumentar os impostos dos alemães mais ricos, o que poderia levar a difíceis barganhas com a CDU nas negociações de coalizão.
Outro possível parceiro de Merkel, o Partido Verde, é o mais pró-europeu da Alemanha, e o mai aberto a colocar a potência financeira da Alemanha à disposição da Europa. Mas uma coalizão entre o CDU e os verdes, embora possível, é considerada difícil de alcançar devido às divergências sobre os impostos.
Fonte: The Wall Street Journal
Nenhum comentário:
Postar um comentário