As autoridades do Federal Reserve, o banco central americano, terão pela frente pelo menos três fontes de incerteza durante a reunião de política monetária do banco, hoje e amanhã: o aumento dos juros nos Estados Unidos, as agitações no s mercados internacionais e outra batalha orçamentária no Congresso. Todas as três poderiam prejudicar a economia americana nos próximos meses. E o Fed pode influenciar diretamente apenas uma delas.
A avaliação que o Fed fizer dessas ameaças vai moldar a decisão sobre reduzir o programa de compra de US$ 85 bilhões por mês em títulos de dívida, que vem sustentando mercados e setores importantes da economia. Nesse caso, a visão do Fed torna-se especialmente significativa já que a recuperação da economia novamente deixou de cumprir as próprias projeções do banco.
"É uma decisão muito difícil", diz Julia Coronado, economista do BNP Paribas BNP.FR -0.55% . "Eles previram uma aceleração do crescimento. Isso não está acontecendo."
Quanto aos juros, um fator parcialmente sob o controle do Fed, esses primeiros sinais de alta poderiam deixar as autoridades do banco mais cautelosas.
As indicações do banco de que reduziria o programa de compra de títulos provocou alta nos juros. O rendimento das notas de dez anos do Tesouro está agora em torno de 3% ao ano, comparado com menos de 2% em maio.
As compras de títulos de dívida, concebidas para estimular o investimento e o emprego, ajudaram o mercado imobiliário a se recuperar ao empurrar os juros das hipotecas para mínimos recorde. A perspectiva de um recuo do Fed levou a uma reversão dessas taxas, prejudicando pelo menos temporariamente a recuperação.
Fora os imóveis, ainda há poucos sinais de danos causados por juros mais altos. As vendas de automóveis estão disparando. As grandes empresas já aproveitaram os juros baixos e muitas estão com os cofres cheios de dinheiro. Mas o salto repentino poderia frear outros setores, incluindo pequenas empresas, que poderiam repensar seus investimentos diante da alta nos custos de financiamento.
"Há sempre um impacto gradativo dos juros altos na economia real", disse Coronado, que também já foi economista do Fed. "Essas decisões [de investimento] não são tomadas do dia para a noite. Boa parte do impacto provavelmente ainda está por vir."
Juros altos não são necessariamente ruins. Muitos no Fed veem a alta recente como consequência de os investidores estarem desfazendo apostas irrealistas numa eterna compra de títulos. Conter essa expectativa é crucial para uma recuperação sustentável.
Como essa recuperação vai prosseguir, porém, pode depender de fatores externos.
Até uma semana atrás, o possível ataque dos EUA à Síria representava outra ameaça externa, além dos problemas que as economias emergentes enfrentam.
O acordo do fim de semana entre EUA e Rússia para uma solução diplomática na Síria reduziu as chances de uma intervenção militar imediata. Mas a tensão contínua na região vai provavelmente manter os preços do petróleo elevados, criando outro empecilho para a economia.
Mas, mesmo que o risco de uma guerra tenha se dissipado, os riscos políticos dentro dos EUA persistem. Pelo terceiro ano consecutivo, as batalhas entre o Congresso e o governo sobre o orçamento ameaçam a economia.
A liderança do partido de oposição, o Republicano, na Câmara não conseguiu angariar apoio para evitar uma paralisação do governo em 1o de outubro ao adiar decisões importantes até dezembro. Isso sugere mais dramas à vista para elevar o limite de endividamento do governo e evitar uma devastadora moratória em meados de novembro.
A negociação do limite de endividamento em 2011 provocou o rebaixamento da nota de crédito do país, alimentou uma correção drástica no mercado de ações e abalou a confiança de empresas e consumidores.
Embora um aumento no teto da dívida ainda seja provável, "ainda há espaço para um tumulto considerável", diz David Stockton, um ex-economista do Fed que hoje está no Instituto Peterson para Economia Internacional. "Espero que [os parlamentares] entendam que podem acabar causando muitos danos mesmo que evitem uma moratória."
Se as batalhas do orçamento se prolongarem até o fim do ano, o governo não deve conseguir fazer muito para ajudar a economia antes das eleições parlamentares de 2014. O resultado: nada de acordo de longo prazo sobre o orçamento, nada de grandes mudanças nas leis de imigração e nada de novos investimentos em infraestrutura. Esses são todos os tipos de reformas que os EUA vivem exortando outros países a implementar a fim de impulsionar o crescimento econômico.
Sem nenhuma ajuda do Congresso, o Fed ficaria novamente na difícil posição de tentar reviver uma cambaleante economia enquanto forças fora do seu controle atuam na direção oposta.
Fonte: The Wall Street Journal
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