Um café da rede Starbucks SBUX +1.20% custa US$ 1 mais caro na China do que nos Estados Unidos. Já um carro Cadillac Escalade Hybrid Base 6.0 é vendido por US$ 229.000 no país asiático, enquanto nos EUA ele sai por pouco mais que US$ 73.000.
Bem-vindo ao varejo moderno da China, onde os preços de muitos produtos são bem mais altos que em vários outros países, uma disparidade que é ainda mais notável diante da diferença de renda.
Roupas e acessórios são em média 70% mais caros no varejo da China do que no dos EUA, segundo dados da consultoria SmithStreet, sediada em Xangai, que comparou os preços de 500 itens de 50 marcas nos dois países.
Impostos do governo e tarifas de importação são responsáveis por grande parte da diferença nos preços, mas durante anos a crescente classe média chinesa também pareceu disposta a pagar mais por produtos diferenciados, principalmente importados. E as empresas ficavam satisfeitas em cobrar o que o mercado se dispunha a pagar, achando até que preços mais altos podiam ajudar a criar uma aura de qualidade e ter um efeito psicológico sobre os consumidores. Em muitos casos, quando um fabricante estrangeiro cobrava mais, os produtores chineses também aumentavam seus preços.
Mas hoje cada vez mais consumidores chineses estão mudando de atitude, preocupados com os preços altos — e encorajados pela possibilidade de comparar preços com os de outros países, na internet e em viagens ao exterior.
O comportamento de consumidores insatisfeitos como Guan Honglei, que tem 30 anos, trabalha no setor financeiro e faz compras somente em websites estrangeiros e em Hong Kong, traz consequências para varejistas que investiram na construção de mais lojas na China continental.
"Não vale mais a pena comprar na China", disse Guan. "Se eu puder esperar, compro em outro lugar."
Com cada vez mais chineses comprando on-line e viajando, os consumidores estão comparando preços de outros países com os que eles veem nas lojas da China e esperando para comprar durante as viagens, disse James Button, gerente da SmithStreet. Neste ano, os consumidores chineses ganharam as manchetes ao esvaziarem as prateleiras de comida para bebês em supermercados do Reino Unido e de Hong Kong, onde o produto não só é mais barato que na China continental, mas também visto como mais seguro.
Num momento em que a China tenta tornar sua economia mais dependente do consumo, os reguladores começaram a punir empresas que eles acreditam tenham injustamente aumentado os preços no mercado.
As autoridades multaram recentemente cinco joalherias locais em um valor total de 10,6 milhões de yuans por suposta fixação de preços. E em agosto elas abriram investigações nos setores automotivo, farmacêutico e de alimentos infantis, procurando por preços que eram mais altos na China que em outros lugares.
Elas multaram fabricantes estrangeiros de alimentos infantis como a Danone SA BN.FR +2.03% e a Mead Johnson Nutrition Co., MJN +0.63% alegando violação das leis de concorrência.
As fabricantes de alimentos infantis responderam ao escrutínio baixando os preços dos seus produtos no país.
As investigações nos setores farmacêuticos e automotivo ainda estão em andamento.
O governo chinês está tentando garantir que as margens de lucro das empresas não sejam financiadas pelas pessoas, disse Rocky Lee, chefe da área corporativa para a Ásia do escritório de advocacia Cadwalader Wickersham & Taft, em Pequim.
Já no setor de artigos de luxo, porém, as autoridades mostram poucos escrúpulos quanto a preços altos, taxando pesadamente produtos como o Escalade, cujo imposto chega a 386.000 yuans (US$ 63.000). O modelo não é vendido no Brasil.
A montadora americana General Motors Co. GM +0.90% afirmou que o carro responde por uma pequena parte dos seus negócios na China. Um Buick Encore fabricado no país custa US$ 24.477 lá, comparado com US$ 24.160 nos EUA, disse uma porta-voz.
Muitas empresas lucraram alto durante anos na China com consumidores em busca de produtos de luxo e símbolos de status, disse Yuval Atsmon, um gerente sênior da consultoria McKinsey & Co.
Especialistas dizem que os preços frequentemente refletem as ineficiências que as empresas enfrentam no mercado chinês. "Pode levar meses e meses — entre passar em testes e obter licenças — para abrir uma loja de varejo na China. As licenças e o custo da burocracia, tudo isso é repassado ao consumidor", disse Lee.
Marcas como Starbucks e Häagen-Dazs estabeleceram preços mais altos na China para passar uma imagem de qualidade e superioridade, disse Atsmon.
Um sorvete de uma bola custa US$ 5,40 numa sorveteria da Häagen-Dazs em Pequim. Em Washington, o mesmo sorvete sai por US$ 4,68, incluindo impostos. No Brasil, sai por R$ 9,90, ou cerca de US$ 4,30.
Uma porta-voz da Starbucks Corp. disse que os preços variam de acordo com o mercado e que, na China, os consumidores gostam de lojas mais amplas e com mais lugares para sentar, o que gera custos imobiliários maiores que são transferidos para os preços. Nos EUA, o Caffé Latte de tamanho médio custa US$ 3,95, enquanto no Brasil a versão média custa cerca de US$ 3,65.
Uma porta-voz da General Mills Inc. GIS -0.26% disse que a empresa não pode comentar sobre a comparação entre os preços da Häagen-Dazs na China e nos EUA porque a General Mills só comercializa a marca de sorvete na China. Nos EUA, a marca é licenciada pela Nestlé NESN.VX +0.82% SA.
Nem todos os produtos são mais caros na China que em outros países. No altamente competitivo mercado de bebidas, onde vendas em volume e participação de mercado são prioridade, uma lata de Coca-Cola KO +0.44% numa loja de conveniência local custa cerca de 2,8 yuans, ou US$ 0,46, enquanto nos EUA ela é vendida por mais de US$ 1.
Fonte: The Wall Street Journal
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