Inflação declinante, atividade crescente e real não tão desvalorizado levam o mercado a prever números mais promissores para 2013
As projeções para a economia neste fim de 2013 mostram que, na linha do clamor do governo, economistas e analistas do mercado financeiro começam a ver o "copo mais cheio" do que nos últimos meses. Pela terceira semana consecutiva, o Boletim Focus do Banco Central, que reúne estimativas das 100 principais instituições financeiras brasileiras, aponta melhora nas expectativas para este ano.
Embora o cenário permaneça nebuloso para 2014, especialistas classificam setembro como um mês particularmente mais promissor do que o indicado no início de semestre, marcado pelas manifestações nas ruas e incertezas políticas.
O relatório divulgado ontem mostra que foram reduzidas as projeções de inflação e de desvalorização do real em comparação ao dólar para o fechamento deste ano, comparado à semana anterior - quando já havia melhorado a expectativa para o Produto Interno Bruto (PIB).
Apesar das projeções de taxas serem mais elevadas do que as de um mês atrás, o Focus da última semana traz o princípio de uma desaceleração da inflação e melhora do câmbio, além de uma perspectiva mais elevada de crescimento da atividade.
"Estamos vendo o fim de uma onda de pessimismo que foi inaugurada no início do ano por uma série de fatores, como o PIB ruim do primeiro trimestre, o aumento da taxa de juros, a mudança de perspectiva de risco pela Standard & Poors, a inflação acima da meta e as mais fortes manifestações de rua já vistas neste país", avalia o economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito.
É consenso que a virada começou com a divulgação do PIB do segundo trimestre, no dia 30 de agosto, que surpreendeu o mercado ao apontar um crescimento de 1,5%, ante expectativa na casa de 1%. E teve seu ápice na semana passada, com a decisão do Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, de manutenção dos estímulos à economia, contendo o fluxo de saída de dólares.
"A inflação, que estava muito puxada por alimentos, deu um alívio. E o câmbio teve um repique, mas parece ter se estabilizado em um patamar que é considerado bom para muitos", comenta o professor do Instituto de Economia da UFRJ João Sabóia.
Os preços dos alimentos subiram menos do que o esperado, ressalta Rafael Coutinho Costa Lima, economista da Faculdade de Economia da USP e coordenador do IPC-Fipe, indicador de inflação na capital paulista. A perspectiva de que os alimentos continuariam a corroer a capacidade de compra da população não se concretizou, diz ele. Porém, ainda há riscos de influência nos preços vindo da carne bovina e do trigo, cuja produção na Argentina foi prejudicada pelo clima. "Ao mesmo tempo, no fim do ano passado, houve uma forte pressão dos alimentos. Ninguém acredita que irá subir tanto neste ano. Isso deve levar a uma descompressão da taxa anualizada nos próximos meses", ressalta.
Já o real, que, pela projeção do mercado, iria desvalorizar cerca de 20%, caiu, em média, 10%, destaca o economista, que enxerga, no entanto, influências futuras do câmbio sobre preços ao consumidor de alguns produtos, como de eletroeletrônicos. "Há ainda a perspectiva de reajuste de preços administrados, como o da gasolina", afirma o economista da Opus Gestão de Recursos e professor da Faculdade de Economia da PUC-Rio, José Márcio Camargo.
O Itaú BBA vê o câmbio como um fator positivo para a economia neste momento, sobretudo, para a balança comercial. A expectativa é de alta do dólar, para R$ 2,45 no fechamento do ano. "O câmbio abaixo de R$ 2 não era equilibrado", afirma a economista do banco Gabriela Fernandes. Mas, a sua avaliação, é que as notícias recentes vindas dos Estados Unidos geram flutuações de curtíssimo prazo, sem efeitos duradouros. Por isso, mantém a previsão de novas desvalorizações do real nos próximos meses, com o câmbio alcançando o patamar de R$ 2,45 no fechamento do ano.
Para o economista da Unicamp Fernando Nogueira Costa, projeções, como a do Focus, são pouco representativas da economia. "Não acredito em uma opinião média. Tendo mais a analisar comportamentos divergentes", diz. Em sua opinião, os fundamentos macroeconômicos permanecem sólidos e indicam o crescimento da atividade. "Se o mercado não está percebendo é porque está equivocado", complementa.
Fonte: Brasil Econômico
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