Diante do clima econômico instável e da perspectiva de uma batalha orçamentária no Congresso americano, o Federal Reserve decidiu manter o seu programa de afrouxamento monetário.
A decisão, anunciada ontem, depois do encerramento da reunião de política monetária do banco central americano, depois de ter passado meses alertando o público de que poderia começar a desacelerar seu programa de US$ 85 bilhões por mês de compra de ativos, marca a última de uma série de reviravoltas que agitaram os mercados nos últimos dias.
Entre as razões dadas pelo Fed está a de que a economia americana ainda não conseguiu corresponder às expectativas de crescimento do banco e a preocupação de que o salto nas taxas de juros de longo prazo observado nos últimos meses poderia comprometer uma recuperação que já é lenta.
"O que vamos fazer é a coisa mais acertada para a economia", disse o presidente do Fed, Ben Bernanke, numa coletiva de imprensa. O banco afirmou que decidiu "aguardar mais provas de que o avanço [econômico] será sustentado antes de ajustar o ritmo de compras".
O programa de compra de títulos de dívida é a principal resposta do Fed para uma recuperação lenta. Suas compras de títulos do Tesouro dos Estados Unidos e obrigações hipotecárias foram desenhadas para manter as taxas de juro de longo prazo baixas e elevar o valor de ativos, como ações, além do consumo, investimento e crescimento.
Entre as preocupações sobre o crescimento econômico, o Fed destacou em seu comunicado o aumento dos juros das hipotecas, que subiram mais de um ponto percentual desde maio, quando Bernanke fez a primeira menção a um possível recuo do programa de compra de títulos de dívida. O Fed também informou que a política fiscal do governo está "restringindo o crescimento econômico".
Embora muitos no mercado estivessem convencidos de que o Fed avançaria com uma pequena redução nas compras de títulos de dívida na reunião de setembro, muitos integrantes do Fed demonstraram ter dúvidas antes da reunião de dois dias.
"Não podemos deixar que a expectativa do mercado determine nossas ações políticas", disse Bernanke na coletiva com a imprensa. Ele disse que as autoridades do Fed vão continuar tentando melhorar a comunicação de suas intenções para a política monetária.
As autoridades do Fed reconheceram que a economia se fortaleceu e que o mercado de trabalho melhorou desde o lançamento da última rodada do programa de compra de títulos no ano passado, mas para eles isso não se mostrou suficiente. Quanto ao que vem depois, o Fed informou que sua decisão de quando reduzirá o estímulo continuará dependendo de a economia americana cumprir as expectativas de crescimento e de uma melhora do mercado de trabalho.
As autoridades do Fed também prometeram manter as taxas de juros de curto prazo próximas a zero, onde elas se mantém desde o fim de 2008. A maioria das autoridades do banco indicou em suas projeções econômicas mais recentes, também divulgadas ontem, que espera promover o primeiro aumento dos juros em 2015 ou ainda depois.
Dez das 17 autoridades da instituição disseram que esperam que a taxa de juros de referência do banco esteja em no máximo 2% ao ano no fim de 2016.
As previsões também destacam o complexo cenário econômico que Bernanke enfrenta. As autoridades do Fed, que têm ficado constantemente desapontadas com o crescimento econômico, reduziram suas estimativas de crescimento para este ano e o próximo, prevendo crescimento entre 2% e 2,3% em 2013 e entre 2,9% e 3,1% em 2014. Elas não consideram que o mercado de trabalho tenha mudado muito. Esperam que a taxa de desemprego continue caindo para entre 7,1% e 7,3% até o fim de 2014, o que representa uma pequena variação em relação às suas projeções de junho.
A decisão do Fed provocou uma alta das ações, títulos de dívida e commodities e derrubou o dólar. Tanto a Média Industrial Dow Jones como o índice S&P 500, dos EUA, fecharam com altas recordes. A Média Dow Jones subiu 0,9%, para15.677 pontos, enquanto o S&P 500 avançou 1,2%, para 20,76 pontos. O Ibovespa seguiu a tendência e fechou em alta de 2,64%, com 55.702 pontos. O real ganhou força em relação ao dólar. A moeda americana caiu 3% e fechou em R$ 2,19.
Muitos investidores observam que a decisão do Fed apenas adia o inevitável recuo pelo banco central. A próxima reunião de política monetária do Fed está agendada para o fim de outubro, e presidente, Ben Bernanke, disse ontem que uma redução do estímulo poderia ocorrer ainda este ano.
Fonte: The Wall Street Journal
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