A estatal volta a focar suas atividades em exploração e produção em águas profundas nas Américas e na costa oeste da África
Com a venda de US$ 3,2 bilhões em ativos no exterior apenas este ano, a Petrobras está perto de concluir uma guinada estratégica em sua área internacional.
Depois de anos de expansão, impulsionados pela bonança dos altos preços do petróleo, o objetivo é voltar ao plano original de internacionalização, instituído no início dos anos 2000, com foco na exploração e produção de petróleo em águas profundas na América do Sul, costa oeste da África e Golfo do México. Por enquanto, ficam apenas as atividades de refino nos Estados Unidos e na Argentina, para as quais a empresa ainda não encontrou compradores.
A mudança de foco - após a abertura de frentes exploratória na Ásia e na Oceania e da compra de refino fora do Brasil - é motivada, segundo analistas, pelo esforço financeiro e material que será necessário para desenvolver as reservas do pré-sal.
Com dificuldades para recompor o caixa diante da defasagem dos preços dos combustíveis no Brasil, a empresa tem um orçamento de US$ 147,5 bilhões para seus projetos de exploração e produção no Brasil entre 2013 e 2017, sem contar os 30%, no mínimo, da área de Libra, que será leiloada pelo governo no final de outubro.
A venda de ativos faz parte do Programa de Desinvestimentos da Petrobras (Prodesin), que tem por objetivo adequar o portfólio de projetos à nova realidade da companhia. Este ano, foram anunciadas uma série de operações, que incluíram atividades no Brasil e no exterior - até agora, segundo cálculos do Goldman Sachs, foram vendidos quase US$ 4 bilhões em ativos. Aqui, a ideia é sair de negócios considerados não prioritários, como a geração de energia hidrelétrica. No exterior, diz uma fonte, é focar nas atividades em que o conhecimento adquirido com a exploração de petróleo em águas profundas no Brasil garanta vantagem competitiva.
Nesse sentido, a empresa colocou à venda as três refinarias que controla no exterior, na Argentina, nos Estados Unidos e no Japão, além de operações de transporte de petróleo e revenda de combustíveis. Na Colômbia, já foram vendidos dois oleodutos e blocos de exploração e produção em terra e em águas rasas - a Petrobras manteve atividades em águas profundas. Nos Estados Unidos, a companhia repassou participações em blocos exploratórios com potencial para gás natural e em águas rasas. Além de melhorar o portfólio, reduz as perspectivas de gastos futuros.Foi com essa motivação que vendeu 50% de suas operações africanas, que permanecem no foco, para o banco de investimentos BTG Pactual.
Analistas de bancos de investimentos dizem que a iniciativa prioriza a disciplina de capital da estatal e garante recursos para investimentos no Brasil, embora não seja suficiente para compensar as perdas com o represamento dos preços internos dos combustíveis. Na divulgação de seu balanço do segundo trimestre, a empresa admitiu que a falta de reajustes poderia colocar em risco seu limite de alavancagem (relação entre o endividamento e o patrimônio líquido), que está em 35%. Para os analistas do Bank of America, a venda de ativos na Colômbia, anunciada no último dia 13, foi um "pequeno passo", no sentido de melhorar o portfólio.
Além disso, a empresa vem encontrando dificuldades para se desfazer de alguns ativos. Em maio, anunciou a interrupção das negociações para a venda de unidades argentinas, diante de um impasse com relação ao valor da operação. Lá, a companhia tem a refinaria de Baía Blanca, uma rede de postos e áreas de exploração e produção de petróleo e gás. Dois meses antes, já havia comunicado a desistência da venda da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos. A companhia não detalhou os motivos, mas fontes dizem que a decisão também se deveu à falta de interessados em pagar o preço que considera justo.
"Tirando estes, faltam poucos ativos para vender", diz uma fonte próxima às negociações. Um deles é a refinaria de Okinawa, no Japão, comprada em 2008 com o objetivo de garantir uma instalação de estocagem para as cargas de petróleo e etanol vendidas ao sudeste asiático. A empresa não adianta quais ativos estão sendo negociados. O programa de desinvestimentos prevê a venda de US$ 9,9 bilhões em 2013.
A maior parte das operações internacionais vendidas foi adquirida na segunda metade dos anos 2000, quando a empresa acelerou seu processo de internacionalização, fincando presença em locais fora da área do foco de atuação, como a Turquia ou a Nova Zelândia, e expandido as operações internacionais para outras atividades, como refino e distribuição de combustíveis. O novo plano estratégico da companhia prevê investimentos de US$ 5,1 bilhões no exterior até 2017, mas de forma mais seletiva com relação às regiões e áreas de atuação.
Refinaria de Pasadena terá investimentos
Adquirida em 2006, a refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, é uma das principais fontes de dor de cabeça para a direção da estatal. Alvo de uma investigação no Tribunal de Contas da União (TCU) e foco de críticas da oposição, a unidade tem hoje valor de mercado bem inferior aos montantes já pagos pela companhia ao antigo proprietário, a belga Astra. Diante deste cenário, a empresa trabalha em uma nova estratégia para o ativo: investir para valorizá-lo.
A refinaria estava incluída nos planos de desinvestimento da Petrobras, mas não há interessados em pagar o preço pedido. A nova estratégia é retomar os planos de investimentos na unidade, à espera de que o cenário internacional apresente evolução. Com melhoria nas instalações, a expectativa é de ganho de valor do ativo. "Precisamos tratar a refinaria como um ativo que queremos ficar. Só assim conseguiremos atrair interessados", diz uma fonte próxima ao assunto.
Em 2006, a Petrobras comprou 50% da refinaria por US$ 360 milhões. No entanto, o projeto original de preparar a unidade para receber petróleo brasileiro foi frustrada por falta de acordo com os sócios. A discussão terminou em um tribunal de arbitragem e, em 2012, a estatal brasileira se dispôs a pagar US$ 820 milhões para comprar a fatia de sua sócia, encerrando o litígio. No final, foram pagos quase US$ 1,2 bilhão por uma refinaria com capacidade para
processar apenas 100 mil barris de petróleo por dia.
O TCU pretende divulgar ainda este ano o resultado da análise sobre a operação. O caso é tema também de análises na Câmara e no Senado. Em agosto, o presidente da Petrobras à época da aquisição, José Sérgio Gabrielli, compareceu a audiência no Congresso para prestar esclarecimentos sobre o caso e defendeu a compra da refinaria.
Fonte: Brasil Econômico
Nenhum comentário:
Postar um comentário