O setor industrial da China deu ontem sinais de crescimento mais forte, enquanto os fracos dados econômicos registrados por vários outros países asiáticos põem em evidência o impacto da recente venda massiva de ativos de mercados emergentes.
A saída de capital desses países, reflexo da expectativa dos investidores de que os juros nos Estados Unidos vão aumentar, tem golpeado economias como a da Índia e da Indonésia, altamente dependentes de investimentos estrangeiros.
A China tem se saído melhor, em grande parte, por causa das restrições aos fluxos de capital que têm protegido o yuan. "Não há dúvida alguma de que há uma dicotomia" nos dados entre a China e as outras economias da Ásia, diz Vishnu Varathan, economista do banco Mizuho Corporate.
O índice de gerentes de compras do banco britânico HSBC, HSBA.LN +0.68% divulgado ontem, fechou agosto com 50,1 pontos, comparado com 47,7 em julho, novamente acima do nível de 50 pontos que separa expansão de contração. O dado segue o anúncio feito pelo governo chinês no domingo de que seu índice oficial de gerentes de compras atingiu em agosto o nível mais alto de 16 meses, com 51 pontos.
Esses números, e uma série de dados que mostram um desempenho melhor do que o esperado da economia chinesa em julho, incluindo exportações, produção industrial e investimentos em ativos fixos, estão confundindo os que esperavam que o crescimento do país se abrandasse no segundo semestre.
O produto interno bruto da China cresceu a uma taxa anualizada de 7,6 % no primeiro semestre, o ritmo mais lento em anos, e alguns economistas estimam um desempenho ainda pior para o resto de 2013.
O índice HSBC de gerentes de compras mostrou uma melhora modesta nas mais diversas áreas, incluindo um acúmulo maior de encomendas e estoques mais baixos de produtos acabados, sinal de que as linhas de produção estão voltando a operar próximas da sua capacidade máxima. Os custos de insumos e matérias-primas subiram pela primeira vez desde fevereiro.
Mas o baixo volume de encomendas de exportação foi decepcionante, num momento em que parece que as economias da Europa e EUA podem finalmente estar se recuperando.
"O setor industrial da China tem visto uma recuperação", informou a Capital Economics, empresa de pesquisa de macroeconomia. "No entanto, a recuperação ainda parece ser alimentada pelo crédito e por investimentos, o que suscita dúvidas sobre quanto tempo ela vai durar."
Já os dados do resto da Ásia foram fracos. A Indonésia registrou seu maior déficit comercial da história, ampliando o saldo negativo de US$ 847 milhões em junho para US$ 2,31 bilhões em julho, valor muito superior à estimativa dos economistas, que era de US$ 350 milhões.
Os mercados emergentes com grandes déficits comerciais — como Indonésia, Índia, Turquia e Brasil — têm ficado mais expostos durante a onda de fortes vendas de ativos nos mercados emergentes, já que eles dependem de fluxos de capitais para a compra de ações e títulos com que financiam esses déficits.
A atividade industrial no Brasil caiu pelo segundo mês seguido em agosto, segundo o índice de gerentes de compras divulgado ontem pelo HSBC. O índice subiu para 49,4 no mês ante 48,5 em julho, alimentando a expectativa de que o desempenho da indústria possa afetar o crescimento do PIB no terceiro trimestre.
A economia da Indonésia também enfrenta ventos contrários. O crescimento econômico do país caiu abaixo de 6%, seu ritmo mais lento em três anos. A inflação continua a ser um problema devido à fraqueza da moeda, a rúpia, que este ano se desvalorizou 13% em relação ao dólar. Isso forçou o banco central do país a elevar os juros em 0,5 ponto percentual, para 7%.
Dados de inflação divulgados ontem revelaram que os preços em julho subiram 8,79% no ano e 1,12% desde junho, o ritmo mais rápido de crescimento em mais de quatro anos.
O índice de gerentes de compra do HSBC para a Índia caiu de 50,1 pontos em julho para 48,5 pontos em agosto, a primeira contração desde março de 2009. A Índia também enfrenta um enorme desequilíbrio comercial, desaceleração do crescimento e ameaça de alta da inflação, o que provocou uma grande desvalorização da sua moeda, a rúpia.
O economista do HSBC Leif Eskesen diz que o pior ainda está por vir na Índia, que cresceu 4,4% de abril a junho, o menor ritmo em quatro anos e meio. "O número de agosto foi cruel", disse.
Fonte: The Wall Street Journal
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