Segundo os cálculos do IBGE, o crescimento do PIB no terceiro trimestre de 2012 sobre o segundo trimestre foi da ordem de 0,6%, depois da correção sazonal. Anualizado, anda às voltas de 2,4%. O desencanto geral refere-se menos à taxa que vem caindo desde o primeiro semestre de 2011, quando se mede através do crescimento acumulado nos últimos quatro trimestres (como se vê abaixo), e mais à surpresa do número.
Para relativizar o resultado, é preciso considerar que as altas taxas de crescimento iniciais ainda refletem a comparação com as vigentes ao longo de 2008-2010 depois da grave crise iniciada com a falência do Lehman Brothers, e que nos levou a uma taxa de crescimento negativa no terceiro trimestre de 2009.
A brutal flutuação da nossa taxa de crescimento (6,4% no primeiro trimestre de 2008, -1,4% no terceiro de 2009 e 7,6% no terceiro de 2010) esconde o fato de que nunca crescemos consistentemente mais do que 4% ao ano no período de 2003 a 2012, ou mais do que 3% entre 1995 e 2002. O administrador deve aprender que não deve brigar com os números. Por mais desagradáveis que sejam, eles são o passado. Estão dados. O que não está dado é o futuro! Esse depende da capacidade do governo de cooptar o setor produtivo privado para aumentar os investimentos.
O resultado revelou o conhecimento precário da realidade tanto das autoridades como dos famosos “analistas financeiros”, que se supõem portadores de um “conhecimento científico”. Todos agem de acordo com o velho axioma: o erro coletivo é inofensivo para reputação do agente!
Todos (inclusive quem escreve esta coluna) estávamos convencidos de que o crescimento entre o terceiro e o segundo trimestres seria parecido com 1%, e acreditávamos que dispúnhamos de “indicadores antecedentes” de boa qualidade. Agora só resta uma saída para salvar a cara perdida: é que o IBGE tenha errado feio, o que, honestamente, é pouco provável.
Mas ainda há esperança. Mesmo decepcionantes, os números revelam que a situação está melhorando. Enquanto no terceiro e quarto trimestres de 2011, e no primeiro de 2012, a taxa de crescimento com relação aos anteriores, corrigida pela variação estacional, ficou estável em 0,1% (o que sugere um crescimento anualizado de 0,4%), no segundo trimestre deste ano com relação ao primeiro, o crescimento foi de 0,2%, sugerindo um crescimento anual da ordem de 0,8%, e o do terceiro trimestre de 0,6%, o que leva à estimativa para um crescimento anualizado de 2,4%.
Se os efeitos de todos os estímulos já dados forem capazes de acordar o “espírito animal” dos empresários, talvez possamos ter um crescimento de 0,8% no quarto trimestre sobre o terceiro, o que nos levaria a deixar para trás o difícil 2012, rodando a uma taxa anualizada de 3,6%!
O fato realmente trágico das contas nacionais de julho-setembro de 2012 é que elas revelam o quinto trimestre consecutivo de redução do nível de investimentos. O problema é que nem a bem-sucedida política de queda da taxa de juros real, nem o controle do movimento de capitais, que levou a uma recuperação da taxa de câmbio, nem os incentivos fiscais, alguns da maior importância no longo prazo, como é o caso da desoneração da folha de salários, nem o excepcional esforço através do BNDES, nem os estímulos à inclusão social, que asseguram um aumento da demanda, foram capazes de mobilizar os investidores privados.
Estímulos não foram capazes de mobilizar investidores privados
A verdade é que a resposta ao ativismo do governo, em geral na direção correta, foi, infelizmente, acompanhada de ruídos de comunicação por parte dos agentes públicos que interagem com o setor privado no campo fundamental da infraestrutura.
Frequentemente eles manifestam alguma prepotência e muita idiossincrasia, o que tem comprometido a relação de confiança que deve prevalecer entre o setor público e o privado. Obviamente, o primeiro pode e deve fixar as regras do jogo com lógica aceitável numa economia de mercado, mas o segundo tem todo o direito de exigir que sejam de máxima clareza, transparentes e respeitadas.
A falsa ideia que se generalizou no setor financeiro e no setor real da economia – que a política do governo objetiva ampliar a sua ação, fixar preços, regular e controlar atividade privada, ampliar a “estatização de setores estratégicos” – é consequência da relação vista como hostil pelos que têm contato necessário e direto com os agentes públicos que detém o poder, o que, aparentemente, têm produzido mais calor do que luz.
Quem conhece a inteligência da presidente, sua disposição de estudar cuidadosamente cada problema e seu pragmatismo, tem muita dificuldade de entender como se chegou a tal distância de confiança entre o governo e o setor privado de infraestrutura. Uma coisa é certa. Enquanto ela não for anulada, é pouco provável que o “espírito animal” volte a comandar os empresários e se ampliem os investimentos.
Fonte: Corecon/PR / Valor Econômico
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