Economista, Especialista em Economia e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Paraná e Graduando em Estatística, também, pela Universidade Federal do Paraná.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Volume de vendas para UE é estável, mas valor dispara


Volatilidade das commodities explica crescimento das exportações do Brasil para os países europeus.

Lucros maiores, mas com a mesma produtividade. É desta forma que o Brasil vem trabalhando sua pauta de exportação para a União Europeia nos últimos anos.

Segundo o levantamento feito pelo Brasil Econômico, as vendas do país para o bloco cresceram 224% em valores entre 2000 e 2012. No entanto, em volume, o crescimento foi de apenas 4%. As importações também cresceram mais de 200% em valores no período, mas, em volume, dobraram.

A explicação, de acordo com Welber Barral, sócio da consultoria Barral M Jorge, está relacionada ao índice de industrialização do comércio entre o Brasil e o bloco econômico.

Segundo suas estimativas, as commodities respondem por mais de 60% das exportações brasileiras, enquanto que na via contrária predominam os manufaturados.

Com a explosão de preços dos produtos básicos após 2008, a inflação das commodities fez o valor das exportações disparar. Já nos produtos industrializados, devido à concorrência acirrada no mercado internacional, é menor a variação de preços, afirma Barral.

O minério de ferro, principal produto vendido pelo Brasil aos europeus, é o melhor exemplo da inflação das exportações. Até 2008, enquanto ainda não havia contratos futuros negociados em bolsas de valores, a valorização do insumo não chegava a 100% em dez anos.

Desde o início da comercialização no mercado aberto, o valor do minério cresceu quatro vezes na metade do tempo. Até 2007, Vale, Rio Tinto e BHP Billinton determinavam o preço do minério trimestralmente.

Além do minério de ferro, soja e café, os principais grãos vendidos aos europeus, também passaram por processo semelhante de valorização após 2007.

A disparidade entre itens básicos e industrializados se tornam evidentes ao analisar as vendas da Embraer no mercado europeu. Enquanto que em 2000 foram comercializadas 58 aeronaves, com uma receita de US$ 1,03 bilhão, neste ano foram vendidas 63, com um retorno de US$ 1,36 bilhão.

"Alguns produtos acabados têm dificuldade em elevar preços. Porém, em outros itens industrializados como ferro-liga e químicos, que passam por uma evolução de qualidade, os preços respondem mais facilmente", avalia Barral.

Segundo Rodrigo Branco, economista-chefe da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex), o movimento dissonante, de crescimento do valor, mas com estagnação do volume, acontece com todos os países com os quais o Brasil possui uma pauta exportadora baseada em commodities.

Com a China, exemplifica Branco, o país registrou uma forte expansão no volume exportado, mas lucra desde o início da crise, em 2008, com a volatilidade das commodities.

"Para a China a participação de produtos básicos é ainda maior do que para a Europa. As commodities respondem por 85% das vendas."

A evolução ambígua das exportações acompanha os índices de produção industrial. De 2002 até este ano, a indústria cresceu apenas 26,5%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Para que as exportações representem um ganho de produtividade, diz Branco, o Brasil precisa construir uma pauta exportadora geral que se assemelhe às vendas feitas para Estados Unidos e Argentina - principais compradores de manufatura brasileira.

"A dificuldade para realizar vendas de produtos acabados para a União Europeia está na isenção tributária que estes países têm entre si. Os europeus compram dos próprios europeus, principalmente da Alemanha", avalia Branco. "Além disso, o Brasil ganhou a China como um concorrente fortíssimo nos últimos 10 anos", complementa.

O prognóstico para os próximos anos também não é favorável. Atualmente, o país ainda faz parte do Sistema Geral de Preferências (SGP), que privilegia a compra de produtos fabricados em países em desenvolvimento.

O Brasil deixa de integrar o SGP em 2015. Para compensar, o Brasil busca um acordo de comércio entre Mercosul e a União Europeia. "Os próprios empresários são a favor, apesar dos riscos de uma invasão de produtos europeus. É uma alternativa para que eles consigam vender produtos com maior valor agregado na Europa", diz Branco.

Fonte: Brasil Econômico

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