Uma retomada das importações de etanol pelos Estados Unidos está agitando o mercado mundial de açúcar, que movimenta US$ 1,6 trilhão ao ano.
Investidores em commodities estão apostando, cada vez mais, que o aumento da demanda americana pelo etanol à base de cana-de-açúcar vai reduzir o fornecimento do produto e frear a queda dos preços, que recentemente atingiram o nível mais baixo em 28 meses.
As importações americanas de etanol brasileiro subiram quase nove vezes este ano até outubro, comparado com o mesmo período de 2011, segundo o Departamento de Agricultura dos EUA. A demanda americana pelo etanol produzido no exterior saltou depois que uma tarifa de importação que vigorava há três décadas expirou em janeiro. As importações de etanol dos EUA devem aumentar no ano que vem, com a maior parte vinda do Brasil.
O mercado de açúcar está começando a sentir os efeitos. Os dois tipos de etanol — o de cana e o de milho, o qual é produzido principalmente nos EUA — têm uma composição química semelhante, e são misturados a outros combustíveis para criar uma gasolina de queima mais limpa, utilizada nos carros.
Investidores em commodities, analistas e produtores de etanol dizem que a abertura do mercado americano de etanol e a procura crescente pelo etanol de cana nos EUA e no Brasil podem deter a recente queda nos preços do açúcar. Os preços dos futuros caíram 17% este ano porque muitos operadores preveem que o Brasil colherá uma grande safra de cana no ano que vem.
Já houve períodos em que o etanol brasileiro inundou o mercado americano, mas depois teve queda brusca.
Segundo analistas e investidores, o recente aumento nas importações de etanol deve se manter. A produção de etanol nos EUA está em declínio, e leis federais exigem que os fabricantes de gasolina aumentem a utilização de uma categoria de combustíveis renováveis que inclui o etanol de cana, mas exclui o de milho.
Quanto mais cana-de-açúcar for canalizada para a produção de etanol, menos será moída para fabricar o açúcar mascavo granulado, reduzindo a oferta e podendo elevar os preços.
"A demanda [pelo etanol] está sugando mais e mais os estoques de açúcar", diz Kevin Kerr, presidente da consultoria de commodities Kerr Trading International, que tem US$ 250 milhões sob gestão. Ele investiu em posições otimistas sobre os futuros de açúcar que se prolongam até 2013.
Na segunda-feira, os futuros de açúcar subiram 2,1%, o maior nível em mais de uma semana, devido às preocupações com más condições de cultivo no Brasil. Uma seca recente no país, que é o maior produtor mundial de cana, despertou temores de que a safra de 2013 pode decepcionar.
Outros dizem que o Brasil terá muito açúcar para colocar no mercado. O país vai colher uma safra recorde de 580 milhões de toneladas no ano que vem, previu a Organização Internacional do Açúcar. Cerca de metade irá para a produção de etanol.
Embora a OIA preveja um excedente mundial de 6,2 milhões de toneladas no ano que vem, "os preços do açúcar provavelmente ficarão inibidos por um tempo", disse Sterling Smith, especialista de futuros do Citigroup em Chicago, no Estado americano de Illinois. Ele calcula que, se o Brasil colher uma safra recorde no ano que vem, haverá cana mais que suficiente para atender à maior demanda de etanol.
Quer o Brasil consiga ou não uma safra de cana que satisfaça a demanda, a maior presença dos EUA no mercado de etanol complica as perspectivas para o açúcar, dizem analistas.
As vendas do Brasil para os EUA, que totalizaram cerca 1,27 bilhão de litros nos primeiros 10 meses de 2012, estão tomando o lugar do etanol de milho produzido nos EUA. A produção americana de etanol vai cair 10% no ano que vem para cerca de 12,6 bilhões de galões, segundo estimativas do Departamento de Agricultura e do Departamento de Energia dos EUA.
Outro fator que os operadores observam é o consumo de etanol do próprio Brasil. O governo alertou que pretende elevar a proporção de etanol misturado à gasolina de 20% para 25% no ano que vem, o que aumentará a demanda interna de etanol e pode reduzir ainda mais a oferta de açúcar e elevar seus preços.
Fonte: The Wall Street Journal
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