Economista, Especialista em Economia e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Paraná e Graduando em Estatística, também, pela Universidade Federal do Paraná.

domingo, 16 de dezembro de 2012

Produtividade cai pelo segundo ano

Números da Fundação Getúlio Vargas mostram que as empresas brasileiras estão produzindo menos com a mesma quantidade de máquinas e trabalhadores.

O baixo crescimento da economia brasileira em 2012 evidenciou um dilema vivido pelo país: a taxa de desemprego atinge níveis historicamente baixos, os salários estão subindo, mas as empresas não estão produzindo no mesmo nível. Um estudo do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getúlio Vargas (FGV) mostra que a produtividade da economia brasileira deve recuar quase 1% neste ano, um número ruim que vai se somar à retração de 0,03% do ano passado. É uma mudança de trajetória após altas consecutivas nos dois governos do presidente Lula. Isso significa que o Brasil está produzindo menos com a mesma quantidade de fatores de produção (máquinas e equipamentos) e trabalho (horas trabalhadas).

De acordo com a economista Silvia Matos, do Ibre, a produtividade é um dos principais fatores que inibiram os investimentos neste ano. É consenso entre economistas que a queda na taxa de investimentos é o grande vilão do “pibinho” de 2012 – a economia deve crescer em torno de 1%, a menor taxa da América Latina, com exceção do Paraguai. Segundo cálculos de Silvia, uma alta de um ponto porcentual na produtividade equivale a um aumento de quatro pontos porcentuais nos investimentos. A relação entre os dois fatores reside na ideia de que, com menos produtividade e maiores salários, o retorno sobre os investimento é menor, um incentivo para os empresários pisarem no freio.

A tese vai na direção oposta daquela defendida pelo governo, que vê na desaceleração da economia e no recuo dos investimentos um problema de demanda, e não de produtividade. Com menos demanda por seus produtos, os empresários estariam mais receosos em investir.

Como o governo vê problema na demanda, as políticas vão na direção de incentivar o consumo. “Esse é o modelo econômico que foi implementado no Brasil: crescimento sustentado pelo consumo interno. Mas ele já dá sinais de saturação”, diz o economista Gilmar Mendes Lourenço, presidente do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Eco­nômico e Social (Ipar­des). “Já atingimos o teto da demanda reprimida de produtos essenciais”, afirma.

Lourenço concorda, porém, que a demanda também está afetando a decisão do empresário, citando, por exemplo, o fraco desempenho da economia internacional nos últimos anos.

O Ibre vê outro problema com a sucessão de pacotes do governo para aumentar o consumo. “Cada benefício ou artificialismo cedido a um determinado segmento vem carregado de efeitos colaterais em outras áreas, e muitas vezes a próxima medida discricionária nada mais é que a tentativa de corrigir os danos não previstos da anterior”, publicou o instituto em sua carta mensal, em julho. “Ao confundir os sinais para o mercado, o governo acaba induzindo o empresário a ter uma ação mais defensiva, o que leva a uma menor predisposição ao investimento.”

Serviços atuam como “concorrente” da indústria, afetando a produção

A situação do mercado de trabalho no Brasil também é um fator de influência na queda da produtividade, apontam economistas. A baixa taxa de desemprego é puxada principalmente pelo crescimento do setor de serviços, mas o custo da mão de obra afeta a economia como um todo. Com mais gente empregada, menor a reserva de trabalhadores e maiores os salários.

No setor de serviços, praticamente blindado da competição externa, a alta no custo do trabalhador pode ser repassada para o consumidor. O mesmo não pode ser dito sobre o setor manufatureiro. A indústria precisa manter as margens estreitas para não perder mercado para os importados – mas também compete para manter os salários próximos do setor de serviços, sob o risco de um apagão de mão de obra.

De acordo com dados do IBGE, a produção industrial recuou 2,9% entre janeiro e outubro. As horas trabalhadas e o número de pessoal ocupado na indústria também caíram, 2% e 1,4%, respectivamente. Apesar disso, o salário médio no setor cresceu 4,6%. “Ou seja, em relação à produtividade da indústria, os salários aumentaram até 6,2%. Como a economia brasileira é muito mais aberta, esse aumento do salário acima da produtividade está fazendo com que as empresas reduzam suas margens de lucro e comprometam a sua capacidade de investimento”, afirma o economista Gilmar Mendes Lourenço, presidente do Ipardes.

Ele também lembra que a capacidade do setor de serviços de agregar valor é menor que da indústria. “Até três vezes menor”, diz. Esse seria um outro fator influenciando a produtividade.

Lourenço também aponta o câmbio ainda relativamente forte e a alta carga tributária como fatores que inibem a disposição dos empresários em investir. “O câmbio passou de R$ 1,60 para quase R$ 2,10, mas precisaria ser ainda mais desvalorizado para dar competitividade à indústria brasileira lá fora. Além disso, também há a questão da carga tributária, que é de primeiro mundo, mas com uma contrapartida em infraestrutura de país emergente. São fatores estruturais que explicam a nossa baixa competitividade e nossa baixa produtividade”, afirma.


Os motivos

A consultoria The Boston Consultancy Group publicou um estudo em setembro afirmando que o grande obstáculo para o crescimento da economia brasileira é a produtividade das empresas. O estudo aponta os quatro fatores que mais contribuíram para a estagnação da produtividade nos últimos anos:

Talento

A taxa de desemprego no país caiu de 12,3%, em 2003, para 6%, em 2011. Isso criou um apagão de mão de obra e um consequente aumento generalizado nos salários.

Infraestrutura

Crescimento da economia e baixo investimento em infraestrutura é uma combinação que criou diversos problemas em portos, rodovias, aeroportos e até nas redes de telecomunicação. É o chamado “custo Brasil”, que reduz a eficiência da cadeia de produção brasileira.

Investimento

Apesar de o investimento ter aumentado de 17% do PIB, em 2001, para 19,3%, em 2011, o Brasil tem consistentemente investido menos, na última década, que outros emergentes. No ano passado, por exemplo, China, Índia e Coreia do Sul investiram, respectivamente, 47%, 30% e 27% de seus PIBs.

Estrutura institucional

Fazer negócios no Brasil é incrivelmente complexo e custoso, diz a consultoria. Os dados do banco Mundial colocam o Brasil na 126ª posição, entre 132 países, na lista dos mais fáceis para fazer negócio. E entre 182 países, o Brasil é 16º na relação entre impostos e faturamento.

Fonte: Gazeta do Povo


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