Economista, Especialista em Economia e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Paraná e Graduando em Estatística, também, pela Universidade Federal do Paraná.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Emprego nos EUA pode ultrapassar nível pré-recessão em 2014

É 2014 o ano em que o mercado de trabalho americano começa a engrenar — e será que continua?

O recente fortalecimento do produto interno bruto, da produção industrial e do setor de construção sustenta o impulso da criação de empregos no ano que vem. Esses indicadores também sustentam a possibilidade de, na ausência de um choque econômico, em meados de 2004 o número total de empregos finalmente poder superar seu pico anterior à recessão.

O cenário do mercado de trabalho tem melhorado desde o pior momento da recessão, de 2007 a 2009, mas o progresso tem sido irregular. Em 2013, empregadores criaram uma média de 189.000 vagas por mês, aumentando o ritmo em outubro e novembro, quando abriram 200.000 e 203.000 vagas, respectivamente. Nos últimos dois anos, a taxa de desemprego diminuiu de 8,3% para 7%, mas a maior parte do declínio se deve ao número de desempregados que pararam de procurar emprego.

O mercado de trabalho recebeu um voto de confiança do Federal Reserve, o banco central americano, que decidiu no início deste mês reduzir paulatinamente o programa de estímulo de US$ 85 bilhões por mês, ao julgar que a economia está forte o suficiente para seguir em frente com menos assistência. Em janeiro, o banco central vai diminuir o estímulo para US$ 75 bilhões e vai tentar reduzi-lo em US$ 10 bilhões nas próximas reuniões.
O presidente do Fed, Ben Bernanke, em coletiva de imprensa depois de anunciar a decisão, disse: "Os recentes indicadores econômicos têm aumentado nossa confiança de que os ganhos no mercado de trabalho vão continuar [...] Com a provável diminuição da restrição fiscal e com sinais de que a despesa doméstica está ganhando força, esperamos que o crescimento econômico esteja forte o suficiente para sustentar novas criações de empregos."

Os economistas ouvidos na pesquisa mais recente do The Wall Street Journal expressaram otimismo semelhante, prevendo que, em média, os Estados Unidos devem adicionar cerca de 198.000 vagas de trabalho por mês em 2014, a estimativa mais elevada desde 2005, quando a pesquisa abordou a questão pela primeira vez. Tal ritmo colocaria o país no caminho para voltar antes de julho aos níveis de emprego pré-recessão.

Um mercado de trabalho melhor significa crescimento econômico, através de um ciclo virtuoso de produção e gastos. À medida que a demanda aumenta, os empregadores elevam sua produção para atendê-la, muitas vezes contratando mais gente. Trabalhadores, por sua vez, conseguem empregos e recebem salários que podem ser gastos ou economizados.

Esse ciclo parece estar ganhando força nos EUA, onde os gastos vigorosos de consumidores e empresas puxaram o crescimento do terceiro trimestre a um ritmo anualizado de 4,1% — acima da taxa média de 3,3% do pós-Segunda Guerra Mundial. A confiança do consumidor, prejudicada pelos 16 dias de paralisação do governo federal em outubro, ganhou novo fôlego e a produção industrial superou o pico pré-recessão — ambos considerados sinais favoráveis para as contratações.

A demanda reprimida vai estimular a criação de empregos nos setores de manufatura e de energia no próximo ano, diz Ward McCarthy, economista chefe da Jefferies & Co. Ele prevê que consumidores e empresas estarão comprando produtos que vão de máquinas de lavar a automóveis e aviões, depois de adiarem a aquisição de bens de alto valor durante a recessão e a lenta recuperação que se seguiu.

A JD Power e LMC Automotive, empresas especializadas em pesquisa no setor automotivo, preveem que os consumidores americanos gastem um valor recorde — de mais de US$ 34 bilhões — em carros novos neste mês de dezembro.

Os benefícios das compras de automóveis e aeronaves têm um efeito cascata, diz McCarthy, porque os dois setores estão ligados a muitas outras indústrias e por isso atingem profundamente a economia.

Scott Anderson, economista-chefe do Bank of the West, espera que a manufatura, em particular, estimule o crescimento nos gastos das empresas a um ritmo próximo de 4% em 2014, acima dos 2,6% deste ano. "A manufatura dos EUA é hoje muito mais competitiva globalmente do que era há 10 ou 15 anos", diz ele, citando o crescimento da produtividade, o boom do petróleo e gás e a ausência de pressões salariais que estão afetando alguns mercados emergentes.

Mesmo os analistas mais otimistas admitem que, se por um lado o mercado de trabalho está no caminho certo, ainda há espaço considerável para melhorar. Fechar o buraco criado pela recessão no mercado de trabalho é um marco importante, embora ainda deixe os EUA com mais de seis milhões de empregos a menos do que poderia ter sem a crise. Enquanto isso, ainda há quase três desempregados para cada vaga que é aberta. Isso é menor que a média de 6,2 desempregados para cada vaga do fim da recessão, mas acima da média de 1,8 no início dela.

"Uma das implicações mais importantes de ter um mercado de trabalho finalmente chegando em sua fase de expansão é que vamos começar a absorver o excedente de mão de obra que ainda está perdido por aí", diz McCarthy. "Vai levar algum tempo, mas pelo menos agora há luz no fim do túnel para ver aumentos no salário médio por hora."

O salário médio por hora ficou praticamente estável, crescendo apenas 2% em novembro em relação a um ano antes, comparado ao crescimento de 3,3% na variação anual antes da recessão.

O número de desempregados de longo prazo, que estão fora do mercado há pelo menos seis meses, ainda chega a quatro milhões e representa 2,6% da força de trabalho. O programa do governo federal de seguro-desemprego, que beneficiou 1,3 milhão de pessoas, foi encerrado neste fim de semana.
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A economia como um todo, que ajudou a impulsionar o progresso do mercado de trabalho, também poderia comprometê-lo. Não se espera que o mercado imobiliário sustente o ritmo de ganhos recentes, já que o aumento dos preços residenciais e as taxas de juro devem manter alguns compradores fora do mercado. A redução do programa de estímulo do Fed poderia sair pela culatra. Um acordo sobre o orçamento em Washington clarificou algumas incertezas fiscais, mas o governo vai abordar o teto da dívida novamente no início de 2014. Enquanto isso, muitas empresas não sabem como atender aos requisitos do "Affordable Care Act", a nova lei americana de saúde, que entra em vigor em 2015.

Há também riscos internacionais em abundância, como a possível fraqueza na zona do euro ou no Japão ou o aumento dos preços do petróleo se as negociações para deter o programa nuclear iraniano desmoronarem.

Na ausência desses choques ou de outras variáveis, o cenário econômico aponta para um mercado de trabalho à beira de um muito aguardado — e frequentemente previsto — ano revolucionário.

Fonte: The Wall Street Journal

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