Economista, Especialista em Economia e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Paraná e Graduando em Estatística, também, pela Universidade Federal do Paraná.

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

A Europa tem motivos para ser otimista – no longo prazo

A elite global pode às vezes ser um bocado pessimista. Durante o Fórum Econômico Mundial realizado semana passada em Davos, na Suíça, alguns veteranos do evento insistiam que o encontro deste ano tinha sido o mais otimista desde antes da crise financeira mundial. Eles se baseavam no cenário de recuperação econômica e no aparente recuo da crise do euro. Mas era um tipo estranho de otimismo, acompanhado de inquietação com uma série de riscos nos mundos desenvolvido e emergente, riscos esses que, temiam os participantes, poderiam reverter a recuperação.

No aspecto econômico, as hipóteses iam desde o efeito possivelmente desestabilizador da desigualdade crescente até a perda de confiança em governos e mercados, passando ainda pelo impacto das políticas monetárias americanas nos fluxos de capital dos países emergentes e pelo risco contínuo de um ressurgimento da crise europeia como resultado do alto endividamento, desemprego, crescimento lento e uma possível deflação. Havia, ainda, o potencial de eliminação de empregos representado pelos avanços da tecnologia, que alguns veem como uma ameaça à classe média mundial.

Claro que esses riscos são reais. Mas riscos podem agir em ambos os sentidos. Concentrar-se obsessivamente no que poderia dar errado pode obscurecer o que poderia dar certo, principalmente na Europa. A preocupação com o continente se tornou um hábito tão arraigado que o contexto mais amplo pode passar despercebido.

O modo de ver o cenário da Europa depende em parte do modo de ver o desemprego elevado, a desigualdade crescente e a perda de confiança: se como um prenúncio ou uma consequência. Será que a economia europeia sofreu uma mudança estrutural e, neste caso, o desemprego alto e a desigualdade crescente poderiam ser sinais de piora da instabilidade política? Ou será que as condições difíceis de hoje são o reflexo das recessões profundas de alguns países, elas próprias resultado de muitas décadas de políticas domésticas equivocadas?

Se a última hipótese for a correta, então o desemprego e a desigualdade poderiam começar a diminuir e a confiança nos governos a aumentar à medida que a economia se recupera. De fato, há sinais de que isto já esteja começando a acontecer. Na Espanha, o número de pessoas empregadas, ajustado pela sazonalidade, aumentou no quarto trimestre pela primeira vez desde 2008. A taxa de desemprego no Reino Unido caiu para uma média de 7,1% no período de três meses até novembro, a menor desde 2009. O desemprego também está em queda na Irlanda e em Portugal.

O que está faltando, inegavelmente, é que os salários aumentem. Mas, no médio prazo, a única maneira sustentável de elevar salários é elevar a produtividade. O otimismo em relação à Europa se justifica porque este ponto parece agora bem compreendido e os governos estão agindo de acordo.

Por décadas, os governos da Europa contaram com o crescimento fácil proveniente da expansão da economia mundial e do poder mágico da alavancagem. Isso permitiu aos políticos agradar o eleitorado ampliando a presença do Estado e os programas sociais, encorajando as pessoas a alugar imóveis, introduzindo rígidas leis trabalhistas e reforçando privilégios.
Um agente da polícia de elite suíça a postos no telhado de um prédio antes do início do Fórum Econômico Mundial, realizado semana passada na cidade de Davos, Suíça. Reuters
Agora, os países europeus só têm uma opção: realizar reformas estruturais e remover os obstáculos ao crescimento da produtividade. Espanha, Portugal e Grécia fizeram reformas substanciais e estão começando a colher os benefícios. A França está seguindo o exemplo. O governo francês insiste que os novos impostos e cortes de gastos anunciados este mês não são uma reviravolta, mas a mudança de linguagem é notável. "A França não é um país irreformável", disse na semana passada o ministro da Fazenda, Pierre Moscovici, ao The Wall Street Journal. "[A França] tem que ser reformada."

Até mesmo a Itália pode estar começando a se mexer. A eleição do prefeito de Florença, Matteo Renzi, de 39 anos, como secretário do Partido Democrático eletrizou o cenário político. Um acordo para a realização de uma reforma eleitoral parece possível, no que seria o primeiro passo para a eleição de um governo majoritário com poder para promover mudanças.

Enquanto isso, mudanças podem estar a caminho também na alçada da Europa. O governo britânico está abandonando sua postura hostil em relação à União Europeia e começou a elaborar uma agenda construtiva para aprofundar o mercado único europeu e aumentar a competitividade do continente. Há ainda um amplo apoio político na UE para um ambicioso tratado comercial entre o bloco e os Estados Unidos.

Um contra-argumento razoável é que toda essa conversa sobre reformas até agora não passou disso: conversa. Mas é difícil ignorar como o aparente sucesso das reformas na Espanha e Portugal desmentiu aqueles que argumentavam que a resposta para os problemas da Europa era repartir as dívidas e imprimir dinheiro. A transformação do presidente da França, François Hollande, de socialista para social-democrata é uma evidência da falta de alternativas realistas para as reformas. Os mercados mostraram que não perdoam países que não conseguem alterar seus modelos econômicos, como a Argentina e a Turquia descobriram na semana passada.

Isso não significa que as mudanças são tão profundas como alguns esperam. Nem que provavelmente terão um efeito tão rápido a ponto de mudar as perspectivas desanimadoras da Europa para os próximos dois anos. Mas num prazo de dez anos, o cenário parece mais claro — e uma razão para otimismo.

Fonte: The Wall Street Journal

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