Empregados de uma de confecção na província de Cantão; novos dados derrubaram moedas de países emergentes Reuters |
O desempenho decepcionante das indústrias da China nas últimas semanas mostra que o setor manufatureiro pode acabar pesando sobre a economia chinesa em geral, que já enfrenta desafios.
Os dados divulgados ontem — que indicam um recuo inesperado da atividade industrial da China neste mês até agora — normalmente não são examinados tão de perto. Mas eles surgem num momento em que economistas tentam detectar se o crescimento da segunda maior economia do mundo continuará a desaceleração evidenciada no quarto trimestre de 2013.
O setor manufatureiro chinês sofre com uma demanda ainda lenta de mercados tradicionais como os EUA e a Europa, flutuações cambiais que tornam seus produtos menos competitivos no exterior e um aumento dos custos da mão de obra no país.
Xiang Xiaoyun, diretora-presidente da Kaicheng Shoes Co., que tem fábrica na província de Cantão e exporta para os EUA e Europa, diz que sua empresa está passando por dificuldades.
"A concorrência de rivais de baixo custo não é tão óbvia", diz ela. "Mas a valorização da moeda chinesa e o aumento dos preços das matérias-primas, bem como os custos trabalhistas, são uma grande dor de cabeça."
O dado preliminar do Índice de Gerentes de Compra do HSBC HSBA.LN -1.99% (PMI, na sigla em inglês) — divulgado ontem pelo HSBC Holdings PLC e a provedora de dados financeiros Markit — recuou de 50,5 em dezembro para 49,6 em janeiro. É a primeira vez que ele fica abaixo de 50 em seis meses. (Qualquer número abaixo de 50 indica retração da atividade; números acima deste limite sinalizam crescimento.)
A maioria dos analistas esperava que o índice ficasse pouco acima de 50 pontos. "Ele ficou abaixo da expectativa do mercado e surpreendeu a muitos", disse Haibin Zhu, economista do J.P. Morgan. JPM -2.44% "E a perspectiva dos dados futuros é preocupante."
O número de novas encomendas globais e pedidos de exportação caiu, enquanto os estoques cresceram, diz Zhu.
Os dados de ontem agravaram os receios dos investidores de que a desaceleração da demanda chinesa, por muitos anos o principal motor de crescimento das economias emergentes, possa criar ainda mais problemas para países como Brasil e África do Sul, que fornecem matérias-primas para a China. As moedas de países emergentes sofreram quedas generalizadas ontem. O peso argentino, que despencou mais de 12% ante o dólar, foi um dos mais atingidos, juntamente com o rand sul-africano e a lira, da Turquia. O real também foi golpeado, com o dólar fechando em alta de 1,3%, para R$ 2,4030.
O dólar australiano, igualmente sensível aos movimentos da economia chinesa porque a China é um grande comprador de matérias-primas da Austrália, caiu 1% ante o dólar americano.
Alguns economistas e exportadores, porém, alertaram quanto a uma reação exagerada. Os dados são preliminares, foram divulgados aproximadamente uma semana antes da leitura final e baseados em cerca de 85% a 90% do total de entrevistas feitas mensalmente pela pesquisa.
Além disso, os dados próximos ao Ano Novo Lunar — um dos principais feriados chineses, que dura duas semanas e começa na próxima sexta-feira — tendem a ser mais voláteis, já que as fábricas fecham, os trabalhadores voltam para as suas cidades e os estatísticos do governo recolhem suas calculadoras.
"O primeiro trimestre será um pouco irregular", diz Willy Lin, diretor-gerente da Milo's Knitwear (International) Ltd., uma confecção de Dongguan, polo fabril no sul da China. "Mas, no geral, o poder de compra dos consumidores está melhorando. [...] Então, no fim, os números poderiam ser melhores."
Lin destacou outros pequenos sinais positivos, como conseguir com que os clientes façam o pagamento mais cedo. Segundo ele, um número muito maior de clientes está pagando em até 30 dias, comparado com um prazo entre 120 e 180 dias nos meses anteriores. Muitas empresas na China reclamavam da demora dos pagamentos no ano passado, quando a economia desacelerou.
No longo prazo, a China está procurando depender menos das exportações e dos investimentos em grandes projetos e mais do consumo. Mas uma desaceleração da manufatura poderia prejudicar o objetivo do governo de manter o nível de emprego.
O dado preliminar do Índice PMI, conhecido como "flash PMI", tende a pesquisar mais as pequenas e médias empresas em relação à medição oficial da produção fabril, que deve ser divulgada em 1o de fevereiro e foca mais em grandes empresas estatais.
Outros dados também têm apontado para um cenário menos robusto na manufatura. Em dezembro, o avanço da produção industrial foi de 9,7%, ante 10% em novembro.
Os exportadores chineses podem sofrer pressão ainda maior este ano se o yuan continuar se valorizando. Um yuan mais forte torna os produtos chineses menos competitivos quando seu preço é convertido em outras moedas. Em 2013, o yuan se valorizou 7% em relação ao dólar.
Fonte: The Wall Street Journal
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