Economista, Especialista em Economia e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Paraná e Graduando em Estatística, também, pela Universidade Federal do Paraná.

sábado, 25 de janeiro de 2014

Queda na atividade industrial da China surpreende

Empregados de uma de confecção na província de Cantão; novos dados derrubaram moedas de países emergentes Reuters
O desempenho decepcionante das indústrias da China nas últimas semanas mostra que o setor manufatureiro pode acabar pesando sobre a economia chinesa em geral, que já enfrenta desafios.

Os dados divulgados ontem — que indicam um recuo inesperado da atividade industrial da China neste mês até agora — normalmente não são examinados tão de perto. Mas eles surgem num momento em que economistas tentam detectar se o crescimento da segunda maior economia do mundo continuará a desaceleração evidenciada no quarto trimestre de 2013.

O setor manufatureiro chinês sofre com uma demanda ainda lenta de mercados tradicionais como os EUA e a Europa, flutuações cambiais que tornam seus produtos menos competitivos no exterior e um aumento dos custos da mão de obra no país.

Xiang Xiaoyun, diretora-presidente da Kaicheng Shoes Co., que tem fábrica na província de Cantão e exporta para os EUA e Europa, diz que sua empresa está passando por dificuldades.

"A concorrência de rivais de baixo custo não é tão óbvia", diz ela. "Mas a valorização da moeda chinesa e o aumento dos preços das matérias-primas, bem como os custos trabalhistas, são uma grande dor de cabeça."

O dado preliminar do Índice de Gerentes de Compra do HSBC HSBA.LN -1.99%  (PMI, na sigla em inglês) — divulgado ontem pelo HSBC Holdings PLC e a provedora de dados financeiros Markit — recuou de 50,5 em dezembro para 49,6 em janeiro. É a primeira vez que ele fica abaixo de 50 em seis meses. (Qualquer número abaixo de 50 indica retração da atividade; números acima deste limite sinalizam crescimento.)
A maioria dos analistas esperava que o índice ficasse pouco acima de 50 pontos. "Ele ficou abaixo da expectativa do mercado e surpreendeu a muitos", disse Haibin Zhu, economista do J.P. Morgan. JPM -2.44%  "E a perspectiva dos dados futuros é preocupante."

O número de novas encomendas globais e pedidos de exportação caiu, enquanto os estoques cresceram, diz Zhu.

Os dados de ontem agravaram os receios dos investidores de que a desaceleração da demanda chinesa, por muitos anos o principal motor de crescimento das economias emergentes, possa criar ainda mais problemas para países como Brasil e África do Sul, que fornecem matérias-primas para a China. As moedas de países emergentes sofreram quedas generalizadas ontem. O peso argentino, que despencou mais de 12% ante o dólar, foi um dos mais atingidos, juntamente com o rand sul-africano e a lira, da Turquia. O real também foi golpeado, com o dólar fechando em alta de 1,3%, para R$ 2,4030.

O dólar australiano, igualmente sensível aos movimentos da economia chinesa porque a China é um grande comprador de matérias-primas da Austrália, caiu 1% ante o dólar americano.

Alguns economistas e exportadores, porém, alertaram quanto a uma reação exagerada. Os dados são preliminares, foram divulgados aproximadamente uma semana antes da leitura final e baseados em cerca de 85% a 90% do total de entrevistas feitas mensalmente pela pesquisa.

Além disso, os dados próximos ao Ano Novo Lunar — um dos principais feriados chineses, que dura duas semanas e começa na próxima sexta-feira — tendem a ser mais voláteis, já que as fábricas fecham, os trabalhadores voltam para as suas cidades e os estatísticos do governo recolhem suas calculadoras.

"O primeiro trimestre será um pouco irregular", diz Willy Lin, diretor-gerente da Milo's Knitwear (International) Ltd., uma confecção de Dongguan, polo fabril no sul da China. "Mas, no geral, o poder de compra dos consumidores está melhorando. [...] Então, no fim, os números poderiam ser melhores."

Lin destacou outros pequenos sinais positivos, como conseguir com que os clientes façam o pagamento mais cedo. Segundo ele, um número muito maior de clientes está pagando em até 30 dias, comparado com um prazo entre 120 e 180 dias nos meses anteriores. Muitas empresas na China reclamavam da demora dos pagamentos no ano passado, quando a economia desacelerou.

No longo prazo, a China está procurando depender menos das exportações e dos investimentos em grandes projetos e mais do consumo. Mas uma desaceleração da manufatura poderia prejudicar o objetivo do governo de manter o nível de emprego.

O dado preliminar do Índice PMI, conhecido como "flash PMI", tende a pesquisar mais as pequenas e médias empresas em relação à medição oficial da produção fabril, que deve ser divulgada em 1o de fevereiro e foca mais em grandes empresas estatais.

Outros dados também têm apontado para um cenário menos robusto na manufatura. Em dezembro, o avanço da produção industrial foi de 9,7%, ante 10% em novembro.

Os exportadores chineses podem sofrer pressão ainda maior este ano se o yuan continuar se valorizando. Um yuan mais forte torna os produtos chineses menos competitivos quando seu preço é convertido em outras moedas. Em 2013, o yuan se valorizou 7% em relação ao dólar.

Fonte: The Wall Street Journal

Nenhum comentário:

Postar um comentário