Por Clóvis Rossi
Era uma vez um país que parecia ter a solidez de um tijolo, tanto que fazia parte de um acrônimo (Brics) que soa exatamente como "brick", a palavra inglesa para tijolo.
Pena que, agora, esse país (o B dos Brics, também chamado de Brasil) tenha passado a fazer parte dos "Cinco Frágeis", expressão cunhada por um desses empórios financeiros, tal como, aliás, haviam sido os Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).
Índia e África do Sul, aliás, acompanham o Brasil também nos "cinco frágeis", juntamente com a Indonésia e a Turquia.
São frágeis, segundo balanço sobre a crise do Council on Foreign Relations, "devido à crescente pressão sobre suas moedas".
Curioso é que a Argentina não tenha sido incluída nos "frágeis". Talvez se pense que ela já joga na segunda divisão, tal o tamanho da encrenca que o governo Cristina Kirchner armou para si próprio com uma série de artificialismos.
Quanto ao Brasil, há um certo exagero em colocá-lo em situação de fragilidade.
"As vulnerabilidades externas do Brasil estão sobrestimadas", escrevem, por exemplo, Sebastián Brown, Bruno Rovai e Marcelo Salomon, pesquisadores de mercados emergentes para o banco Barclays.
Prosseguem: "Mesmo que a incerteza fiscal mantenha o real sob pressão e leve a um rebaixamento da nota da dívida, fundamentos financeiros externos fortes e o programa de intervenções do Banco Central no mercado cambial devem limitar as fases de excessivo enfraquecimento do real".
De fato, com reservas na impressionante altura de US$ 360 bilhões, o país parece perfeitamente equipado para enfrentar eventuais surtos especulativos.
Martin Wolf, o principal colunista do "Financial Times", adverte, por sua vez, para o erro de se misturar todos os emergentes no mesmo saco. "Qualquer crise deveria ser vinculada às fraquezas específicas de cada país. Não deveria haver outra pandemia".
Como as fraquezas do Brasil não podem nem remotamente ser comparadas às da Argentina ou às de outros emergentes, convém, portanto, ser cuidadoso ao imaginar o reaparecimento do chamado "efeito Orloff" (eu, Brasil, sou você, Argentina, amanhã).
Feitas essas ressalvas, porém, é preciso deixar claro que o Brasil precisa enfrentar suas fraquezas. Entre elas a deterioração da conta corrente, que mede todas as transações com o exterior: o deficit aumentou mais de 50% entre 2010 e 2013, passando de 2,2% do PIB para 3,7%.
Mais: está na hora, ou já passou da hora, de iniciar uma nova fase da política econômica, de resto anunciada por Dilma Rousseff em Davos, no meio de um caudaloso discurso, com ênfase em produtividade, infraestrutura, educação.
Não deixam de ter razão Eduardo Campos e Marina Silva quando dizem que o modelo atual já deu o que tinha que dar (de bom e de ruim, aliás).
Campanha eleitoral é uma oportunidade de ouro para lançar projetos. Afinal, está na hora de ouvir o sábio José Simão e entender que quem fica parado é poste.
Fonte: Folha de S. Paulo
Nenhum comentário:
Postar um comentário