Economista, Especialista em Economia e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Paraná e Graduando em Estatística, também, pela Universidade Federal do Paraná.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

China enfrenta dívida interna crescente

O presidente chinês, Xi Jinping, que na segunda-feira foi indicado para supervisionar o comitê de reforma econômica da China, precisa descobrir rapidamente como impedir que a crescente dívida dos governos provinciais e municipais faça a segunda maior economia do mundo desandar.

A Agência Nacional de Auditoria informou que dívidas e garantias emitidas por governos locais saltaram 67%, para 17,9 trilhões de yuans (US$ 2,95 trilhões), entre o fim de 2010 e meados de 2013. A auditoria monitora os gastos principais desses governos, seja com escritórios governamentais ou parques e rodovias. O crescimento se deu em todos os níveis de governo local, das províncias até as 33.000 mil cidades do país.

O crescimento recorde em torno de 10% ao ano que a China atingiu nos últimos 30 anos se deu em grande parte graças aos pesados gastos dos governos locais em projetos de construção. Mas, desde a crise financeira de 2008, esses projetos têm dependido cada vez mais de volumosos financiamentos e com frequência resultam em empreendimentos malsucedidos que têm dificuldade em se pagar, dizem economistas.

Quase metade da dívida vence até o fim de 2014. O economista Stephen Green, da Standard Chartered, diz que a chance de um governo local não honrar os pagamentos este ano é superior a 50%. Seria a primeira vez que isso acontece na China, onde o governo costuma intervir para que instituições financeiras ajudem devedores em dificuldades.

É difícil avaliar o impacto que o não pagamento de um bônus local causaria. Poderia aumentar a conscientização dos riscos e causar uma redução do crédito que outras ações do governo não lograram totalmente. Mas indícios de aperto da liquidez na China geralmente assustam os mercados de forma imprevisível e o governo poderia ter dificuldade de conter um eventual pânico.

Controlar os projetos dos governos locais tem sido complicado para o governo central. A China está cheia de empreendimentos imobiliários, parques industriais, áreas empresariais e até mesmo cidades inteiras subutilizados ou vazios. No curto prazo, esses empreendimentos ajudaram a aumentar a produção industrial. No longo prazo, porém, muitos deles se tornaram um fardo financeiro, absorvendo recursos para pagar os credores e deixando muitos governos locais com pouco dinheiro para gastos sociais.

A nomeação de Xi para liderar o chamado "grupo principal" da reforma — que terá um papel importante na condução das reformas apresentadas em dezembro pelos principais líderes do Partido Comunista — é o sinal mais recente de que ele assumiu o controle da política econômica, que nas últimas décadas vinha ficando a cargo do primeiro-ministro, o segundo principal líder do país.

Xi tem à pela frente algumas alternativas desagradáveis, dizem economistas. Ele pode dar um jeito de evitar a inadimplência providenciando recursos governamentais e usando a regulação e ações de bastidores para fazer os bancos aumentar as restrições ao crédito. Mas isso deixaria os governos locais mais dependentes de empréstimos de grandes monopólios, empresas de leasing e do sistema bancário paralelo — o chamado "shadow banking" — que cobram taxas de juros mais altas do que os bancos convencionais.

Ele também poderia combater o problema agressivamente, elevando as taxas de juros, vendendo ativos e deixando alguns casos de inadimplência ocorrer como alerta às instituições financeiras e governos locais quanto aos riscos envolvidos. Segundo economistas, hoje os bancos acreditam que o governo federal sempre intervirá para impedir casos de inadimplência, o que acaba encorajando novos empréstimos de risco. Mas permitir a inadimplência pode acabar fazendo com que outros bancos se assustem e passem a exigir juros mais altos.

Eswar Prasad, especialista em China da Universidade Cornell, dos Estados Unidos, diz que embora "a China tenha recursos suficientes para evitar que o problema da dívida dos governos locais se transforme numa completa crise de dívida", o rápido crescimento da dívida no país "representa riscos significativos para a estabilidade do sistema financeiro".

A dívida dos governos locais em relação ao produto interno bruto passou de 26,6% em 2010 para 31% no fim de 2012. Nos EUA, por exemplo, esse índice estava em 18% ao fim de setembro, segundo a regional de St. Louis do Fed, o banco central americano.

Em junho de 2013, os governos locais da China deviam 10,12 trilhões de yuans aos bancos convencionais, o equivalente a 56,6% do total das dívidas desses governos. O percentual é bem menor que os quase 80% do fim de 2010, quando eles deviam 8,47 trilhões de yuans aos bancos.

Agora, os empréstimos do sistema bancário paralelo se tornaram uma importante fonte de financiamento, respondendo por 11% do crédito novo. Esses financiamentos não eram contabilizados de forma específica na auditoria relativa a 2010.

A emissão de títulos pelos governos locais também cresceu. No fim de 2010, os bônus respondiam por 7,1% do passivo desses governos. Essa proporção aumentou para 10,3% no fim de junho de 2013.

A dívida interna total da China, incluindo a dos governos locais, das empresas estatais, das companhias do setor imobiliário e das pessoas físicas, passou de 128% do PIB em 2008 para 216% em 2013. Ela pode chegar a 271% até 2017 se nada for feito, de acordo com a agência de classificação de crédito Fitch Ratings. Economistas observam que saltos semelhantes no crédito em países da Europa, Ásia e América Latina acabaram gerando crises, embora poucos acreditem que a China esteja à beira de uma.

O governo do país tem dito que o controle da dívida interna é uma prioridade este ano.

Tao Wang, economista do UBS, UBSN.VX -0.88% diz que a meta de crescimento da China em 2014 será um importante indicador de com que força o governo vai lidar com a questão da dívida. A estimativa é que o país tenha crescido 7,6% em 2013, ligeiramente acima da meta de 7,5%.
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Segundo ela, caso a China reduza a meta deste ano para 7%, isso indicaria que o governo está pronto para tomar medidas enérgicas, ciente de que o crescimento vai desacelerar. Mas se o governo mantiver a meta de 7,5% — como muitos economistas acreditam que ele vai fazer —, seria um sinal de "que o governo deve atrasar as reformas ou permitir uma piora estrutural em prol do crescimento".

Fonte: The Wall Street Journal

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