Economista, Especialista em Economia e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Paraná e Graduando em Estatística, também, pela Universidade Federal do Paraná.

domingo, 12 de janeiro de 2014

Intervenção estatal x liberalismo econômico

Por Rui Daher

O confronto lembra jogos de futebol beneficentes, no qual antigos astros, gordos e cansados, divertem a memória do público.

À Federação de Corporações Brasil tem restado discutir com frequência intervencionismo estatal contraposto a liberalismo econômico. Confronto que me faz lembrar jogos de futebol comemorativos ou beneficentes, no qual antigos astros do esporte e do entretenimento, gordos, cansados ou desajeitados, divertem a memória do público.

Como não se trata de campeonato, ninguém chuta bola pro mato. Resultados como oito a sete são costumeiros.

Sim, o viés é antigo, envelheceu, faz pouco sentido, não é mensurável, de pouco ferramental comparativo. Os graus de intervenção dependem de vários fatores. O duelo floresce em países que secularmente deixaram de ajeitar a vida de seus cidadãos. É o que temos para hoje nas cabeças econômicas e políticas do País. Boas e ruins.

Apesar de anteceder o Fla-Flu político, musculoso a partir de 2003, pouco se aprendeu. Dada a criatividade da política atual, deverá se manter até o cabalístico 2050, quando seremos nove bilhões num blablabá que não reflete a levada do planeta. O futuro provável virá na forma como Deus fez a mandioca, de qualquer jeito.

Na agropecuária tal dicotomia não se coloca diferente. Os bons resultados se devem à eficiência da iniciativa privada acoplada a valorosos produtores de perfil empresarial. Os entraves, todos criados pelo Estado e os governos que o assumem.

Não nego valor na conquista dos primeiros, mas discordo do papel de vilão solitário dado ao segundo, espécie de assassino psicopata, como o representado por Javier Bardem no filme “Onde os fracos não têm vez” (2007), dos irmãos Coen.

Tenho sido crítico contumaz das falhas brutais de gestão em sucessivos governos quanto à agropecuária. Seria justo, pois, que se reconhecesse o leque de suculentas benesses governamentais a ela ofertadas e abocanhadas.

Temos o horror de uma infraestrutura incapaz de permitir maior competitividade à produção brasileira. Também um emaranhado legislativo, embora este pouco importe, pois nunca cumprido. Recursos mal alocados. Planejamento falho.

O fato de os investimentos em infraestrutura terem sido expressivos, se não únicos, no período dos governos militares, deveria permanecer ad finem? A resposta deveria vir da iniciativa privada.

Poder-se-ia investir em infraestrutura na economia “pós-milagre”, posta em sucessivas crises, baixo crescimento, hiperinflação, duas quebras, sob a guarda do FMI, e que nem mesmo foi capaz de conceder alimentos e emprego aos seus não cidadãos?

Fez-se, então, a luz neoliberal das privatizações.

Um exemplo: a partir do final da década de 1980 e durante os anos 1990, empresas nacionais e estrangeiras de fertilizantes foram chamadas na esperança de que, livres do jugo governamental, pudessem crescer e investir.

Graças aos agricultores, confiantes no uso de tecnologia, crescer, cresceram; investir, neca de pitibiriba. Comprado por um grupo de empresas, sob o auspicioso auxílio de um pandeiro BNDES, hoje o complexo estatal “fértil” pertence a Vale e Petrobras.

Resultado: em 2013, a demanda de adubos foi coberta 70% com importações.

Cabe também lembrar como a agropecuária fez e faz sua expansão em áreas novas de terras baratas. Não, não serei chato em apontar a devastação ambiental. Falo da rapidez com que são abertas áreas de plantio contraposta ao tempo que leva a execução de corretos modais de transporte, estruturas de armazenagem, geradoras de energia, portos, e tudo mais.

Meio que assim: o desbravador vai lá para uma região inexplorada no Maranhão, Piauí, Tocantins, Bahia, ou no passado Sinop (MT), começa a plantar, produz, precisa armazenar e escoar a produção. Acha mesmo que “amanhã” estará lá uma estrada asfaltada à sua disposição? São passos diferentes em escolhas de risco calculado.

O mesmo a dizer das inovações tecnológicas. Há pelo menos vinte anos assisto simpósios, congressos, workshops, o escambau, dizendo que o setor de pesquisa precisa se aproximar da iniciativa privada. Quem não está tirando quem para o baile?

Fonte: Carta Capital

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