Economista, Especialista em Economia e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Paraná e Graduando em Estatística, também, pela Universidade Federal do Paraná.

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Disparo no custo de grandes projetos atormenta petrolíferas

O custo de um projeto da Exxon, Shell e outras empresas no Mar Cáspio saltou de US$ 10 bilhões para US$ 40 bilhões NCOC/Associated Press
A Chevron Corp. CVX +0.39%  , Exxon Mobil Corp. XOM -1.18%  e Royal Dutch Shell RDSB.LN -0.49%  PLC gastaram mais de US$ 120 bilhões no ano passado para aumentar sua produção de petróleo e gás — praticamente o mesmo custo de enviar um homem à lua hoje.

Até agora, no entanto, as três gigantes do petróleo têm poucos resultados para mostrar. A produção de petróleo e gás caiu apesar dos investimentos de meio trilhão de dólares que as três fizeram nos últimos cinco anos.

Ontem, a Shell informou que seu lucro no quarto trimestre do ano passado despencou 71% ante o mesmo período de 2012, para US$ 2,2 bilhões. O lucro em todo o ano de 2013 foi de US$ 16,7 bilhões, menor que os US$ 27,2 bilhões de 2012.

Já o lucro da Exxon no quarto trimestre, também divulgado ontem, caiu 16%, para US$ 8,35 bilhões. A Chevron divulgará seus resultados hoje.

Um dos principais problemas que estão prejudicando o desempenho dessas empresas é o custo de muitos dos novos "megaprojetos" necessários para substituir os campos cujas reservas estão se exaurindo.

Um projeto para produzir petróleo em cinco ilhas artificiais no Mar Cáspio vai custar cerca de US$ 40 bilhões a um consórcio de empresas que inclui Exxon e Shell, bem mais que os US$ 10 bilhões orçados inicialmente. O custo previsto de um projeto de gás na Austrália chamado Gorgon, que pertence à Chevron, Exxon e Shell, saltou 45%, para US$ 54 bilhões. A Shell está gastando ao menos US$ 10 bilhões numa tecnologia ainda não comprovada para equipar um supernavio com uma unidade de processamento de gás natural e assim poder explorar campos remotos, segundo pessoas que já trabalharam no projeto.

A procura por novas reservas sempre foi arriscada e levou as petrolíferas a perfurar poços abaixo do nível do mar e em regiões instáveis da África, Ásia e Oriente Médio. Agora, essa busca está mais complicada e cara do que nunca. O petróleo que era mais fácil de ser extraído se esgotou há muito tempo e os campos mais produtivos são geralmente controlados por estatais em países como Venezuela e Arábia Saudita.

Isso está colocando em risco as margens de lucro das empresas. A Exxon está ampliando seu endividamento, usando cada vez mais seus próprios recursos e recomprando menos ações para ajudar a cobrir seus gastos de capital. Ela informou que esses custos atingiriam cerca de US$ 41 bilhões no ano passado, 51% a mais que em 2009.

O foco em megaprojetos fez com que as três petrolíferas chegassem tarde ao boom do gás de xisto na América do Norte, perdendo lucros que acabaram nos bolsos de empresas menores, mais ágeis e pioneiras na extração de petróleo e gás das formações pouco permeáveis de xisto.

Mas as americanas Exxon e Chevron estão confiantes que seus grandes projetos elevarão a produção em três anos. "Antes de fazermos o primeiro corte com uma serra, medimos cinco vezes em vez de uma", diz Ken Cohen, vice-presidente de Relações Governamentais da Exxon.

Em 2017, a Exxon vai extrair um milhão de novos barris de petróleo por dia e o equivalente em gás natural, segundo executivos. Sua produção começou a se recuperar no fim de 2013, após dois anos de queda, ajudada pelo petróleo de um projeto de areias betuminosas no Canadá, avaliado em US$ 13 bilhões. O custo do projeto subiu US$ 2 bilhões desde 2011 devido a exigências regulatórias e de licenciamento.

A Shell, por sua vez, está reconsiderando alguns investimentos em megaprojetos. Depois de ter feito seu primeiro alerta de resultados em dez anos e prometido se concentrar mais em lucratividade que em ampliar a produção, a companhia anunciou ontem que estava suspendendo seu projeto de exploração no Ártico americano devido a obstáculos jurídicos. (Um tribunal de recursos determinou semana passada que o governo dos Estados Unidos se baseou em "informações inadequadas" no processo de concessão de licenças para o projeto.)

Os gastos líquidos de capital da Shell em 2013 somaram US$ 44,3 bilhões, quase 50% a mais que em 2012.

Especialistas da indústria dizem que será difícil para as gigantes do setor gastarem menos porque elas precisam repor o petróleo e o gás que estão extraindo para se manter competitivas mundialmente. "Se você não gastar, acaba encolhendo", diz Dan Pickering, alto executivo do Tudor, Pickering Holt & Co., banco de investimento americano especializado no setor de energia.

Ainda assim, a Shell informou que deve reduzir seus gastos de capital este ano para perto de US$ 37 bilhões.

A Chevron tem sido particularmente agressiva, prometendo um incremento de 25% na sua produção de petróleo e gás até 2017. No ano passado, ela injetou US$ 42 bilhões em projetos de óleo e gás, mais que o dobro do total de 2010, apesar de a receita anual da Chevron ser metade das receitas da Exxon e da Shell. A Chevron planeja gastar mais US$ 40 bilhões este ano.

Os projetos mais gigantescos da Chevron não geraram ainda nenhum centavo — e isso não deve ocorrer até o próximo ano. Analistas estimam que a companhia divulgará uma queda de 20% no lucro de 2013 ante 2012, para US$ 21 bilhões.

O projeto de gás natural Gorgon é um dos exemplos mais extremos do descontrole de custos que assombram a Chevron, a Exxon e a Shell. As três se uniram em 2009 para construir instalações de processamento numa ilha, uma reserva ecológica a cerca de 65 quilômetros da costa da Austrália, para explorar reservas estimadas em 1,1 trilhão de metros cúbicos. Gorgon poderia ser produtivo por décadas e atender a demanda do Japão, da Coreia do Sul e da China.

A Chevron colocou mais de US$ 18 bilhões do próprio dinheiro no projeto, do qual tem uma fatia de 50% e é a operadora. A Exxon e a Shell têm 25% cada.

O projeto apresenta desafios particularmente difíceis. O gás produzido deve ser transportado por cerca de 130 quilômetros no fundo do mar até a Ilha Barrow, onde tem que ser purificado, resfriado, condensado e transformado em estado líquido para poder ser enviado aos tanques.

Os custos logo se mostraram maiores que o previsto. Em dezembro de 2002, com cerca de 50% do projeto concluído, a Chevron estimou os custos em US$ 52 bilhões, ou 40% acima do orçamento inicial. No mês passado, a Chevron adicionou mais US$ 2 bilhões a este total. Segundo ela, o Gorgon está 75% pronto.

Fonte: The Wall Street Journal

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