Economista, Especialista em Economia e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Paraná e Graduando em Estatística, também, pela Universidade Federal do Paraná.

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Frágil? Brasil cresce dependente do exterior

A economia atingiu o patamar mais elevado de necessidade de financiamento com capital estrangeiro desde 2006

Rio - O Brasil acordou nesta quarta-feira inusitadamente atrelado à economias, à primeira vista, distintas da sua e sob o risco de ingressar em um redemoinho internacional de alta das taxas básicas dos juros - iniciado por volta da zero hora de Brasília, na Turquia, a mais de dez mil quilômetros de distância.

Com o título de "frágil", utilizado por analistas estrangeiros para definir os países emergentes, pesa sobre o país não só um passado recente de instabilidade, como uma necessidade de financiamento em patamares elevados, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Foram R$ 130 bilhões no período de janeiro a setembro de 2013, ainda sem as estatísticas do quarto trimestre, que serão divulgadas somente em março. Esse é o pior resultado desde 2006, último ano em que o país apresentou capacidade de financiamento, de R$ 21,4 bilhões (diferença entre receitas e gastos, incluindo as transações com outros países, que resulta em sobra de dinheiro).

Desde então, aumentou o consumo pelas famílias de produtos importados e o número de viagens ao exterior, sinais de um crescimento financiado pelo capital externo, numa dependência que cresce ano a ano, alcançando seu maior nível em 2013. A associação desse cenário interno a um ambiente internacional mais turbulento tem repercussões ainda não tão claras por aqui.

Ontem, foi a vez de a África do Sul elevar suas taxas após quase seis anos de estabilidade. O susto maior, entretanto, ocorreu na terça, na Turquia, onde o presidente da autoridade monetária, Erdem Basci, surpreendeu o mundo com a decisão de disparar os juros de 7,75% ao ano para 12%. A Índia foi mais comedida, mas, assim como os outros dois emergentes, optou pelo aumento, de 0,25 ponto percentual, para 8%. O pano de fundo é o receio de que o fim do programa expansionista dos Estados Unidos resulte numa fuga expressiva dos investidores e na consequente desvalorização das moedas dos emergentes - favorecidas no período de crise nos Estados Unidos e na Europa e de boom das commodities, principal pauta de exportação desse grupo.

No Brasil, economistas questionam a homogeneidade dos "emergentes frágeis". Em jogo está a capacidade de dar continuidade à atração de capital estrangeiro e levar adiante desafios de infraestrutura.
"O Brasil continua sendo um dos principais países do mundo em investimento estrangeiro", contesta José Tavares Araújo Júnior, diretor do Centro de Estudos de Integração e Desenvolvimento (Cindes), especializado em mercado internacional. "Há oportunidades, desde que o governo demonstre solidez, com regras firmes para os investimentos. O Brasil ainda é visto como um país seguro", diz a professora da Uerj e do Ibre/FGV, da área de economia mundial, Lia Valls.

Para Maucir Fregonesi, sócio do escritório Siqueira Castro Advogados, as recentes turbulências podem levar à alta da Selic. "A verdade é que a inflação no Brasil continua alta e vem estando fora do controle há algum tempo", ressalta.

Para o diretor do Cindes, no entanto, não faz sentido a inclusão do Brasil em um grupo supostamente homogêneo, o dos emergentes. Em sua opinião, os investidores costumam avaliar os países segundo suas variáveis macroeconômicas, como a relativa ao mercado de trabalho: "No máximo, os investidores analisam grupos reunidos por um acordo comercial, como o Mercosul".

O estabelecimento de metas difíceis de serem cumpridas - principalmentede inflação e superávit primário - dão, sim, margem para que os estrangeiros duvidem da atratividade brasileira, segundo Lia Valls. Ainda assim, o Brasil estaria mais associado à China, por exemplo, onde também há a necessidade de investimento em infraestrutura, do que à Turquia. Quarta-feira, o premiê chinês Li Keqiang anunciou que irá levar adiante amplas reformas neste ano e sustentar o crescimento da economia, de acordo com a agência de notícias Xinhua.
Fonte: Brasil Econômico

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