Economista, Especialista em Economia e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Paraná e Graduando em Estatística, também, pela Universidade Federal do Paraná.

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Turbulência em emergentes não abala confiança do Fed na economia dos EUA

Ben Bernanke conseguiu unanimidade dos membros do Fed para reduzir o estímulo em sua última reunião no BC Associated Press
O Federal Reserve, banco central americano, aparentemente sem se abalar com a recente turbulência nos mercados emergentes, anunciou ontem que vai reduzir ainda mais seu programa de compra de títulos de dívida no próximo mês, uma medida que concretiza a estratégia do Fed de reduzir gradativamente o programa de estímulo econômico em cada uma das suas reuniões neste ano enquanto a economia dos Estados Unidos continuar melhorando.

O comitê de política monetária do Fed informou ontem que vai reduzir de US$ 75 bilhões para US$ 65 bilhões as compras mensais de ativos. A decisão de reduzir o programa foi unânime — a primeira vez que houve unanimidade em uma reunião de política monetária desde junho de 2011. A reunião também foi a última de Bernanke antes de ele deixar o comando do Fed, amanhã. Sua sucessora, Janet Yellen, assumirá o cargo no sábado.

As autoridades do Fed não fizeram qualquer menção em seu comunicado à turbulência que tem abatido desde quinta-feira passada os mercados da Índia, Turquia, África do Sul, Argentina e outras economias emergentes.

"A posição clara do Fed é que o recuo continuará; seria necessário um enfraquecimento sério nos EUA ou um desastre real [nos mercados emergentes] para levar o [ Fed ] a uma pausa", disse Ian Shepherdson, economista-chefe da Pantheon Macroeconomics, em nota a clientes.

O programa de compra de títulos tem como objetivo estimular uma recuperação econômica mais robusta nos EUA, reduzindo as taxas básicas de juros na esperança de estimular mais gastos, investimentos e contratações. No processo, o Fed injetou dinheiro novo no sistema financeiro e parte dele fluiu para as aquecidas economias de países em desenvolvimento, onde os investidores procuravam retornos mais elevados. Agora, com as taxas de juros dos EUA e o crescimento econômico aumentando, esses fluxos estão se invertendo, fazendo com que algumas moedas de mercados emergentes caiam abruptamente e criando o caos nos mercados financeiros.

Uma série de aumentos de juros por parte dos bancos centrais, na Índia, Turquia e África do Sul nos últimos dias não conseguiu acalmar o tumulto em seus mercados e em outras economias em desenvolvimento. A volatilidade do mercado financeiro continuou ontem, na esteira da decisão do Fed.

Um esforço do banco central da Turquia para dar impulso à abatida lira com um enorme aumento dos juros resultou apenas numa alta passageira da moeda turca. A África do Sul seguiu o exemplo com um aumento menor, mas não conseguiu evitar que o rand caísse para seu ponto mais baixo em cinco anos. A Índia já havia surpreendido o mercado com um aumento da taxa de juros, mas não conseguiu proteger a rupia de novas perdas ontem.

Os mercados de ações dos EUA e Europa caíram, com a Média Industrial Dow Jones recuando 1,2%, para 15738,8 pontos. A maioria das bolsas europeias registrou quedas similares. As notas do Tesouro americano e o iene, que são considerados um porto seguro em momentos de estresse no mercado, subiram.

O que preocupa os investidores é a incerteza de que os bancos centrais possam estancar a onda de vendas que vem abalando os mercados emergentes desde que o governo da China anunciou uma desaceleração no setor manufatureiro, na semana passada.

O BC turco surpreendeu os mercados apresentando um aumento da taxa de juros muito maior que o esperado pelos economistas. Depois de resistir a qualquer aumento na taxa básica durante meses, temendo travar o crescimento econômico, o banco central mais que dobrou a taxa de juros que cobra dos bancos para empréstimos overnight, de 4,5% para 10% ao ano. Mas os efeitos positivos da ação não duraram muito tempo. A lira voltou a afundar aos níveis de antes da decisão, com o dólar fechando em pouco menos de 2,25 liras. O mercado ficou mais agitado depois que um aumento menor da taxa básica de juros pelo banco central da África do Sul provocou uma alta de curtíssima duração antes de a sua moeda registrar a maior baixa em cinco anos. Moedas de outros emergentes, como o real, o peso mexicano, o zloty polonês e o forint húngaro também caíram fortemente, o que sugere que operadores e investidores estão procurando evitar apostas mais arriscadas em geral.

O Fed decidiu reduzir seu programa de compras de títulos de dívida porque vê um fortalecimento da economia americana, qua agora precisa de menos ajuda. Os dirigentes do Fed disseram em seu comunicado que "o crescimento da atividade econômica acelerou nos trimestres mais recentes". O banco central também observou que tanto os gastos das famílias quanto os investimentos fixos das empresas "avançaram mais rapidamente nos últimos meses" .

Mas as autoridades descreveram os indicadores do mercado de trabalho como "conflitantes, provavelmente se referindo aos dados decepcionantes de dezembro, e observaram que a recuperação do mercado imobiliário "desacelerou um pouco".

O Fed reiterou sua visão de que "os riscos para as perspectivas da economia e para o mercado de trabalho estão se tornando mais equilibrados", linguagem que incluiu em seu comunicado pela primeira vez desde dezembro.

O Fed anunciou que começaria a reduzir seu programa de estímulo após sua reunião nos dias 17 e 18 de dezembro e fez o primeiro corte de US$ 10 bilhões a partir das compras de janeiro. Na ocasião, Bernake indicou claramente que a preferência da instituição era reduzir o programa em US$ 10 bilhões em cada uma das reuniões de política monetária ao longo deste ano, encerrando-o definitivamente perto do fim do ano.

A decisão de ontem reafirma esse cronograma. O Fed informou que reduzirá sua compra de notas do Tesouro de longo prazo para US$ 35 bilhões ao mês e as compras de ativos lastreados em hipotecas para US$ 30 bilhões ao mês, uma redução de US$ 5 bilhões para cada. O Fed também votou a favor de manter a taxa de juros de curto prazo próxima a zero, nível em que está desde o fim de 2008. As autoridades da instituição repetiram o discurso de que provavelmente a manterão nesse patamar por um bom tempo depois que a taxa de desemprego dos EUA atingir 6,5%. (Ela foi de 6,7% em dezembro.)

"O Fed não deixou que os mercados emergentes o tirassem do curso", diz Thomas Roth, diretor-presidente do grupo de negociação de títulos do governo americano da Mitsubishi UFJ Securities (USA) Inc., em Nova York.

"É certamente um daqueles eventos inquietantes", diz Tom Stringfellow, diretor de investimentos da Frost Investment Advisors, que administra US$ 10 bilhões. O fundo, que tem uma pequena posição nos emergentes, "está tentando digerir se é hora de alguns [saírem] do mercado", diz. Se essa for a conclusão, "de onde tiramos o dinheiro? Dos ativos menos atraentes, que podem muito bem ser os mercados emergentes".

Fonte: The Wall Street Journal

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