Economista, Especialista em Economia e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Paraná e Graduando em Estatística, também, pela Universidade Federal do Paraná.

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Gás de xisto, o grande propulsor do crescimento da economia americana

A redução do déficit comercial americano, graças à maior produção interna de petróleo, tem acelerado a recuperação econômica Bloomberg
O Produto Interno Bruto dos Estados Unidos cresceu a uma taxa anualizada de 3,2% no quarto trimestre, informou ontem o Departamento do Comércio, fortalecendo as evidências de que a economia do país passou a avançar num ritmo mais acelerado. Se não fosse pela paralisação do governo federal ocorrida em outubro, a alta teria sido de 3,5%.

Mas o crescimento do PIB poderia ter sido 1,3 ponto percentual menor se não fosse pela redução de 11,8% do déficit comercial, ajustada pela inflação. A última vez que a diferença na balança comercial caiu tanto foi no primeiro semestre de 2009, quando o comércio despencou devido ao esfriamento da economia global.

Esse não é o caso agora. As exportações estão crescendo firmemente, enquanto o crescimento das importações perdeu força, graças a oito meses consecutivos de declínio na quantidade de petróleo que chega aos EUA de outros países — um dividendo econômico que é fruto do aumento da produção doméstica de petróleo e gás de xisto.

Os economistas do UBS calculam que o impulso gerado pela redução das importações no setor de energia vai continuar, com a diminuição do déficit comercial desse setor em relação ao resto da economia com 0,4 ponto percentual do PIB este ano.

Obviamente, há sempre quem seja mais pessimista. Como apontado em um novo estudo publicado pelo Conselho de Relações Exteriores, a teoria econômica dita que a queda na importação do setor de energia deve, por fim, estimular o crescimento das importações de outros produtos e serviços. Ela também pode impulsionar o valor do dólar, tornando as exportações americanas menos competitivas.

Além disso, um boom de investimento no setor de petróleo aumenta o custo de capital e mão de obra em outros setores. Isso está ocorrendo na Austrália, onde esse efeito está prejudicando outras partes da economia, como o turismo.

Mas os investidores não devem ignorar os benefícios. Por um lado, o dólar provavelmente não vai se comportar de forma tão submissa quanto o dólar australiano em relação às mudanças no ritmo das exportações. E os obstáculos que a manufatura e outras indústrias enfrentem devido às turbulências no câmbio podem ser minimizados pelos custos mais baixos de energia.

No curto prazo, como observa um novo livro publicado pelo Instituto Peterson, chamado "Fueling Up", (algo como "Combustível em alta", em tradução livre), o cenário econômico atual é um ponto vital a ser considerado. A concorrência por recursos e mão de obra na produção doméstica de energia reduz as perspectivas de crescimento para outros setores quando a economia já está seguindo em ritmo acelerado.

Mas ao contrário da Austrália, onde a taxa de desemprego não supera a marca de 6% desde 2003, os EUA têm uma grande quantidade de mão de obra e capital disponível. Então, investimentos em lugares como o Estado da Dakota do Norte podem estimular o crescimento econômico geral sem gerar nenhum efeito colateral pelos próximos anos.

O Instituto Peterson estima que, junto com os custos menores de energia, isso pode elevar a taxa de crescimento do PIB anual em algo em torno de 0,09 e 0,19 ponto percentual até 2020 — equivalente à Lei de Reinvestimento e Recuperação dos EUA entre 2009 e 2013.

A obsessão atual do mercado é saber até quando o crescimento da economia dos EUA — e de outros lugares — depende da máquina de estímulo do Federal Reserve, o banco central americano. Os investidores não devem permitir que isso os impeça de ver outras forças que atuam, literalmente, no subsolo.

Fonte: The Wall Street Journal

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