Economista, Especialista em Economia e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Paraná e Graduando em Estatística, também, pela Universidade Federal do Paraná.

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Bernanke fez progressos, mas Yellen terá o maior desafio

Um dos principais feitos de Bernanke à frente do Fed foi acalmar os mercados Associated Press
Bill Hackney ficou horrorizado quando o presidente do Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, injetou centenas de bilhões de dólares no sistema financeiro depois da crise de 2008-2009. "Três ou quatro anos atrás eu pensava, como muita gente, que Bernanke e o Fed tinham perdido a cabeça" e iriam criar uma inflação enorme, diz Hackney, sócio sênior da Atlanta Capital Management LLC, que administra US$ 18 bilhões.

Mas os mercados se estabilizaram, a inflação se manteve baixa e Hackney mudou de opinião. "Fiquei convencido que Bernanke estava certo e eu, errado", diz.

Hoje e amanhã, Bernanke presidirá sua última reunião de política monetária do Fed antes de deixar o cargo, em 1o de fevereiro. Muitos críticos ainda o acusam de distorcer a economia. E até admiradores se preocupam com uma tarefa enorme que ficou pendente: encerrar o estímulo sem precedentes do Fed, de que os mercados hoje dependem.

Mas muitos reconhecem, algumas vezes a contragosto, que Bernanke percorreu um longo caminho para atingir seu principal objetivo traçado em 2008: ele estabilizou os mercados e restaurou em grande medida a confiança dos investidores e do público.

"Durante o trauma real no quarto trimestre de 2008 e o primeiro de 2009, as pessoas negociavam com medo. Agora, o padrão de negociação está muito mais normalizado", diz Andy Brooks, que lidera as operações de bolsas da firma de gestão de recursos T. Rowe Price, TROW -1.12%  que administra cerca de US$ 650 bilhões.

Num discurso em 2008 no Clube de Economia de Nova York, Bernanke descreveu sua meta: "Como em todas as crises passadas, na raiz do problema está a perda de confiança dos investidores e do público na saúde das instituições financeiras vitais dos mercados. A crise vai terminar quando respostas abrangentes de líderes políticos e financeiros restaurarem a confiança, trazendo os investidores de volta aos mercados [...]".

Os avanços desde então são notáveis. A Média Industrial Dow Jones mais que dobrou desde seu mínimo de 2009. O Índice Composto Nasdaq triplicou. Com novas preocupações sobre a China e outros mercados em desenvolvimento se espalhando, somadas aos receios de que as bolsas americanas já passaram da hora de sofrerem um recuo, o índice Dow sofreu sua pior queda semanal desde 2011 na semana passada.

Ainda assim, muitos investidores hesitam em vender seus ativos por medo de perder ganhos futuros. Essa é uma grande mudança em relação a apenas alguns anos, quando o medo que tinham era de comprar. Apesar do resultado da semana passada, o Dow está apenas 4% abaixo do recorde registrado em 31 de dezembro.

Gordon Fowler, diretor-presidente da Glenmede Trust Co., que administra US$ 25 bilhões na Filadélfia, diz que agradeceria a Bernanke se o encontrasse, mas acrescenta que a tarefa mais difícil ainda está por vir. "Os esforços para estabilizar os mercados têm funcionado muito bem, talvez bem demais", diz. "Isso ainda está incompleto. A parte mais difícil não é necessariamente só oferecer o estímulo. A parte difícil é retirar o estímulo sem deixar a inflação sair de controle e sem desfazer todo o bom trabalho que o estímulo gerou até agora."

Segundo ele, no período mais comparável, quando o estímulo foi retirado nos anos 40, o esforço deu certo, mas ao custo de uma inflação entre 4% e 5% ao ano.

Como qualquer medicamento forte, o estímulo tem efeitos colaterais indesejáveis. Ele deixou alguns investidores confiantes demais porque acreditam que o Fed agirá em qualquer crise e resgatará os mercados. Esse sentimento, conhecido como "risco moral", ajudou a inflar o valor das ações, principalmente as das empresas menores com fundamentos questionáveis. Também reacendeu a demanda por vários ativos de alto risco que eram populares antes da crise.

Brooks, da T. Rowe Price, teme que haja 13 bolsas concorrentes que exigem supervisão e outros 50 "dark pools", mercados privados pouco regulados. Ele receia que as negociações computadorizadas possam gerar outra queda abrupta como a de maio de 2010, quando o índice Dow perdeu centenas de pontos em poucos minutos e depois rapidamente recuperou a maior parte.

"A história olhará de modo favorável o mandato de Ben Bernanke no Fed", diz Marc Stern, diretor-presidente da Bessemer Trust, que administra US$ 95 bilhões. "Ele tinha que ser criativo e corajoso, e ele foi ambos."

Mas agora Stern teme os efeitos colaterais. Ele espera que o Fed atue rápido não apenas para encerrar os gastos diretos com o estímulo, mas também para começar a elevar as taxas de juros de curto prazo a um patamar mais normal — hoje elas estão próximas a zero. Os aposentados, por exemplo, são prejudicados porque suas economias recebem uma remuneração baixa.

A inflação aumenta os riscos de investidores, líderes empresariais e autoridades do governo tomarem decisões equivocadas com relação a gastos.

Esses serão os desafios para a sucessora de Bernanke, Janet Yellen. Será difícil. "Fazer isso direito é como tentar pousar um jumbo num porta-aviões", diz Fowler, da Glenmede.

Fonte: The Wall Street Journal

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