Munido de um otimismo singular, Roberto Padovani, economista-chefe da Votorantim Corretora, acredita que Europa, EUA e China promoveram ajustes necessários e 2013 será de expansão.
O ano de 2012 foi marcado por questões em que dificilmente se separava o embate político das decisões econômicas. As duas ciências caminharam lado a lado quando o assunto era a dissolução da Zona do Euro, a nova injeção de liquidez nos Estados Unidos ou a desaceleração da China.
Os agentes políticos envolvidos, em todos os casos, lançaram mão de estratégias para, de alguma forma, tentar reanimar a economia.
Roberto Padovani, economista-chefe da Votorantim Corretora, analisa cada um desses eventos e garante que o consenso que está sendo formado é de que 2013 será um ano melhor.
"O que se vê em comum entre China, Europa e Estados Unidos é que não houve uma ruptura radical e, portanto, há chance de uma retomada econômica", afirmou o economista em entrevista ao Brasil Econômico.
Em cada continente tivemos ajustes específicos que colaboram para que as políticas surtam efeito, explica Padovani. "Há um ciclo favorável no curto prazo", diz.
Em julho, Mario Draghi, presidente do Banco Central Europeu (BCE), afirmou que faria o que fosse preciso para salvar o euro. Cinco meses depois, qual a avaliação do cenário europeu?
A entrevista em que Draghi disse que faria tudo o que fosse necessário para salvar o euro tem a seguinte leitura: que a Zona do Euro, politicamente, vai se organizar para manter o bloco.
É uma novidade, porque no início muitos achavam que seria melhor, do ponto de vista político e econômico, simplesmente deixar a ideia da Zona do Euro para lá. Os sinais políticos, no entanto, estão dizendo que é melhor fazer todos os esforços para manter a Zona do Euro.
Temos alguns exemplos práticos, como a postura do BCE de comprar títulos soberanos no mercado secundário de países que tiverem dificuldade de rolar a dívida.
Outro ponto é o esforço dos países em promover ajustes estruturais e de curto prazo, além de flexibilizar os programas de ajustes, como no caso da Grécia.
A ideia geral que ficou de 2012 é de que politicamente todos esforços serão feitos para manter a moeda europeia. Isso foi entendido pelo mercado, porque a volatilidade nos mercados de ações caiu muito a partir do terceiro trimestre.
Ninguém acredita, neste momento, que será adotada uma opção de ruptura em detrimento do ajuste. Há um ano isso não era claro.
O BCE deveria reduzir o juro, atualmente em 0,75% ao ano, para estimular a economia da Zona do Euro?
Deveria. Mas antes de reduzir os juros, e portanto estimular a economia, você precisa estabelecer os canais de comunicação da política monetária.
Um exemplo prático é o seguinte: todo mundo tem medo que Grécia, Itália e Espanha tenham um problema mais grave. Então as pessoas retiram o euro e depositam na Alemanha e Franca, o que gera uma contração de liquidez no sul e excesso de liquidez no norte da Europa.
As condições de crescimento ficam mais duras, porque falta dinheiro no sul, e no norte as coisas ficam excessivamente frouxas. Não adianta reduzir a taxa de juros para todos os países da Europa porque não tem crédito e a política monetária não funciona.
A estratégia do Draghi foi restabelecer as condições de liquidez e provar que nenhum país quebraria para trazer a confiança na economia novamente. Com isso, as pessoas não sacam seus recursos dos bancos, que ficam solventes e voltam a dar crédito. A partir do momento que os bancos voltam a dar crédito faz sentido reduzir o juro, porque o empréstimo fica mais barato.
O raciocínio do Draghi é sofisticado e correto, no sentido de que antes de reduzir juros é preciso normalizar as condições do mercado financeiro.
As perspectivas para 2013 na Europa são mais positivas?
Quando você resgata a confiança na Zona do Euro, o crédito, o consumo e o investimento voltam a funcionar. Portanto, o crescimento retorna.
Já é consenso que 2013 será um ano de crescimento econômico melhor que o desse ano, gerando um ciclo virtuoso.
Nos EUA, o Fed gastará US$ 40 bilhões por mês com a compra de ativos lastreados em hipotecas e manterá os juros baixos até meados de 2015. Já há algum reflexo efetivo da medida na economia?
Em relação aos Estados Unidos, temos três aspectos bem interessantes. O primeiro deles é que, passado os quatro anos da crise, é a primeira vez que a gente vê com clareza que o mercado imobiliário começa a se reaquecer, com trajetória de aumento de venda de casas e de preços.
Se você quer comprar uma casa o momento é agora, porque os preços estão baixos e as taxas de juros são muito atrativas. O mercado imobiliário gira a engrenagem da economia como todo, porque em uma situação de normalidade ele é responsável por 70% do PIB do país.
A segunda característica é que, verificada essa melhora, nota-se uma inflexão no mercado de trabalho. No auge na crise, a taxa de desemprego bateu 10%, e vem caindo após se estabilizar no patamar de 8% por seis meses.
O desempenho do mercado de trabalho reflete uma melhoria das condições de renda, além de ser um termômetro de crédito. Se tem crédito e renda, o consumo volta. E, com isso, o investimento também retorna, começando a girar a engrenagem.
O terceiro ponto, negativo, é a história do ajuste fiscal ou abismo fiscal, que pode matar essa retomada. Para reerguer a economia, os Estados Unidos gastaram dinheiro público. Gastaram tanto que bateu no limite da dívida. O Congresso liberou maior endividamento desde que fosse apresentado um plano de convergência, caso contrário faria ajuste automático.
A preocupação é que não haja tempo hábil para um acordo para reverter a situação. Se nada for feito, o Congresso estima que os EUA sairiam de um crescimento de 2,7% para apenas 0,5%, o que significa que teriam vários trimestres de recessão.
O custo é tão dramático do ponto de vista econômico, e também político, que ninguém é irresponsável o suficiente para tomar essa atitude.
A troca de poder na China pode trazer incertezas ao cenário global?
Creio que não. A decisão de se ter reformas econômicas é uma agenda consolidada na China. Não dá para imaginar nenhum tipo de retrocesso quando se fala de programa econômico. O que há é disputa de poder.
A classe política chinesa preserva a estabilidade, porque o país aprendeu no último século que instabilidade política pode ser dramática do ponto de vista econômico. O que mais se busca é a estabilidade institucional.
Junto com a crise global, o país percebeu que há mudanças estruturais ocorrendo internamente, com a mão de obra ficando mais cara e, diante do baixo crescimento mundial, que é preciso contar com consumo local. Além disso, há relatos de excesso de investimentos, como aeroportos, ferrovias e rodovias, com baixa capacidade de utilização.
Adicionalmente, a elite burocrática chinesa percebeu que não é mais possível crescer ao ritmo de 10% ao ano. Além das questões internas, há a crise global. Isso joga o crescimento para 7,5%.
E o governo não quer que o crescimento volte para 10% ao ano, porque teme bolhas no mercado imobiliário.
Esse menor crescimento, no entanto, não é visto como um colapso ou um descontrole. É uma administração de política colocando a China em um novo patamar.
Há um ano, muitos falavam que a economia chinesa cresceria 3% em 2012 por conta da bolha imobiliária e transição política. O que se passou a ver nos últimos trimestres é que os dados estão melhores, e a economia se estabilizou no patamar de 7,5%.
Fonte: Brasil Econômico
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