Economista, Especialista em Economia e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Paraná e Graduando em Estatística, também, pela Universidade Federal do Paraná.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

CONTRIBUIÇÕES DO SETOR DE BASE FLORESTAL PARA O DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO: UMA ANÁLISE EFEITO-RENDA




Por Ademilson de Souza Maciel[1]
Resumo
O presente trabalho trata da contribuição do setor de base florestal para o desenvolvimento econômico através da análise efeito-renda destacando o impacto sobre a taxa de desemprego no Brasil, tendo em vista que há um crescimento anual de 6,58% na geração de emprego por efeito-renda no setor. Inicialmente, foi apresentado um esquema da transformação da renda dos trabalhadores em consumo, dado que estes, ao receberem seus salários, irão despender parte deste em bens e serviços. Para cada setor o efeito é distinto, dependendo exatamente do perfil de consumo existente. Estimulando a produção de outros setores e realimentando o processo de geração de emprego. Posteriormente, são analisados seus impactos, através da regressão linear simples onde foi verificada a relação inversa entre taxa de desemprego e geração de emprego efeito-renda.

Palavras-chave: Setor de Base Florestal, Desenvolvimento Econômico, Efeito-Renda.




Introdução
O setor florestal brasileiro tem como função induzir o desenvolvimento econômico do país contribuindo para a manutenção da biodiversidade. Tendo como função estimuladora do desenvolvimento econômico, pois engloba áreas de grande relevância, envolvendo pequenas propriedades e comunidades dependentes de sistemas naturais bem como o aumento da produtividade do trabalhador florestal, a educação ambiental promovendo uma consciência conservacionista direcionada para o uso racional dos recursos escassos e substituindo fontes não renováveis de energia e matéria-prima (HOEFLICH, 2006).
Nesse processo, o setor de base florestal desempenha um importante papel no desenvolvimento, ao cumprir funções básicas, exercendo fortes efeitos de encadeamento no restante da economia. Em países com ampla base agrícola, como o Brasil, essa função de estimular o desenvolvimento econômico torna-se ainda mais importante, principalmente em regiões mais distantes dos centros industriais tradicionais (SOUZA, 2011).

Objetivo
O presente trabalho visa analisar a contribuição do setor de base florestal para a geração de trabalho resultante do efeito-renda e consequentemente no desenvolvimento econômico.

Objetivos Específicos
  1. ·         Avaliar o nível de geração de emprego efeito-renda no setor de base florestal;
  2. ·      Avaliar o impacto da geração de emprego efeito-renda do setor de base florestal na taxa de desemprego;


Material e Método
Aspectos conceituais teóricos
Setor de Base Florestal
            De acordo com Fisher (2009), O setor de base florestal compreende como atividades primárias da extração vegetal (baseadas na colheita dos produtos in natura, ou no manejo sustentado das florestas) e da silvicultura (cujas atividades principais são florestamentos e reflorestamentos). Como atividades secundárias, compreende as atividades de beneficiamento e processamento que se subdividem nos segmentos de produtos derivados de madeira (madeira sólida, painéis reconstituídos, celulose e papel, móveis, lenha, carvão vegetal, resíduos de madeira que são utilizados como insumos para produção de energia e outros produtos reconstituídos) e outros produtos de origem vegetal (erva-mate, resinas, óleos, fibras, essências, etc.).
            Segundo a FAO (2008), não há uma definição consensual do setor florestal. Idealmente, o setor deve ser definido de modo a incluir todas as atividades econômicas que mais dependem da produção de bens e serviços das florestas. Isso pode incluir atividades comerciais que dependem da produção de fibra de madeira, ou seja, produção industrial de madeira em tora, lenha e carvão vegetal; madeira serrada e painéis de madeira; papel e celulose e de móveis de madeira. Seriam também incluídas atividades como a produção comercial e transformação de produtos florestais não madeireiros e do uso de subsistência de produtos florestais. Neste setor, poderia até mesmo incluir atividades econômicas relacionadas com a produção de serviços florestais (embora seja difícil determinar exatamente quais atividades são realmente dependentes dos serviços florestais).

Desenvolvimento Econômico
            Segundo Souza (2011), não existe uma definição universalmente aceita de desenvolvimento. Porém há alguns economistas da chamada corrente estruturalistas, tais como Prebisch (1949), Furtado (1961), Singer (1977), definem o desenvolvimento econômico como implicação da mudança de estruturas econômicas, sociais, políticas e institucionais, com melhoria da produtividade e da renda média da população, ou seja, é conjunto de transformações intimamente associadas e que são necessárias à continuidade de seu crescimento.
            Portanto, desenvolvimento econômico define-se pela existência de crescimento econômico contínuo (g), em ritmo superior ao crescimento demográfico (g*), envolvendo mudanças estruturais com melhorias de indicadores econômicos, sociais e ambientais. Ele compreende um fenômeno de longo prazo, implicando o fortalecimento da economia nacional, regional e local, a ampliação da economia de mercado, a elevação geral da produtividade e do nível de bem-estar do conjunto da população alinhado a preservação do meio ambiente (Souza, 2011).
            Para Gremaud et. al. (2011), o conceito de desenvolvimento econômico muitas vezes é confundido com crescimento econômico. Crescimento é a ampliação quantitativa da produção, ou seja, de bens que atendam às necessidades humanas. Já o conceito de desenvolvimento é mais amplo, que inclusive engloba o de crescimento econômico.
            Dentro deste conceito, o importante não é apenas a magnitude da expansão da produção representada pela evolução do PIB, mas também a qualidade desse crescimento, ou seja, é levada em consideração a forma como esse crescimento ocorre e como os frutos desse crescimento revertem para uma melhor na qualidade de vida das pessoas (Gremaud et. al, 2011).

Geração de Emprego Efeito-Renda
            O “emprego efeito-renda”, como observado na figura 1, deriva da transformação da renda dos trabalhadores em consumo, dado que estes, ao receberem seus salários, irão despender parte deste em bens e serviços. Para cada setor, este efeito será distinto, dependendo exatamente do perfil de consumo existente. Estimulando a produção de outros setores e realimentando o processo de geração de emprego.

Figura 1 – Modelo: Geração de Emprego Efeito-Renda

Elaboração: Autor
Fonte de Dados
Os dados serão extraídos a partir de fonte de informações disponíveis no anuário estatístico de 2006 a 2012 da ABRAF[2] e Banco Central do Brasil.
Metodologia
Com o auxílio da estatística descritiva, os dados coletados nas fontes acima descritas serão formatados em quadros, gráficos e figuras para melhor entendimento e discussão dos resultados. O comportamento destas variáveis pode apresentar determinados padrões, os quais podem ser caracterizados por sua sazonalidade, tendência e ciclicidade.
Para a pesquisa quantitativa será utilizada recursos e técnicas estatísticas, tais como:
1.    Números-Índices: a partir de uma série numérica de valores absolutos (Xt), com dados distribuídos na mesma unidade de tempo. Esta metodologia constrói um número-índice com data base fixa arbitrariamente definida. Tal como:
                        Série de interesse: Xt; t = 1, 2, ..., n.
IBt : Índice de base fixa da série Xt (base fixa no período (B) da série)
IBt = (Xt x 100) / XB; t = 1, 2, ..., n e 1≤B≤n
2.    Modelo estatístico de uma regressão linear simples: este modelo, além de determinar se existe uma relação linear entre duas variáveis, X e Y, frequentemente se deseja conhecer a função que mostra como Y varia em função de X. O modelo linear simples adotado neste trabalho é:
Yi = α + βXi + ui
Com i = 1, ..., n. Nessa expressão, α + βXi é o componente de Yi (variável dependente) cuja variação depende linearmente de Xi (variável independente), e ui é o componente aleatório de Yi, ou seja, é denominado erro. Comumente, considera-se que as variações em ui se devem à influência de outras variáveis não incluídas no modelo. Para tanto, seguindo este modelo, definiremos:
TxDesemp = taxa de desemprego, período de 2005 a 2011;
EmEfRenda = geração de trabalho efeito-renda, período de 2005 a 2011;
β = parâmetro desconhecido, porém fixo, e que é chamado de coeficiente de regressão, também conhecido como coeficiente de inclinação, e;
u = termo de perturbação, ou seja, é um substituto de todas as variáveis omitidas do modelo mas que coletivamente afetam, também conhecido como erro aleatório.



Fundamentação Teórica
Modelo Básico de Desenvolvimento Econômico
O termo desenvolvimento, segundo SOUZA (2011), não significa apenas no aumento quantitativo de uma economia. Os fatores de crescimento constituem as condições iniciais, ou necessárias ao desenvolvimento. Tais condições vinculam-se à melhoria do nível de vida da população, à preservação ambiental e à estabilidade econômica e política de cada país.
            Maior emprego de capital (incluindo insumos modernos) torna-se necessário para aumentar a produtividade do trabalho e da terra, bem como para viabilizar a adoção de inovações tecnológicas na produção e comercialização, quase sempre acompanhadas por novos equipamentos e máquinas mais eficientes. A disponibilidade de capital aumenta o rendimento dos trabalhadores, proporcionando-lhes melhores salários, assim como maior nível de lucro para os empresários (SOUZA, 2011).

Funções do Setor de Base Florestal no Desenvolvimento Econômico
            Essa abordagem[3], segundo Souza (2011), afirma que existe correlação positiva entre o crescimento de setor de base florestal e o crescimento dos demais setores. Ele decorre tanto pela grande participação do setor no produto total, como por suas interligações intersetoriais, principalmente com a indústria.
            Ademais, o crescimento do setor florestal provocaria crescimento mais do que proporcional no resto da economia, por meio do efeito multiplicador. Para tanto, esse encadeamento do setor sobre o resto da economia deriva de cinco funções básicas (JHONSON e MELHOR, 1961, citado por SOUZA, 2011):
1.    Absorção de mão-de-obra pela indústria e evitar a elevação dos salários pagos, a fim de não deprimir a taxa de lucro e assegurar a acumulação contínua de capital;
2.    Fornecer matérias-primas para o setor urbano-industrial, à medida que a demanda cresce com o desenvolvimento e a intensificação do processo de urbanização;
3.    Gerar divisas estrangeiras, por meio da exportação de produtos acabados e matérias-primas, para financiar o desenvolvimento, adquirir importações e amortizar a dívida externa;
4.    Transferir poupanças para inversões na indústria e para a implantação da infraestrutura econômica e social, e;
5.    Constituir mercados para bens industriais, complementando os mercados urbanos.
Assim, expandindo simultaneamente o setor de base florestal e os demais setores da economia, favorece o crescimento econômico e aumenta o bem-estar social, ao gerar maior nível de emprego e renda.

Análises dos Dados
Nesta seção apresentadas as tendências do crescimento da geração de trabalho e consequentemente na diminuição da taxa de desemprego bem como as projeções da quantidade de empregos gerados por efeito-renda.
No gráfico 1, observa-se o crescimento da geração de emprego por efeito-renda impactando na queda da taxa desemprego no período de 2005 a 2011. Ou seja, o setor de base florestal tem uma função estimuladora de produção de outros setores e de realimentação do processo de geração de emprego.
Gráfico 1 – Impacto do Efeito-Renda na Taxa de Desemprego

Fonte: Relatório Anual ABRAF de 2006 a 2012, Banco Central.
Elaboração: Autor
           
De acordo com os cálculos do autor, para emprego direto criado no período de 2005 a 2011, foi criado 3,51 empregos por efeito-renda e para cada emprego direto, criou-se 1,43 empregos efeito renda.
           
Conforme observado na tabela 1, abaixo, os resultados da regressão foram:

Tabela 1 – Resultado Regressão
Source
SS
df
MS
 Number of obs    =
F(1, 5)                   =
Prob > F               =
R-squared            =
Adj R-squared      =
Root MSE             =
7
31.76
0.0024
0.8640
0.8368
.62072
Model
12.2357314
1
12.2357314
Residual
1.9264389
5
.385287781
Total
14.1621703
6
2.36036171






TxDesemp
Coef.
Std. Err.
t
P>|t|
[95% Conf. Interval]
EmEfRenda
-4.36e-06
7.74e-07
-5.64
0.002
-6.35e-06
-2.37e06
_cons
18.03084
1.750396
10.30
0.000
13.5313
22.53037
Fonte: Relatório Anual ABRAF de 2006 a 2012, Banco Central.
Elaboração: Autor
            O resultado, a priori, de que o coeficiente angular fosse negativo foi verificado, o que é verdade, pois à medida que a quantidade de emprego efeito-renda aumenta a tendência da taxa de desemprego é de queda. O valor R² é bem alto, mas o modelo parece, em geral, satisfatório.
            O coeficiente angular do modelo nos informa que para cada incremento de uma unidade na geração de emprego efeito-renda, temos, em média, uma queda de 0,000000436% na taxa de desemprego no Brasil.
            Segundo cálculos do autor, o crescimento médio anual da geração de emprego por efeito-renda no setor de base florestal gira em torno de 6,58% a.a. Assim, pode-se concluir que, conforme observado na tabela 2, em 2015 serão criados 3.372.934 empregos por efeito-renda.
Tabela 2 – Quantidade de Empregos Gerados por Efeito-Renda
Ano
Emprego Efeito-Renda
2005
1.781.917
2006
1.930.392
2007
2.127.864
2008
2.500.088
2009
2.155.901
2010
2.572.316
2011
2.613.122
2012*
2.785.298
2013*
2.968.819
2014*
3.164.432
2015*
3.372.934
Fonte: Relatório Anual ABRAF de 2006 a 2012, Banco Central.
(*) Previsão de Crescimento da quantidade de empregos gerados por efeito-renda.
Elaboração: Autor



Conclusões
Os investimentos no setor de base florestal marca decisivamente para a geração de trabalho e renda. O potencial da indústria florestal em alterar o perfil de uma economia, com elevados efeitos de encadeamento, além da assimilação das evoluções tecnológicas de gestão, é relevante e será definidor de grande parte do desenvolvimento econômico.
A economia brasileira, por demais dependentes da produção agropecuária, passa a estar cada vez mais subordinada a uma conjunção favorável de fatores externos para seu sucesso. Com o objetivo de reduzir parte dessas incertezas, a política de atração de investimentos visa à industrialização centrada em setores com dinâmica menos dependente. Cabe comentar que, como qualquer outro segmento industrial, o setor de base florestal sofre igualmente com a mesma incerteza das indefinições macroeconômicas e com movimentos competitivos dos oligopólios globais.    Aliás, o setor de base florestal é um dos segmentos que têm a dinâmica fortemente atrelada ao movimento da economia brasileira, dada sua forte dependência ao nível de renda, padrão distributivo, incidência de impostos, condições e custos de financiamento.
Assim, viabilizar novos investimentos na implementação e ampliação do setor de base florestal é fundamental para garantir o desenvolvimento social e econômico do país em médio e longo prazos. Além de incrementar os recursos investidos, é necessário adotar uma visão estratégica de fomento às atividades econômicas relacionadas às florestas plantadas, para que possam, de fato, ter relevância no desenvolvimento local, propiciando uma efetiva melhora na qualidade de vida da população.


Bibliografia
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ABRAF. Anuário Estatístico da ABRAF 2009: Ano Base 2008. ABRAF. Brasília, 2009.
ABRAF. Anuário Estatístico da ABRAF 2008: Ano Base 2007. ABRAF. Brasília, 2008.
ABRAF. Anuário Estatístico da ABRAF 2007: Ano Base 2006. ABRAF. Brasília, 2007.
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[1] Economista e Especialista em Economia e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Paraná. E-mail: ademilson.maciel@corecondf.org.br
[2] Associação Brasileira de Produtores de Florestas Plantadas.
[3] Com adaptações.

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