Economista, Especialista em Economia e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Paraná e Graduando em Estatística, também, pela Universidade Federal do Paraná.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

"Brasil tem condições de manter juro de um dígito"


Roberto Padovani, economista-chefe da Votorantim Corretora, afirma que as perspectivas para 2013 dependem de diagnóstico sobre o que travou a economia brasileira neste ano.

A surpresa de um crescimento fraco para a economia brasileira abre espaço para teorias que justifiquem tal desempenho.

Entre choque externo e baixa competitividade, Roberto Padovani, economista-chefe da Votorantim Corretora, prefere enfatizar a questão do crédito. 

"Após uma euforia nas condições do crédito em 2009 e em 2010, estamos vivendo o rescaldo dessa crise", diz.

Mesmo com o cenário de crédito melhorando, como avalia Padovani, não há malabarismo algébrico que faça o Brasil crescer mais de 1% neste ano, depois de uma expansão de apenas 0,6% no terceiro trimestre.

Quanto ao juro, o economista afirma que o nível atual da Selic não se mantém, "mas isso não implicar dizer que não teremos juros de um dígito em 2013".

Para a inflação, a maior tolerância do Banco Central com a alta dos preços é considerada correta, dado o quadro externo de incertezas.

"Avaliando a política fiscal, cambial e monetária, além de considerar o cenário externo, há mais flexibilidade do governo brasileiro, e não mudança do quadro institucional do país", afirmou Padovani em entrevista ao Brasil Econômico.

Diante do crescimento de 0,6% do PIB no terceiro trimestre, como você avalia as medidas do governo brasileiro para reaquecer economia? Teremos um crescimento ínfimo neste ano? 

Há muito tempo não vejo uma dificuldade de diagnóstico tão grande em relação ao país. Existem três versões para que isso possa ter acontecido, e cada economista enfatiza uma em especial.

Uma explicação é que a economia desacelerou dramaticamente porque houve um choque externo, afetando o país por preços de commodities, exportações e confiança, por exemplo.

O segundo cenário aponta que a economia desacelerou forte porque, além desse cenário externo, o país é pouco competitivo em um mundo de alta competitividade.

Como todos países estão crescendo pouco, todos querem exportar, o preço de produtos manufaturado cai, aumenta a competição. E as condições do Brasil para competir nesse ambiente são ruins, porque o custo da mão de obra aqui é muito alto, o custo da energia é elevado e custos de logísticas, de modo geral, são altos. Então, a gente perde espaço. Se não conseguimos competir não tem investimento. 

A melhor forma de olhar isso é ver a oscilação do investimento, como tem certa representatividade no PIB, joga a economia para baixo.

A terceira explicação, a qual eu enfatizo, é a questão do crédito. A gente teve uma euforia nas condições do crédito em 2009 e 2010. O governo controlou corretamente essa euforia. E a agora estamos vivendo o rescaldo dessa crise. Os bancos sentiram o aumento da inadimplência e retraíram a oferta de crédito. Crédito no Brasil hoje é importante, cerca de 50% do PIB.

Se o crédito trava a economia segura o crescimento, o consumo desacelera e o investimento não vem.

Mas o que é confuso é que esses três eventos aconteceram simultaneamente. A história do crédito começou a ficar mais clara no segundo semestre, quando a Grécia voltou a ter problemas mais sérios e foi o momento que o investimento despencou no Brasil.

Separar as causas é muito difícil, certamente ocorre um pouco dos três. Esse diagnóstico importa, porque a partir dele você vai ter uma história diferente para o ano que vem. Se o crescimento do Brasil depende só do cenário externo ou das questões de competitividade, é difícil ser otimista.

Mas se considerar as condições de crédito, que estão melhorando, isso pode puxar a retomada de 2013.

O crescimento em 2012 ficará abaixo de 1%?

É mais ou menos dado, quase algébrico. Vai ficar entre 0,9% e 1%. Para 2013, terá uma retomada importante. A projeção da Votorantim Corretora era de uma expansão entre 3,5% e 4% para o ano que vem, agora esperamos crescimento de 3,5%.

O Brasil está preparado para o juro de um dígito? É um cenário sustentável?

É sustentável. Há uma trajetória muito clara de queda nos juros no Brasil nos últimos 10 anos. A Selic oscila ao redor dessa tendência de queda conforme o ciclo econômico.

Eu acho que o Banco Central em 2013 vai subir a taxa básica de juros. Mesmo assim, teremos o juro de um dígito.

Os níveis atuais não se mantêm, de 7,25% ano, mas isso não implica dizer que não teremos juros de um dígito. O Brasil tem condições estruturais de manter o juro de um dígito.

Quais as implicações para a inflação?

A rigor, para jogar a inflação na meta, você deveria ter um juro mais alto. A Banco Central tem se mostrado mais tolerante à inflação dados os níveis pouco usuais de incerteza externa. E ele tem razão.

No início do ano, projetávamos crescimento de 3% para o Brasil e agora teremos expansão de 1%. É uma senhora desaceleração, que não se imaginava. Vivemos em um mundo muito instável.

O BC tem razão de querer aguardar mais informações antes tomar alguma medida para que a inflação convirja rapidamente.

A inflação no Brasil é um grande desafio. A inflação tem rodado na casa de 5,5%. Esse é um problema que em algum momento teremos que enfrentar.

Muito tem se discutido sobre o abandono do tripé econômico (câmbio flutuante, meta de inflação e responsabilidade fiscal) no Brasil, qual a sua avaliação?

Tem mantido. As regras econômicas estão preservadas. O que acontece é que dentro desse ambiente institucional tem tido mais flexibilidade.

A questão fiscal em 2012 foi duramente afetada pela desaceleração da economia. Como ouve desaceleração forte, e a posição fiscal depende muito das condições de crescimento, temos menor arrecadação e não conseguimos alcançar a meta. O ciclo econômico fez com que tivéssemos resultados mais frágeis.

Na perna cambial, passamos por choques externos importantes e um susto local, que é o baixo crescimento. A combinação desses eventos faz com que o real fique mais depreciado. O que o governo fez foi se aproveitar desse momento, dado que o fluxo de capitais para o país reduziu, tentou manter uma taxa de câmbio mais favorável para a indústria.

Não mudou o regime cambial. Para tal, o governo teria que reduzir muito mais a mobilidade de capital, com outros instrumentos. Isso seria uma loucura porque o Brasil precisa de capital externo para financiar seu crescimento. Uma coisa que marca a política brasileira é a responsabilidade.

Quanto a inflação, com incertezas atípicas, o BC está sendo mais cauteloso e não está buscando o centro da meta a qualquer custo.

O Ibovespa iniciou 2012 aos 63 mil pontos, e atualmente está nos 57 mil pontos. Qual foi o principal vilão da bolsa e o que podemos esperar para 2013?

Tem duas causas. A mais importante é o baixo crescimento. O investidor típico de mercado de ações quer que a economia cresça, porque as empresa dão mais resultado e, com isso, ele ganha mais dinheiro. A dificuldade de fazer um diagnóstico do que estava acontecendo também assustou.

Além disso, a dúvida sobre alguns setores locais acaba afetando o índice. Nos setores de energia e petróleo, há dúvidas sobre novas regras, independentemente de serem boas ou ruins, geram cautela. Mas o investidor não vai deixar de vir para o país por conta de dúvida regulatória.

Se tiver crescimento, o investidor tolera incerteza regulatória. E mesmo sem essas questões, a bolsa também não teria um crescimento fantástico.

Com retomada, o investidor volta a operar com ações. Há reação exagerada em relação as questões regulatórias. A bolsa caminha para o patamar de 70 mil pontos.

Fonte: Brasil Econômico

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