Pessimismo recente sobre a economia brasileira mostra os desafios para crescimento de longo prazo; sem reformas, PIB potencial cai e país perde atratividade.
Há pouco mais de dois anos, o Brasil era a bola da vez, o Cristo Redentor decolava na capa da revista The Economist e o país crescia a taxas chinesas; hoje, ele não é mais o preferido nem mesmo dentre os mercados da América Latina, vide as inúmeras matérias na mídia internacional sobre o fenômeno mexicano.
A própria expectativa doméstica em relação ao crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano é desanimadora. Com contínuos cortes, as projeções agora apontam uma alta de 1,75% que, se confirmada, será o segundo pior desempenho desde 2003 (+1,1%). A recessão de 2009 mantém-se como a pior performance, quando a economia contraiu 0,3%.
Mas, em que pesem os pontos negativos do Brasil, nem todos os economistas concordam com essa opinião. "Eu acredito que o pessimismo sobre o Brasil que atualmente está na moda é exagerado - assim como era o alvoroço em torno dele até muito recentemente", afirmou o diretor do Deutsche Bank, Markus Jaeger, em entrevista ao Brasil Econômico.
Segundo ele, o crescimento no curto prazo está sendo pressionado pelas fracas condições econômicas globais, pelo setor industrial baleado e uma ressaca temporária após a rápida expansão do crédito doméstico.
"É certo que a desaceleração também sugere que o modelo de crescimento adotado por Lula (alta nos preços das commodities, expansão fiscal) está chegando aos seus limites e aponta para a necessidade de implementar reformas estruturais para apoiar um crescimento a médio prazo de 4% ou mais", avaliou Jaeger.
O esgotamento desse modelo de crescimento foi notado por outros economistas, como Octavio de Barros e a equipe do banco BBVA. Assim, embora o pessimismo pareça exagerado, ele merece ser pensado à luz dos desafios de crescimento sustentado brasileiro.
E, dentre os diversos obstáculos, a questão da produtividade é sempre central nas discussões. Recentemente, o Santander reduziu o PIB potencial estimado para o Brasil para 3,2%. Em 2007, a taxa era de 4,7%.
"Isso se deu principalmente pela queda da produtividade na indústria", comenta a economista do banco, Fernanda Consorte. Ela também cita o problema dos salários, pois com o desemprego em mínimas históricas, as empresas devem elevar os salários mesmo em um ambiente com a demanda fraca.
"Para o curto prazo, a economia vai se recuperar, com base na ação rápida do Banco Central. Porém, para um crescimento de longo prazo há desafios", completa.
Produtividade, investimento, reformas
De acordo com Fernanda, a melhor resposta para elevar a produtividade e aumentar o PIB potencial seria incentivar os investimentos. O Brasil, diz a economista, está dando pequenos passos para melhorar isso, principalmente com o pacote de concessões anunciado na última semana.
A taxa de investimentos brasileira atualmente é menos de 20% do PIB nacional, enquanto em economias asiáticas que apresentam forte crescimento é de 30% e na China de mais de 40%. Além disso, a taxa de poupança também é baixa.
Para Jaeger, do Deutsche Bank, para elevar essas variáveis, o governo deve manter os superávits primários em níveis altos, limitar o crescimento dos gastos e reduzir a proporção dessas despesas em relação ao PIB. Isso ajudaria a reduzir ainda mais os juros, fomentar investimentos e melhorar a competitividade internacional.
Somando-se a isso, as menores taxas de juros, segundo o diretor do Deutsche Bank, sustentariam o desenvolvimento de um mercado de capitais de longo prazo, necessário para o desenvolvimento de uma infraestrutura financiada pelo setor privado.
"No curto prazo, a política fiscal pode fazer esse truque", disse. Mas no longo prazo, o governo terá que ajudar a elevar a poupança do setor privado através de uma reforma mais ampla da previdência social. As alterações na aposentadoria dos funcionários públicos são um primeiro passo.
"Naturalmente, a lista de reformas para incentivar o crescimento inclui muitas outras reformas, como trabalhista, tributária e fiscal, bem como a da educação, para citar apenas algumas - muitas dos quais parecem politicamente mais difíceis de serem concretizadas do que apenas manter um mix razoável de política macro com o objetivo de reduzir as taxas de juros e aumentar o investimento doméstico e produtividade".
Jaeger afirma que reformas econômicas amplas como as que são necessárias no Brasil têm um custo concentrado e benefícios dispersos, o que dificulta que elas sejam aceitas pelos segmentos mais afetados da população.
Além disso, aqui o sistema político é caracterizado por ter diversas instâncias de veto, o que torna mais difícil a implementação de reformas. "No Brasil, onde o governo tem que cuidadosamente construir e manter coalizões no congresso, é politicamente mais difícil realizar reformas do que em sistemas parlamentares como Westminster", explica o economista.
Menos pessimismo
No entanto, nem tudo está perdido. Markus Jaeger acredita que é injusto dizer que o Brasil não tem feito progressos nos últimos anos. O país, segundo ele, tem um posição fiscal externa forte, a dívida pública está caindo constantemente e o sistema bancário é sólido.
Para que o país cresça de 3,5% a 4% ao ano no futuro próximo, a chave é remover os gargalos de infraestrutura, o que o governo tem procurado fazer. Mas, ao invés de prestar tanta atenção na demanda, as medidas agora deveriam se voltar mais para o lado da oferta, disse Jaeger, citando a elevação da produtividade para aumentar a competitividade do Brasil.
Fonte: Brasil Econômico
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