Mercado espera que Banco Central Europeu anuncie novos empréstimos para países como Espanha e Itália, porém problema é a insolvência e não a falta de liquidez.
A comoção do mercado em torno de novos empréstimos aos países em crise na Europa pode ser gratuita, baseada apenas em "tapa-buracos", se o problema for considerado em suas bases.
A uma semana da reunião do Banco Central Europeu (BCE) que pode decidir o destino de países como Espanha e Itália, Patrick Artus, do banco francês Natixis, afirma que novos financiamentos do BCE ou do Fundo Europeu para Estabilidade Financeira somente fazem sentido se as nações estiverem enfrentando crises de liquidez, o que não acontece.
Ao examinar os casos dos países em crise, Artus conclui que Grécia, Portugal e Espanha estão insolventes tanto do ponto de vista fiscal quanto externo, enquanto a Itália irá assegurar sua solvência fiscal em 2013 e não está longe de assegurar sua solvência externa. "Assim, apenas empréstimos para a Itália fazem sentido", disse, em relatório.
Um país com problemas de liquidez não consegue tomar empréstimos para financiar seu déficit externo ou fiscal, pois os investidores se recusam a financiá-lo. Já um país insolvente não consegue pagar suas dívidas e, portanto, os investidores deixam de emprestar.
Embora em ambos os casos a consequência seja a mesma, a causa e, portanto, o remédio são diversos. "Quando um país enfrenta uma crise de solvência, não há motivo para emprestar mais para ele, pois ele não pode repagar suas dívidas", explica Artus.
Soluções necessárias
Nesse caso, a solução mais razoável seria uma renegociação das dívidas desses países, a exemplo do que é feito com o Clube de Paris, "um grupo informal de credores oficiais cujo objetivo é encontrar soluções coordenadas e sustentáveis para as dificuldades de pagamento experimentadas pelos países devedores".
Assim, uma monetização da dívida não teria tanto impacto. "Não soluciona o problema, apenas tapa o buraco, que vai continuar a crescer. Daí a discussão da unificação fiscal, que poderia equacionar o aumento desse buraco", explica Otto Nogami, professor de economia do Insper.
O problema é que os países já não têm autonomia na política monetária e poderiam perder a política fiscal como instrumento. Isso pode levar os governos a perderem a soberania.
Para o professor, a crise é mesmo de solvência e ainda que mais medidas sejam anunciadas na próxima semana, uma solução real não será conquistada, pois há entraves políticos para isso.
"Esse não é um problema recente, ele está se desenrolando nos últimos meses. E as autoridades ficam na retórica, no discurso, e não estão preocupadas em buscar solução efetiva", diz.
Fonte: Brasil Econômico
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