Os americanos estão ganhando confiança na economia do país, indicou um novo relatório, mas continuam preocupados com as ameaças que poderiam acabar com o progresso modesto alcançado durante três anos de uma recuperação instável.
Uma série de dados encorajadores divulgados nas últimas semanas — que se seguiram a um tímido começo de segundo semestre — aliviaram temores de uma recessão e ao mesmo tempo ressaltaram o ritmo irregular e lento da recuperação.
O índice de confiança do consumidor publicado pela Universidade de Michigan subiu de 72,3 em julho para 73,6, na sua leitura preliminar de agosto, o maior valor desde maio. O aumento do emprego ganhou força em julho e as demissões diminuíram depois de um pico no segundo trimestre. As exportações — um fator de peso da recuperação até aqui — vêm se mostrando surpreendentemente resistentes apesar da recessão na Europa e da redução do crescimento na Ásia. E os consumidores passaram a gastar mais em quase tudo, desde carros até restaurantes.
O crescimento da economia permanece a passos de tartaruga. A produção aumentou um mero 1,5% no segundo trimestre, e a maioria dos economistas espera um desempenho só um pouco melhor no segundo semestre. O perfil ondulante da recuperação se refletiu no relatório da confiança do consumidor, divulgado na sexta-feira, que mostrou que os consumidores estão mais animados com as condições presentes, mas mais pessimistas sobre o futuro.
Os sinais recentes de melhora do cenário poderiam complicar uma decisão que o Federal Reserve está prestes a tomar. As autoridades do banco central dos Estados Unidos vêm por meses manifestando preocupação com o fato de a economia estar crescendo devagar demais para diminuir o desemprego. Eles indicaram no começo do mês que estavam inclinados a tomar novas medidas para estimular o crescimento. Com a economia dando sinais de estar ganhando impulso por conta própria, alguns membros do Fed poderiam mudar de ideia, embora os dados provavelmente não tenham melhorado o suficiente ou por um tempo longo o bastante para alterar drasticamente a visão que maioria das autoridades tem do cenário econômico.
Se o Fed resolver esperar, esses dados econômicos melhores podem vir a ser uma faca de dois gumes para investidores que vêm torcendo por novos estímulos do banco central.
Até agora, os mercados financeiros fizeram eco à pequena melhora da economia. O mercado de ações está se aproximando do seu nível mais alto em quatro anos. A média industrial Dow Jones subiu por seis semanas seguidas, a sequência de altas mais longa desde janeiro de 2011. Desde o início de junho, a Dow já subiu 9,7%. O índice ganhou 25,09 pontos na sexta-feira, fechando em 13.275,20.
"Essa disparada que vimos desde junho tem sido ligada à estabilização e algumas melhoras no quadro econômico", disse Jim McDonald, estrategista-chefe de investimento da Northern Trust Corp. em Chicago, que administra US$ 704 bilhões em ativos.
Os dados recentes assinalam uma nítida melhora em relação a uns dois meses atrás, quando o crescimento estagnado do emprego e o declínio nos gastos do consumidor levaram muitos economistas a sugerir que os EUA estavam caindo de volta numa recessão. Alguns economistas argumentaram que isso de fato já aconteceu. Mas, entre os extremos de recessão e expansão, está a dolorosa realidade que vem assolando a recuperação desde o início: a economia dos EUA está presa a um ritmo de crescimento lento e inconstante.
Desde que a recessão acabou, mais de três anos atrás, a economia dos EUA várias vezes pareceu estar a ponto de decolar, só para perder força de novo. Por outro lado, apesar dos repetidos alarmes, ela nunca chegou a parar de vez. Nos últimos três anos, o crescimento e o emprego subiram nos primeiros meses, mas esmoreceram notavelmente em meados do ano.
"O cenário geral é de uma recuperação anêmica", disse Joshua Shapiro, um economista da MFR Inc. "É um processo muito longo de recuperação depois do estouro das bolhas de crédito e ativos, e nós ainda não chegamos ao fim."
Hank Sybesma experimentou em primeira mão as paradas e arrancadas da recuperação. Sua empresa de eletrônicos e consertos em Michigan, a Sybesma's Electronics, se acostumou bastante aos clientes que faziam pedidos e os cancelavam ao constatar que as vendas deles estavam aquém do esperado.
"Temos uma empresa que chega e diz: 'Precisamos fazer isso', e eu penso 'Oba!'. E então, de repente, eles voltam com más notícias e o serviço desaparece", disse Sybesma. "Esse é o lado ruim da economia neste momento: ela está impossível de prever."
Um crescimento acelerado vem se mostrando difícil de se materializar em grande parte porque, apesar dos pontos fortes, o motor da economia nunca pôde movimentar todos os seus cilindros. O mercado imobiliário e as novas construções — motores críticos de toda recuperação americana no pós-guerra — permanecem em níveis raquíticos. As empresas vêm aproveitando os juros baixos para investir em novos equipamentos, mas o setor público se mantém acorrentado a orçamentos apertados. Embora os preços continuem baixos e as finanças das famílias comecem a se equilibrar, a combinação de desemprego alto e crescimento lento dos salários diminui a capacidade ou a disposição dos consumidores de gastar.
Essa fraqueza ampla e persistente deixou a economia americana mais vulnerável aos choques externos. Há um ano, foram as interrupções na cadeia de suprimento causadas pelo terremoto no Japão e a disparada nos preços no petróleo deflagrada pelas agitações no Oriente Médio. Hoje, as ameaças incluem o lento crescimento no exterior, a possibilidade de que a crise financeira europeia abale os mercados dos EUA e a perspectiva de o Congresso americano não ser capaz de resolver o iminente "abismo fiscal": os bilhões de dólares em aumento de impostos e cortes de gastos do governo marcados para 2013.
Fonte: The Wall Street Journal
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