A Finlândia é uma potência econômica entre os países que usam o euro, mas, comparada com seus vizinhos escandinavos, ela está escorregando. A dicotomia está incomodando cidadãos e políticos daqui.
Na combalida zona do euro, esse país nórdico de pequena população
exibe uma dívida e um desemprego baixos e uma influência crescente no debate sobre como ajudar os países endividados do sul. Mas, apesar dos seus pontos fortes, a economia da Finlândia dá sinais de desaceleração, depois de um crescimento robusto em 2011.
Ao redor da Finlândia, as economias da Suécia, Dinamarca e Noruega — nenhuma das quais usa o euro — estão crescendo. O produto interno bruto da Suécia, por exemplo, cresceu 1,4% no segundo trimestre, muito acima das expectativas dos analistas. Os finlandeses viram algumas moedas escandinavas atingirem a cotação mais alta dos últimos doze anos em relação ao euro.
A Finlândia, um membro fundador da moeda comum, continua sendo um dos poucos entre os 17 países da zona do euro a conservar sua nota de crédito de dívida soberana na faixa mais alta, tal qual a Dinamarca, a Suécia e a Noruega. Mas, ao contrário desses países, a Finlândia está agora obrigada a ajudar os países em dificuldade, inclusive Grécia, Itália e Espanha.
Essa perspectiva deflagrou batalhas políticas em torno do euro que não acontecem na Dinamarca, Suécia e Noruega e está pesando sobre a economia finlandesa. A confiança dos consumidores finlandeses caiu em julho para o seu nível mais baixo desde 2009.
"Ninguém gosta de pacotes de resgate", disse recentemente o primeiro-ministro, Jyrki Katainen, reiterando sua posição contra o socorro. Ainda assim, ele reconheceu que os problemas financeiros em outros países afetam a Finlândia. "Por isso, nós queremos ser um participante ativo na solução dos problemas", disse ele.
A Finlândia se beneficiou substancialmente do euro. Governada por séculos pela Suécia e depois pela Rússia, este país de 5,4 milhões de habitantes está agora mais integrado do que nunca ao resto da Europa. Ele desfruta de um acesso sem precedentes aos vastos mercados da zona do euro e se tornou um porto atraente para investidores em busca de uma exposição de baixo risco à união monetária.
A força relativa da economia da Finlândia ganhou há pouco tempo uma estatura maior nas discussões da zona do euro. Helsinque foi uma das capitais que o primeiro-ministro italiano Mario Monti visitou recentemente para arrebanhar apoio para o seu país.
"Como uma economia remota e totalmente aberta, a união ao euro trouxe competitividade e estabilidade", disse Katainen. Ele disse que isso pode também trazer influência política. "Eu não quero dizer que somos maiores do que realmente somos, mas, quando você está na mesma mesa, você tem mais chance de ser ouvido."
Mesmo assim, os finlandeses estão cada vez mais preocupados com os resgates a outros países, disse Markku Kotilainen, diretor de pesquisa do independente Instituto de Pesquisa da Economia Finlandesa. Uma pesquisa recente da rede nacional de televisão Yle indicou que 66% dos finlandeses querem que o país evite assumir mais responsabilidades financeiras, ainda que seja para salvar o euro.
A pressão ocorre no momento em que o governo de Katainen está propondo aumentos de impostos e cortes de gastos equivalentes a 2 bilhões de euros (US$ 2,5 bilhões), o que representa quase 4% do orçamento do governo, para diminuir o déficit crescente.
"Eu não gosto dos resgates porque há pessoas na Finlândia que precisam de ajuda", disse Sara Lehtinen, uma estudante de 21 anos de Helsinque. "Em vez disso, nós devemos ajudá-las."
O desencanto com o euro entre os nórdicos é generalizado. Os noruegueses são decididamente contra entrar para a União Europeia, enquanto Dinamarca e Suécia são membros da UE, mas não planejam aderir à moeda comum tão cedo.
Na Finlândia, o oposicionista Partido Finlandês, crítico do euro, recuperou-se no ano passado de uma acentuada queda de popularidade, segundo uma pesquisa recente da Yle. O presidente do partido, Timo Soini, já demandou várias vezes que a Finlândia considere alternativas ao euro, em vista do desempenho dos países nórdicos de fora da união monetária.
Katainen disse que o apoio do governista Partido da Coligação Nacional à permanência na zona do euro continua forte apesar da oposição aos resgates. Numa pesquisa realizada no mês passado pela rede MTV3 da Finlândia, metade dos finlandeses foi a favor da dissolução parcial do euro, com a saída da Grécia, mas somente 17% querem que a Finlândia saia.
"Não é uma sensação boa", disse Mari Berglund, uma banqueira de investimento da região metropolitana de Helsinque. "Mas acho que temos que ajudá-los em vez de deixá-los sair", disse ela, referindo-se aos países do sul da Europa.
E, se por um lado a participação na zona do euro agora pesa financeiramente sobre a Finlândia, por outro o acesso aos mercados bem maiores da zona do euro também trazem vantagens. Isso ajudou as empresas que operam na sombra da gigante nacional Nokia Corp., que está cortando postos de trabalho e fechando fábricas no país porque tem perdido dinheiro e participação de mercado.
A fabricante sueca de papel Billerud AB, por exemplo, há pouco tempo comprou uma unidade do grupo finlandês de papel e celulose UPM-Kymmene Corp. por cerca de 130 milhões de euros. Até 40% da vendas da Billerud vêm de exportações da Suécia para a zona do euro, que ficam mais caras em euro quando o krona sueco se valoriza, prejudicando a demanda. A nova operação na Finlândia vai agora passar parte dos custos da Billerud para euros.
"Isso nos dá um hedge natural para o câmbio", disse ao The Wall Street Journal o diretor-presidente da Billerud, Per Lindberg, a respeito do negócio. "A vantagem é que a Finlândia é um país estável e eles sabem o que estão fazendo."
Fonte: The Wall Street Journal
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