Queda de 16,6% da moeda brasileira perante o dólar ainda não refletiu no comércio de produtos acabados.
Quase um ano após a retomada do dólar frente o real, os exportadores ainda não sentiram os efeitos da depreciação cambial.
Nos primeiros sete meses do ano, o setor de manufatura exportou 0,7% menos que no mesmo período de 2011. Até julho, a valorização da moeda americana foi de 16,6%.
No sentido oposto do comércio internacional, as importações de manufatura aumentaram 6% relação ao mesmo período do ano passado. O resultado incrementou o déficit do setor em 50%.
Segundo Roberto Gianetti da Fonseca, diretor do departamento de Relações Internacionais da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), o preço das commodities impactaram negativamente também a balança comercial de manufatura, compensando a alta do dólar.
"Diversos insumos e matérias-primas utilizadas pela indústria perderam preço este ano. Os produtos ficaram mais baratos. Mas o volume de vendas ainda permanece", diz Giannetti.
O setor automotivo impactou de forma substancial as vendas brasileiras. Dependente de subsidiárias argentinas das montadoras, as barreiras comerciais derrubaram os embarques do segmento em 4,7%. Em geral, o principal cliente do país em manufatura comprou 17,25% menos em 2012 do que entre janeiro a julho de 2011.
Açúcar refinado, com queda de 26,7%, e laminados de aço, redução de 30,2%, também contribuíram para a contração do montante exportado.
"A demanda ainda é muito fraca nos Estados Unidos e na Europa. Ainda levará algum tempo para que os efeitos do dólar mais alto sejam sentidos pelos industriais", avalia Giannetti.
No lado das importações, as compras da China continuaram a crescer com o ingresso de partes de transmissores, com alta de 24,3%, e de máquinas de processamento de dados, avanço de 49,4%.
Segundo o Roberto Giannetti, variações cambiais costumam demorar entre nove e doze meses para influenciar de forma relevante a balança comercial dos países.
No último período de alta desvalorização do real frente o dólar, iniciada em setembro de 2008, a resposta da balança de manufatura brasileira demorou sete meses. Apenas em abril de 2009 interrompeu-se a queda do que era então um superávit.
"Nossa competitividade melhorou com o câmbio próximo de R$ 2,00. Melhor seria se estivesse a R$ 2,30. Durante a transição do terceiro para o quarto trimestre o saldo comercial começará a responder positivamente", avalia Giannetti.
Para Evaldo Alves, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o Brasil continua perdendo espaço em tradicionais mercados consumidores, como Estados Unidos e Europa. Ele explica que uma alternativa é explorar a crescente base de consumo dos países emergentes, mas que o país está perdendo a oportunidade.
"O dólar pouco ajudou porque não há espaço para expandir as vendas nos mercados maduros. Precisamos aprofundar nossas relações comerciais com Índia, Coreia e China", diz.
Alves afirma que o dólar provou não ser uma panaceia para a indústria brasileira. Antes da discussão sobre a cotação da moeda, ele diz, os empresários precisam discutir sua produtividade.
"O Brasil não possui relevância no mercado cambial. Não há como controlá-lo. O que se pode rever é nossa estrutura de custos e produtividade por trabalhador", assinala.
Fonte: Brasil Econômico
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