Por Julio Gomes de Almeida*
Em sua magnitude, o crescimento da indústria em junho não foi satisfatório. Com ajuste sazonal, a produção aumentou somente 0,2% frente a maio, o que é pouco para dar esperanças de que o setor já esteja melhorando seu desempenho.
Do ponto de vista da composição do resultado industrial, no entanto, há revelações de melhoras significativas.
Três dos quatro grandes setores por categoria de uso voltaram a crescer após quedas expressivas, casos de bens de capital, bens de consumo duráveis e bens semiduráveis e não duráveis.
Apenas o segmento de bens intermediários não teve reação e continuou em declínio, constituindo-se no principal determinante para o baixo crescimento do mês.
É difícil sustentar que as melhoras setoriais indiquem uma continuada volta ao dinamismo da indústria, que na média do primeiro semestre acumulou queda de quase 4%.
Assim, a recuperação em semiduráveis e não duráveis esteve muito apoiada em um único ramo, no caso, farmacêutica, assim como em bens de capital houve a colaboração seguramente pontual e extraordinária de um aumento super vigoroso da produção de outros meios de transportes que não veículos, vale dizer, aviões.
E em bens duráveis já se fez sentir o incentivo de redução de impostos na compra de automóveis e produtos da linha branca, o fator destacado para uma evolução forte desse segmento no mês.
Ou seja, ao menos em parte, é possível que as melhoras observadas em junho não se renovem, a menos que outros fatores entrem em cena.
É exatamente isso o que o governo espera, pois vem adotando medidas inegavelmente relevantes para desfazer antigas limitações do nosso crescimento, mas que até agora não surtiram efeito.
Entre elas se incluem a redução da taxa básica de juros, o empenho em cortar as excessivas taxas cobradas no crédito, os esforços para que seja mantido um câmbio minimamente competitivo para a economia, além de ações de política industrial voltadas ao desenvolvimento de uma estrutura mais atualizada e dinâmica para a indústria.
A perspectiva é que a volta do crescimento do setor em junho, inda que tênue e repleta de determinantes ocasionais, sirva para desarmar as expectativas mais pessimistas por parte de empresários e bancos, deixando mais livre o caminho para que as medidas adotadas pelo governo desde o ano passado enfim se traduzam em incentivo para o crescimento econômico.
Por isso, é muito provável que a indústria tenha um desempenho positivo no segundo semestre, persistindo, no entanto, a dúvida se será suficiente para compensar o declínio do primeiro semestre.
Não é demais lembrar que as mudanças que irão permitir ao setor industrial recuperar sua capacidade de exportar e de concorrer com o produto importado no mercado interno demandam tempo, o que significa dizer que talvez o setor não seja capaz de absorver para si e para a economia doméstica o dinamismo que deve ser originado das medidas da política econômica.
Juntamente com o inseguro ambiente externo, isso poderá fazer com que a recuperação industrial seja frágil e colabore para que a retomada do PIB venha a ser apenas modesta.
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*Professor da Unicamp, ex-secretário de política econômica do Ministério da Fazenda
Fonte: Brasil Econômico
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