Para economistas do BBVA, estímulos à demanda são insuficientes, e a receita de crescimento baseado no consumo dá sinais de esgotamento.
A fórmula usada pelo Brasil para manter a economia em crescimento nos últimos anos - o aumento contínuo do crédito e dos gastos de consumidores - dá sinais de esgotamento. Essa é a avaliação do departamento de pesquisas do Banco BVA, que vê na desaceleração do crédito um fator não apenas momentâneo.
No cenário base dos analistas do banco, a economia voltará a acelerar até o final do ano. Mas a longo prazo, o país não passará de uma expansão de 4% ao ano caso insista na mesma receita.
Além disso, o banco vê o país mais vulnerável a uma crise externa.
"O estancamento da economia ao longo do ano suscitou muitas dúvidas em relação ao modelo de crescimento brasileiro, baseado na expansão do crédito e do consumo privado", afirma o banco em relatório elaborado pela equipe de economias emergentes, chefiada por Enestor dos Santos.
Desde o final de 2004, o mercado de crédito no Brasil tem crescido a uma taxa de pelo menos 20% ao ano, o que levou o crédito a passar de 25% do Produto Interno Bruto (PIB), em 2004, para os atuais 50%.
Com isso, a expansão da demanda interna foi o principal apoio para o crescimento e, na avaliação do banco, mitigou os problemas de competitividade que o país possui. A lista de deficiências no lado da oferta é conhecida: carga tributária elevada, falta de infraestrutura, juros elevados e o câmbio em patamar ainda alto para a indústria.
O endividamento das famílias é um dos sinais de esgotamento do modelo. Segundo dados do Banco Central, a dívida bancária dos consumidores passou de 18% da renda desde 2005 para 43,4% em maio de 2012.
"O constante enfoque na demanda, em vez da oferta, gerou problemas substanciais, como o incremento da dívida das famílias, a apreciação do real e o aumento dos custos de trabalho (não acompanhado pela produtividade)."
Nesse sentido, algumas das recentes medidas do governo, embora positivas, não são suficientes, na avaliação do banco. A redução dos juros, o estímulo ao crédito, e a própria redução do Imposto sobre Produtos Industriais (IPI) para automóveis são excessivamente focadas no lado da demanda.
"Vemos espaço para a adoção de medidas que apoiariam a atividade doméstica de maneira mais eficaz do que as anunciadas nos últimos meses. Mais precisamente, essas medidas focariam em impulsionar os investimentos em capital fixo e encaminhar alguns dos principais problemas do país".
Segundo o banco, seriam bem-vindas reduções nos impostos para o setor elétrico, bem como uma desoneração maior da folha de pagamento. A nova onda de concessões para o setor privado também é um motivo a comemorar.
Mais otimistas do que o mercado, os analistas preveem um crescimento de 2,2% para a economia brasileira em 2012 (a média das projeções no Brasil é de 1,85%, segundo o Banco Central).
No entanto, a perspectiva é inferior à visão que o banco tinha em maio, de uma expansão de 3,3%. "Os riscos são claramente de baixa", diz.
Caso ocorra um choque externo, como uma deterioração maior na economia europeia ou um ajuste fiscal automático nos Estados Unidos, o país estaria muito mais frágil do que em 2008, em que o impacto dos choques foi mínimo.
Em relação à inflação, o banco acredita que a tendência de baixa nos preços já se esgotou. Tanto em 2012 quanto em 2013, os preços devem subir mais do que o centro da meta de inflação, de 4,5%. Neste ano, a projeção de inflação é de 5%, enquanto no ano que vem, de 5,5%.
Fonte: Brasil Econômico
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