Por Mara Sampaio*
O deserto é fértil quando ajuda o homem perceber que a escassez de recursos naturais não pode limitar seu desenvolvimento.
Ao optar pela evolução mesmo em condições adversas, o homem mobiliza seus recursos internos e usa a criatividade para superar desafios.
A falta de água, o solo árido e a existência de vizinhos hostis ajudou a criação da cultura empreendedora no território de Israel. Um país pequeno, do tamanho do estado de Sergipe, com apenas sessenta anos, um povo com fortes tradições culturais e voltado para o futuro.
Em pouco tempo e sem recursos naturais construiu-se no deserto um país que, independente da forma com que encara seus problemas de convivência com os vizinhos, é um dos berços da inovação tecnológica empresarial.
Sabemos que em situação de adversidade o ser humano é capaz de desenvolver competências para superar e inovar, ficar melhor do que era antes.
Quando esta capacidade de superação deixa de ser individual e passa a pertencer a um grupo social e é transmitida e multiplicada pelas novas gerações, se transforma em um traço cultural.
Este é o caso de Israel. A inovação é a base da sua cultura. Pude constatar a presença destes aspectos culturais numa visita que fiz ao país no ano passado e tive o privilégio de assistir em Israel uma palestra de Saul Singer, coautor do livro "Nação empreendedora - o milagre econômico de Israel e o que ele nos ensina" da editora Évora.
Fiquei impressionada com as histórias empreendedoras e a determinação e persistência de seus protagonistas pela inovação. Saul Singer participa esta semana, em São Paulo, de uma série de eventos para divulgação de seu livro.
Um deles aconteceu ontem no auditório da Livraria Cultura, na Avenida Paulista. É uma boa oportunidade para conhecer a força da cultura na reinvenção de um país e descobrir o que se pode aprender com eles para que empreendedorismo e inovação sejam também alicerces da cultura brasileira.
O empreendedorismo desenvolvido em Israel é prioritariamente de alto impacto. As novas empresas investem em talentos especializados para desenvolver ideias radicalmente inovadoras, capazes de transformar um setor inteiro.
O autor considera que alguns elementos da história do país e da cultura judaica favorecem a energia criativa do setor empresarial. Israel na sua fundação foi constituído por mais de 20 diferentes nacionalidades, o que promoveu a convivência com a diversidade.
A chegada constante de imigrantes favorece uma cultura da disponibilidade ao risco e a começar coisas novas.
O traço cultural da dúvida e da discussão, que o autor afirma ser uma característica do povo judeu, estimula desde a infância a capacidade de argumentação e o questionamento, inclusive sobre hierarquia. Esse povo preza pela sinceridade e franqueza, fala o que pensa, decide com rapidez e é pragmático.
O exército israelense é considerado um fator essencial na cultura de inovação. Investe em pesquisa tecnológica e na formação acadêmica de alto nível, que os militares utilizarão mais tarde, na vida privada, para empreender.
Isso ajuda a explicar o sucesso. Mas o que conta mesmo é a determinação de evoluir mesmo num ambiente que parece inadequado para isso.
*Psicóloga e especialista em cultura empreendedora
Fonte: Brasil Econômico
Fonte: Brasil Econômico
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