Economista, Especialista em Economia e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Paraná e Graduando em Estatística, também, pela Universidade Federal do Paraná.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Os custos que estão na base da economia mundial

Ouro brilha, é claro. A economia mundial gira em torno dos altos e baixos dos preços do petróleo. O aumento nos preços dos alimentos ameaça até mesmo as mais severas ditaduras. Os preços das matérias-primas são importantes — não só para os comerciantes e investidores.
Durante décadas, as commodities caíram quase que inexoravelmente. Mas, por volta do ano 2000, eles deram um giro, dando vazão a previsões plausíveis sobre o início de um "superciclo das commodites", um período longo de aumentos grandes e sustentados de preços. Retrocedendo a história até 1865, os economistas José Antonio Ocampo, ex-ministro colombiano e, recentemente, candidato a presidente do Banco Mundial, e Bilge Erten, da Organização das Nações Unidas, identificaram estatisticamente três desses ciclos, e declararam que é a nossa vez de viver o quarto.
[CAPITAL] 
Associated Press
A recente crise financeira global golpeou todos os mercados, mas depois os preços das commodities voltaram à trajetória de ascensão. Isso reforçou a teoria dos superciclos, além do argumento de que os preços das commodities refletem os temores dos mercados de que os bancos centrais acabem imprimindo tanto dinheiro que a inflação seja inevitável. Mas um abrandamento recente dos preços de algumas commodities minou a visão de superciclo.
Operadores e investidores se preocupam com isso por razões óbvias, mas também é importante para as economias que dependem tanto da exportação como da importação de mercadorias. Além disso, é algo que gera pressões inflacionárias em todo o mundo.
Para ajudar a distinguir tendências temporárias das de mais longa duração, economistas do Fundo Monetário Internacional mapearam recentemente os preços ajustados pela inflação de quatro cestas de commodities — combustíveis e energia, metais, alimentos e matérias-primas agrícolas (como madeira, algodão, borracha, lã e outros) — desde os anos 70. A conclusão do FMI: "A fraca perspectiva econômica global sugere que é improvável que os preços das commodities continuem aumentando no mesmo ritmo dos últimos dez anos."
Mas os gráficos do FMI trazem à tona uma história mais ampla.
Nos anos 2000, houve uma enorme mudança no que havia sido uma onda de declínio nos preços das commodities (exceto dos combustíveis). A explicação mais comum é que a demanda de China, Índia e outros mercados emergentes cresceu muito. Ao mesmo tempo, investidores em todo o mundo decidiram que as commodities eram uma grande aposta. Esse aumento da demanda ocorreu depois de um longo período de queda de preços que desencorajou investimentos na produção de commodities. O mundo não foi capaz de aumentar a oferta para atender a essa nova demanda. Os preços subiram.
Os preços dos combustíveis são diferentes do resto. Por um lado, eles são muito mais voláteis, inclusive por causa de riscos geopolíticos. Por outro lado, eles estão claramente subindo — 163% nas últimas quatro décadas. A explicação geral é que a alta do petróleo prejudica o crescimento econômico e isso deprime os preços de outras commodities.
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Os metais aumentaram bastante nos últimos anos. Isso reflete uma forte demanda por parte da indústria e investidores, talvez amplificada por uma perda de confiança em moedas e governos. Mesmo os metais custam mais ou menos o mesmo de 1973, um claro contraste com os combustíveis, que provavelmente nunca voltarão a ser tão baratos.
Nas últimas décadas, o preço dos alimentos caiu bastante, mesmo considerando-se a alta no fim da década iniciada em 2001. Os alimentos custam hoje cerca de metade do que custavam em 1973. A pesquisa de Ocampo e Erten conclui que, com exceção do petróleo, em todo superciclo a alta foi seguida de uma queda que deixou os preços mais baixos do que no fim da década anterior.
Então, em que ponto estamos deste suposto superciclo?
Não há outra China prestes a entrar no mercado mundial, de modo que a grande fonte de aumento da demanda não deve se repetir. E os investidores? Bem, com taxas de juros tão baixas, o guru das commodities do CPM Group Jeffrey Christian prevê que poderia haver uma nova inundação de dinheiro de investidores de commodities.
Superciclo, ao que parece, pode ser apenas um nome fantasia para as conhecidas forças de oferta e demanda, pelas quais um aumento nos preços com base na demanda provoca um aumento da oferta que, por sua vez, empurra os preços para baixo novamente.

Fonte: The Wall Street Journal

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