Por Felipe Scherer*
Boa parte das pessoas acabam associando inovações apenas a produtos. Parece ser natural tal percepção, pois produtos são os elementos visíveis das empresas.
Na realidade, o sucesso ou o fracasso de uma nova iniciativa pode não estar relacionado apenas a suas características como produto ou serviço, mas a seu modelo de negócios.
Lembro-me de um exemplo clássico ensinado em escolas de administração, quando falava-se em modelo de negócios: a Dell.
Fundada em 1984 por um estudante universitário, a grande inovação não estava só no produto que podia ser customizado por consumidores, mas também no canal de vendas diretas.
Utilizando-se de revistas especializadas e catálogos, a empresa construiu uma proposta de valor interessante para quem comprava (customização) e para ela mesma (que eliminava um elo do canal e, consequentemente, parte do custo).
Outros exemplos de modelos de negócios inovadores podem ser identificados. Durante anos, a Blockbuster foi referência em locação de filmes, mas com a chegada da Netflix e seu modelo diferenciado, houve uma ruptura.
Visando atender um público que não encontrava muitas opções em função dos acervos reduzidos das locadoras de cidades pequenas, a empresa montou o negócio de locação pelo correio. Novamente a ideia era boa para a empresa e muito boa como negócio.
O ecossistema criado pela Apple, ligando seus dispositivos ao iTunes e à AppStore é outro exemplo. Quando criado, o modelo de geração de valor ia muito além da tradicional separação entre venda de equipamentos e de conteúdo.
Oferecendo uma opção competitiva frente ao movimento crescente de compartilhamento gratuito na internet permitiu que consumidores comprassem apenas as faixas de músicas desejadas a preços baixos.
Mais recentemente a Amazon criou serviços de hospedagem visando principalmente empresas e outros sites de comércio eletrônico. Por si só, o serviço não é inovador, mas o modelo criado sim.
Aproveitando sua grande infraestrutura de servidores (para sua operação de vendas on line), a Amazon criou um serviço barato, de alto desempenho e confiável. Com isso, captura valor com mensalidades proporcionais ao volume de dados armazenados.
O que todos esses exemplos têm em comum é a ruptura em alguma parte do modelo de negócios. Um modelo bastante difundido hoje divide a empresa em nove partes: segmentos-alvo; proposta de valor; canais de distribuição; formas de relacionamento; parceiros estratégicos; atividades; recursos-chaves; estrutura de custos e receitas.
A reflexão sobre o modelo de negócios inovador pode partir de qualquer uma dessas partes, ou seja, como podemos criar algo atrativo para o mercado, rompendo com o paradigma vigente.
Voltando ao caso do iTunes, ele não cobra mais pelo álbum inteiro, mas apenas pelas faixas, inovando na estrutura de receitas, assim como no canal de distribuição (web), parcerias estratégicas (gravadoras) e na proposta de valor (design dos produtos e facilidade de acesso ao conteúdo através das lojas on line).
Já a Netflix trouxe a possibilidade de o cliente ver quantos filmes quiser por uma mensalidade fixa. Para qualquer empresa, nascente ou já consolidada, sempre vale a pena uma reflexão sobre como inovar no modelo de negócios.
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*Felipe Scherer é sócio-fundador da Innoscience, professor da ESPM-SUL e autor do livro "Gestão da Inovação na Prática"
Fonte: Brasil Econômico
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