Por TOM ORLIK
O pessimismo quanto ao modelo de crescimento da China, fortemente baseado em investimentos, já é bem conhecido. Mas há mudanças recebendo menos atenção, mudanças essas que podem reavivar o consumo.
A taxa de crescimento da China no primeiro trimestre diminuiu, mas não foi baixa. Zhang Xiaoqiang, funcionário do alto escalão da Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma, deu a entender recentemente que no primeiro trimestre o PIB cresceu a uma taxa anual perto de 8,4%.
Se isso for confirmado quando os dados forem divulgados, na sexta-feira, seria um crescimento inferior aos 8,9% do último trimestre de 2011, e o mais baixo desde o segundo trimestre de 2009 — mas não o colapso que alguns temiam.
Embora isso deva aliviar os receios dos mercados financeiros quanto às perspectivas imediatas do crescimento chinês, os números relativos à estrutura da economia causam preocupação. Em 2010, o investimento como proporção do PIB foi de 48%, uma porcentagem muito alta. Em comparação, na Coréia do Sul, os investimentos como proporção do PIB atingiram o pico de 40% em 1991.
O excesso de investimentos é problemático porque traz o risco de que capital em grande escala seja mal alocado. Se isso persistir por muitos anos, o resultado será tensões comerciais, à medida que o excesso de produção for despejado nos mercados globais, agravando a degradação ambiental e trazendo a falência para as firmas chinesas que excederam sua capacidade.
Para promover o crescimento sustentável, a China precisa passar para um novo modelo, onde o investimento fique em segundo plano e o consumo das famílias passe a ser o novo motor econômico.
Chegar lá não será fácil, mas há indícios de que as coisas estão seguindo na direção certa. Salários mais altos para os trabalhadores e maiores juros para a poupança estão colocando mais dinheiro no bolso dos consumidores. Uma mudança de mentalidade da nova geração significa que essas famílias talvez gastem uma parte desse dinheiro, em vez de guardá-lo.
Um compromisso para melhorar os salários e benefícios na Hon Hai Precision Industry Co., onde centenas de milhares de operários chineses fabricam os iPhones e iPads da Apple Inc., é um sinal dos tempos.
Na esteira das críticas de um relatório da Fair Labor Association (Associação do Trabalho Justo) publicado no final de março, a Hon Hai, também conhecida como Foxconn, concordou em aumentar o pagamento das horas extras. A fabricante taiwanesa também disse que vai melhorar o acesso dos trabalhadores migrantes ao seguro-desemprego, pois o sistema de segurança social chinês torna esse benefício de difícil acesso fora da província natal do trabalhador.
No passado, o problema dos baixos salários foi agravado por um setor financeiro que prejudica a renda das famílias ao oferecer-lhes um rendimento muito baixo para suas economias.
Em 2011, os lares com fundos em depósitos a prazo fixo de um ano receberam um retorno de apenas 3,5%, menor que a inflação. Esses juros muito baixos representam uma transferência do dinheiro das famílias, responsáveis pela maior parte da poupança na China, para as empresas, que fazem a maior parte dos empréstimos.
Aqui também há sinais de um passo na direção certa, com a entrada de novos produtos financeiros que oferecem aos poupadores chineses rendimentos superiores à inflação.
Dois anos atrás, Wang, tradutora de uma ONG paralegal em Pequim, guardava todas as suas economias em depósitos a prazo fixo. Agora, Wang, que não quis revelar seu primeiro nome, transferiu 200.000 yuans (cerca de US$ 31.700) para produtos de gestão de fortunas, deixando apenas 50.000 yuans guardados no banco.
"Se eu deixar todo o meu dinheiro no banco, não é apropriado, porque o juro é muito baixo", disse Wang. "Os novos produtos de investimento estão oferecendo rendimentos de 4,5% a 5%, e são muito convenientes. Podemos fazer tudo pela internet."
A opção de Wang está se repetindo em muitos lares chineses. Um retorno maior para a poupança significa que as famílias têm mais renda e mais dinheiro para gastar.
O aumento da renda não fará muita diferença, porém, se os lares chineses não reduzirem seu nível de poupança.
Economizar é um hábito dos chineses mais idosos, muitos dos quais cresceram em situações de pobreza e turbulência política. A geração mais jovem talvez seja diferente. Comparados aos seus pais, os jovens chineses na faixa dos 20 anos, muitos dos quais são filhos únicos, cresceram em um ambiente de estabilidade e prosperidade.
São os salários, os rendimentos e as atitudes de hoje que definem as perspectivas. Na preferência da geração mais jovem por consumir mais e poupar menos, no aumento da renda familiar, e no setor financeiro remunerando melhor a poupança das famílias, há sinais de que a economia chinesa está começando a encontrar um novo equilíbrio.
Fonte: The Wall Street Journal
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