Economista, Especialista em Economia e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Paraná e Graduando em Estatística, também, pela Universidade Federal do Paraná.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Estudo aponta que acesso a financiamentos para linha verde é irrisório

Apesar do volume de empréstimos desembolsados para práticas sustentáveis no campo ter dobrado na safra agrícola 2011/2012, os níveis de acesso às chamadas linhas verdes ainda são irrisórios. A conclusão é do estudo Financiamento Agroambiental, lançado pelo Instituto Socioambiental (ISA), que aponta gargalos na operacionalização desse incentivo econômico, a partir de entrevistas com 87 produtores e três agentes financeiros, desde 2010.

De acordo com a engenheira agrônoma Léa Vaz Cardoso, assessora do ISA, o financiamento impõe desafios tecnológicos ao produtor brasileiro. O carro-chefe dessas linhas de crédito é o Programa para a Redução de Emissão de Gases de Efeito Estufa na Agricultura (ABC), lançado em 2010, que propõe modelos mistos de produção.

“As linhas financiam tecnologias um pouco mais complexas que as tradicionais, são sistemas diversificados. Quando você compara uma lavoura de soja em monocultivo, o pacote tecnológico é completamente conhecido. Quando coloca um sistema integrado como lavoura-pecuária-floresta, você passa a ter três produtos numa mesma área, com diferentes prazos e ciclos”, disse.

Um outro ponto, segundo a agrônoma, é que os agricultores não conhecem essas linhas diferenciadas. “O produtor até pode ter intenção de, por exemplo, recuperar áreas de proteção permanente (APP), mas ainda não faz por questões financeiras. E ainda tem a indefinição de decisões sobre o novo Código Florestal e a burocracia ambiental, que assustam esse produtor”, disse a assessora.

A solução, na opinião de Léa Vaz Cardoso, está em investimentos em capacitação e na divulgação e promoção de tecnologias. A agrônoma ainda defende que os benefícios “verdes” sejam ampliados dentro de linhas de crédito tradicionais, incluindo uma espécie de “reconhecimento e premiação” aos agricultores que conservam ou recuperam APPs, por exemplo.

“O agricultor incorre em um custo ao preservar essas áreas. A gente está com uma legislação que está preste a mudar, mas o comando-controle sozinho não é suficiente. O instrumento econômico é complementar à legislação. E não há mal algum, na nossa visão, ajudar o agente econômico a cumprir a lei”, disse Léa Cardoso.

Ainda faltam três meses para o fim do ano agrícola (2011/2012), mas o Banco do Brasil já contabiliza R$ 430 milhões desembolsados. Em toda a safra anterior, o banco desembolsou pouco mais de R$ 230 milhões. A agrônoma do ISA considera que o incremento é resultado de uma ação maior do agente financeiro e do governo, mas alerta que o valor “ainda é marginal em relação aos outros créditos. Estamos falando em quase R$ 500 milhões para linhas sustentáveis, sendo que já foram emprestados mais de R$ 70 bilhões para outras práticas, ou seja, menos de 1% na conta”.

O diretor de Agronegócios do Banco do Brasil, Clênio Severio Teribele, não acredita na insegurança dos produtores brasileiros. “Basta verificar o crescimento da produtividade no Brasil, que a gente atribui a competência dos nossos agropecuaristas”, disse. Mas o executivo do banco admite o desconhecimento do crédito e a falta de capacitação para a tomada do financiamento.

“O que a gente percebe é que o mercado ainda não conhece essas linhas. Temos dificuldade na obtenção de bons projetos. A assistência técnica não chega a todos os locais e precisamos que chegue”, disse Teribele, acresentando que o banco está investindo em uma rede de parcerias com cooperativas, agrônomos e técnicos, para o treinamento para elaboração de projetos. “Temos todos os motivos para acreditar no bom desempenho dessas linhas”, disse.

Fonte: JMA-Jornal Meio Ambiente | Agência Brasil

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