Economista, Especialista em Economia e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Paraná e Graduando em Estatística, também, pela Universidade Federal do Paraná.

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Cresce o medo da deflação na Europa

Relativamente poucas pessoas vivas hoje no Ocidente já passaram por uma deflação. Mas isso pode estar mudando, pelo menos para os europeus.

Cresce o temor na zona do euro de que a deflação — a queda persistente e generalizada dos preços na economia — pode estar começando a tomar forma, como aconteceu no Japão em meados dos anos 90. "Deflação: a ameaça oculta" era o título de um relatório de análise feito em dezembro por economistas do HSBC HSBA.LN +1.50% .

Segundo os dados mais recentes, os preços estão caindo apenas na Letônia, Grécia e Chipre. E a maioria dos analistas, inclusive os do HSBC, considera mais provável que a média da zona do euro seja uma inflação baixa, em vez de uma deflação.
Mas a inflação continua teimosamente baixa, inferior a 1% ao ano na média dos 18 países do bloco, apesar do dinheiro que o Banco Central Europeu tem injetado na economia com o objetivo de estimular o investimento e o crescimento, medidas que muitas vezes pressionam a inflação para cima. O número está bem abaixo da meta do BCE de ter uma inflação "menor, mas perto de 2%". De fato, se a média está abaixo de 1%, mais economias que usam o euro correm o risco de sofrer deflação.

Por que a preocupação? Se as companhias lidam com a inflação, por que não podem lidar com a deflação? Por séculos, até a Segunda Guerra Mundial, as economias capitalistas experimentaram períodos de severa deflação intercalados com outros de inflação e continuaram no caminho do crescimento de longo prazo.

Mas a experiência histórica é uma das razões que faz com que os formuladores de políticas não queriam voltar ao século XIX. A hiperinflação da Alemanha nos anos 20 foi seguida, na década posterior, por uma deflação que criou grandes problemas econômicos no país à medida que os preços caíam 23%.

Hoje, o governo alemão não está tão preocupado. Um relatório divulgado em dezembro pelo Bundesbank, o banco central da Alemanha, proclamava: "Não há deflação à vista". Na Alemanha, isso pode ser verdade: o último dado, de novembro, indica uma inflação anual de 1,6%, a terceira mais alta da zona do euro.

Mas outros estão menos otimistas. Jean Pisani-Ferry, chefe do conselho de planejamento de políticas econômicas da França, diz, num artigo no veículo de opinião "Project Syndicate", que "já passou da hora de reconhecer que a Europa enfrenta o perigo da deflação".

Com a economia operando abaixo da sua capacidade e a taxa média de desemprego no bloco pairando acima de 12%, somando as perspectivas de baixo crescimento em outras partes do mundo e a queda no preço das commodities, Pisani-Ferry vê um risco real de queda nos preços.

Até mesmo o Bundesbank reconhece que, se a deflação se estabelecer, o crescimento torna-se quase impossível. Pessoas e empresas adiam suas compras, acreditando que os preços vão cair mais, e assim provocam diminuição na demanda por bens e serviços.

Inicialmente, os salários se mantêm, mas a queda no lucro das empresas acaba forçando-as a cortar a produção e os gastos com pessoal, adiar investimentos e demitir funcionários. O declínio na renda e a alta do desemprego diminui ainda mais a demanda, acentuando uma espiral descendente na economia. Os bancos, por sua vez, enfraquecem à medida que as perdas nas suas carteiras de crédito aumentam.

Como se isso não bastasse, a deflação cria novos obstáculos ao crescimento. As taxas de juros reais — medidas pelas taxas de juros nominais menos a inflação estimada — sobem, aumentando os custos dos que buscam financiamento, inclusive potenciais empreendedores.

Os bancos centrais podem reagir baixando suas taxas de juros de referência. Mas a taxa de refinanciamento do BCE já está em apenas 0,25% ao ano, deixando pouco espaço para cortes adicionais. E embora seja teoricamente possível ter taxas de juros negativas — o que significa que os bancos pagariam para aplicar seu dinheiro no banco central —, a eficácia delas é limitada. Os bancos provavelmente começariam a cobrar dos clientes pelos depósitos, encorajando os poupadores a sacar o dinheiro e guardá-lo.

Para os tomadores de empréstimos, a deflação representa um golpe duplo. Além de aumentar o custo financeiro real das dívidas, à proporção que a deflação afunda a economia, aumenta também o peso das dívidas existentes. Afinal, o valor nominal das dívidas não muda com a queda na renda, o que significa que uma parcela maior da renda nacional (pessoal e das empresas) tem que ser destinada ao pagamento de dívidas.

Este último fenômeno é um jogo de soma zero. Os credores se beneficiam e os devedores perdem. Mas o problema da zona do euro é que os devedores estão concentrados nos países com crescimento mais lento e que são mais propensos à deflação, como Grécia, Espanha, Portugal e Itália.
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Os que mais estão sofrendo com a situação teriam que arcar com um custo ainda maior. Ou eles não vão conseguir ou vão se recusar — deixando de honrar suas dívidas. Isso provocaria graves efeitos em cascata para os bancos domésticos e outros credores, ameaçando gerar ainda mais dificuldades.

Enfim, há muitas razões para se preocupar.














Fonte: The Wall Street Journal

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