Recuperação da economia americana pode afugentar investidores dos emergentes.
O ano de 2014 sem dúvida será desafiador para o mundo em geral, mas em especial para as economias dos Brics (Brasil, Rússia, Índia e China). De nações altamente promissoras, esses emergentes levantam cada vez mais dúvidas sobre o potencial para surpreender positivamente. Isso se aplica em menor grau talvez para China e em maior escala para Rússia, Índia e Brasil, além da África do Sul, que foi adicionada depois e não conseguiu acrescentar nenhum brilho extra ao grupo.
As surpresas ficam no lado negativo, com deterioração fiscal na maioria, preocupações com inflação em todos (menos na China) e desaceleração do crescimento em geral. O desafio para esses emergentes será encontrar o equilíbrio das políticas econômicas, promover as reformas necessárias e ainda crescer mesmo quando a maior economia do mundo, os EUA, começar a apertar o cinto.
O diretor de Pesquisas para a América Latina da Nomura Securities em Nova York, Tony Volpon, alerta para a necessidade dos Brics de "ajustes à nova realidade".
Após cinco anos de política monetária extremamente frouxa, o Federal Reserve se prepara para reduzir as compras mensais de US$ 85 bilhões em ativo e depois, com mais certezas sobre a firmeza da economia americana, começar também a subir os juros, que desde de dezembro de 2008 estão na faixa de 0% a 0,25%.
"Em um dos cenários prováveis para este ano, a eventual recuperação dos EUA vai gerar uma puxada de liquidez para fora dos emergentes, pois sempre existe disposição maior de o dinheiro ficar em casa", afirma Volpon. "Na verdade não tem porque o investidor ficar brincando nessas praias exóticas, com pessoas exóticas como Dilma e Mantega para rentabilizar meu capital", ironiza.
Diante de uma reversão nos fluxos internacionais de capital, com retorno de parte desses recursos para as economias maduras, os emergentes que dependem da poupança externa para financiar seus déficits em conta corrente podem se ver em maus lençóis, principalmente em casos em que há uma deterioração dos fundamentos econômicos, como no Brasil.
As projeções de crescimento para esses países em nada lembram o desempenho visto em 2010, por exemplo, quando os Brics se gabavam de terem se saído melhor da crise de 2008. A China, que cresceu 10,4% em 2010, deve ter expansão de 7,3% em 2014, segundo projeções do FMI.
O Brasil deve ter uma das menores taxas de crescimento dos Brics em 2014, de 2,5%. As estimativas para a Rússia estão em expansão de 2%; na Índia, de 5,1% e na África do Sul, de 2,9%.
Ninguém espera que os Brics voltem a ter o crescimento exuberante de 2010 em 2014, mas que tenham um ano melhor que 2013, mesmo diante da normalização da política monetária dos EUA, da mudança da China de um modelo de crescimento mais voltado para o mercado interno e com a realização de eleições em vários países emergentes, como Brasil e Índia.
Fragilidades
Diante de um cenário global conturbado, alguns grandes emergentes, entre eles, três Brics (Brasil, Índia e África do Sul) ainda precisam lidar com eleições gerais em 2014. "Não prevemos uma ruptura política ou processos de esgarçamento dos mercados, mas isso sempre gera algum tipo de ruído e precisamos ficar atento à evolução das eleições nesses países", diz Marcelo Salomon, codiretor de estratégia para América Latina do Barclays.
Alguns dos Brics ainda correm o risco de terem seus ratings rebaixados em 2014, incluindo Brasil, África do Sul e Índia. Para os dois primeiros, analistas acreditam que o rebaixamento já está dado.
"Não sei se o pessoal da Dilma ou a própria Dilma estão querendo empurrar com a barriga até depois da eleição e aí vêm com um pacotão para agradar o mercado ou se realmente não estão convencidos ainda de que mudou o jogo", disse Tony Volpon, do Nomura.
Com a presidente Dilma buscando a reeleição no próximo ano, analistas não acreditam que o governo promova um aperto fiscal significativo, que poderia pressionar a atividade econômica e elevar o desemprego. "Vamos ter uma deterioração das contas fiscais, com redução do superávit primário e aumento da dívida bruta do setor público em relação ao PIB", diz o presidente do conselho do banco Goldman Sachs no Brasil, Paulo Leme.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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