François Hollande, o presidente da França, encorajou ontem os governos da zona do euro a estudar maneiras de realizar uma tarefa que foge à alçada do Banco Central Europeu: promover uma política de câmbio.
Num discurso no parlamento europeu, Hollande disse que a zona monetária "deveria ter uma política cambial, senão ela terá uma taxa de câmbio imposta sobre ela que não corresponde ao estado real da economia".
Ele disse que não se deve deixar o euro flutuar "conforme o humor dos mercados" e se mostrou receoso de que a valorização atual da moeda esteja minando os esforços dos governos europeus para arrumar suas finanças públicas e melhorar a produtividade de suas economias.
"Há um paradoxo em exigir que alguns países tentem ser mais competitivos e ao mesmo tempo tornar suas exportações caras", disse ele. "Senão estamos pedindo aos países um aumento de competitividade que é aniquilado pelo valor do euro."
As autoridades da França há muito reclamam que, com o mandato do BCE limitado apenas ao controle da inflação, os europeus acabam tendo pouca influência na batalha mundial do câmbio, em que muitos países estão adotando políticas para enfraquecer suas moedas e melhorar o desempenho das suas exportações.
A chanceler alemã Angela Merkel juntou-se ao debate em janeiro, atacando as iniciativas recentes do Japão para desvalorizar o iene e alertando que os líderes políticos não podem usar os bancos centrais para corrigir os equívocos de suas próprias políticas.
Merkel disse que o BCE havia chegado ao "limite do seu mandato" numa tentativa de amparar as debilitadas economias da zona do euro ao comprar seus títulos de dívida. Mas muitos líderes europeus consideram o mandato do BCE muito limitado e gostariam de dar mais poder ao banco central para promover o crescimento do bloco.
O BCE não quis comentar as observações de Hollande.
Hollande disse que não estava sugerindo que o BCE estabelecesse metas para a cotação do euro, mas que queria que os governos europeus fossem mais proativos.
"Não depende apenas do BCE; é também um papel dos governantes da zona do euro determinar as prioridades para a moeda", disse ele.
Retórica à parte, analistas dizem que o protesto de Hollande não deve ter nenhum efeito tangível no euro, que mal oscilou em resposta aos seus comentários.
"Não creio que François Hollande possa realmente acreditar que tenha alguma chance de apresentar uma política de câmbio que funcione", disse Alastair Newton, analista político da Nomura em Londres. "Esses tipos de comentários talvez sejam inevitáveis numa época em que os Estados Unidos causaram um enfraquecimento razoável do dólar e o discurso dos japoneses conseguiu fazer o iene cair — é quase inevitável ver políticos europeus comentando a respeito."
Ele disse que a França deveria estar pensando na "falta de competitividade da economia em vez da do euro".
Desde que caiu a até US$ 1,2042 ano passado diante do pânico dos investidores com a possibilidade de Espanha e Itália serem varridas pela crise da zona do euro, a moeda comum se valorizou significativamente. O retorno da confiança no futuro do bloco no longo prazo influenciou essa ascensão. Mas analistas dizem que as ações dos bancos centrais também influíram amplamente.
O Federal Reserve, o banco central americano, prometeu manter os juros de curto prazo baixos. O Banco da Inglaterra e o Fed estão conduzindo grandes programas de relaxamento quantitativo. O Banco do Japão tomou medidas para conter o iene.
Mas o BCE está indo na direção contrária. Um ano atrás, ele inundou os mercados com empréstimos baratos. Agora, ele está enxugando a liquidez à medida que recebe o pagamento desses empréstimos.
Desde o fim de novembro, o iene já caiu mais de 13% em relação ao dólar e 18% contra o euro. Na semana passada, o dólar atingiu seu menor nível em relação ao euro em 14 meses.
Nesse cenário, executivos das empresas e autoridades do governo alertam que o sistema financeiro mundial está diante de uma onda de desvalorizações cambiais em resposta a essas políticas monetárias e ao controle rígido do câmbio na China.
A valorização do euro ocorre num momento em que a França e outros países da zona do euro estão se esforçando para diminuir custos trabalhistas e estimular o crescimento econômico. Nas últimas semanas, os ministros do governo de Hollande disseram que o euro forte está tornando os produtos franceses menos competitivos no mercado global.
Hollande também disse que as economias de dentro da zona do euro precisam ser reequilibradas, indicando que países que são grandes exportadores, como a Alemanha, deveriam se esforçar mais para consumir os produtos de outros países do bloco monetário.
"Há países que têm superávits e alta competitividade e outros com déficits que precisam ser melhorados", disse ele. "Países na primeira situação deveriam impulsionar a demanda doméstica para permitir que os outros um dia voltem a crescer."
Fonte: The Wall Street Journal
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