As eleições parlamentares na Itália terminaram em um 'empate' entre a centro-esquerda e a centro-direita, derrubando mercados e mergulhando a Europa e a zona do euro em uma nova onda de incertezas.
O bloco de centro-esquerda liderado por Pierluigi Bersani ganhou a Câmara dos Deputados, mas não obteve maioria no Senado. A frente de centro-direita liderada pelo ex-premiê Silvio Berlusconi obteve mais votos no Senado do que qualquer outra agremiação política.
O controle de ambas as Casas é necessário para governar o país.
O resultado da eleição, que ocorre em meio a uma das piores recessões enfrentadas pela Itália e em meio a um rigoroso pacote de medidas de austeridade fiscal, foi tão apertada que a margem de vitória anunciada pelo Ministério do Interior foi menor do que 1% para ambas as casas do Parlamento.
Lideranças europeias, que acompanhava atentamente o pleito que poderia definir os rumos da terceira maior economia da zona do euro, reagiram com preocupação.
França e Alemanha pediram que a Itália mantenha o curso de reformas e austeridade.
O ministro das Relações Exteriores da Espanha, José Manuel García-Margallo, disse estar "extremamente preocupado" com as consequências financeiras do pacote de medidas de austeridade fiscal para o país mediterrâneo.
"Trata-se de um pulo no abismo que não é bom nem para a Itália ou para a Europa", afirmou , segundo a agência de notícias Reuters.
Ao redor do mundo, os principais índices do mercado financeiro apontavam queda tão logo os resultados das eleições ficavam mais claros.
Comédia
O desempenho mais surpreendente da eleição foi de uma chapa antiausteridade liderada pelo comediante Beppe Grillo, o Movimento de Cinco Estrelas, que obteve 25,54% dos votos, consagrando-se como a terceira força da Câmara dos Deputados.
Correspondentes afirmaram se tratar de um êxito extraordinário para esse humorista genovês, cujos comícios ao redor do país durante o período eleitoral, despejando insultos contra uma desacreditada classe política - refletiram-se em um excelente desempenho nas duas Casas.
"Nós começamos uma guerra de gerações", disse Grillo.
"Eles são todos perdedores; eles vêm governando este país nos últimos 25 a 30 anos e nos levaram à catástrofe."
Enquanto isso, o bloco coordenado pelo atual premiê, Mario Monti, obteve uma longínqua quarta colocação, com 10% dos votos.
"Todo mundo sabe que hoje o país terá de enfrentar uma situação muito delicada", disse o líder de centro-esquerda, Pier Luigi Bersani, enquanto os últimos votos eram apurados.
Já o ex-premiê Berlusconi admitiu a derrota para seus opositores na Câmara. Ele disse, entretanto, que será preciso refletir sobre o futuro da Itália a partir de agora, mas descartou a convocação de novas eleições.
Berlusconi acrescentou que não tentará costurar um acordo com o bloco centrista de Monti, e justificou sua decisão ao dizer que o mau resultado do partido do atual primeiro-ministro italiano revela o descontentamento da população com suas medidas de austeridade fiscal.
Com a apuração de todos os votos, o Ministério do Interior informou que o bloco de centro-esquerda de Bersani obteve 29.54% dos votos na Câmara dos Deputados, pouco acima dos 29,18% alcançados pela coalizão de Berlusconi.
Com o resultado, o bloco vencedor deverá ter 340 cadeiras na casa, o que lhe garante maioria.
Os votos de eleitores fora da Itália ainda não foram apurados.
Bersani, do bloco de centro-esquerda, também obteve o maior número de votos para o Senado, mas não conseguiu obter as 158 cadeiras necessárias para assegurar maioria absoluta.
Além disso, à medida que assentos adicionais sejam distribuídos com base nos votos regionais, o bloco de centro-direita de Berlusconi deve obter um maior número de cadeiras no Senado.
Em novembro de 2011, o então primeiro-ministro Silvio Berlusconi, atualmente com 76 anos, deixou o cargo após acusações de mau gerenciamento da economia em meio à dificuldade de a Itália conter sua crise da dívida.
Berlusconi foi sucedido por Mario Monti, que liderou um gabinete de tecnocratas, que supervisionaram a implementação de cortes de gastos públicos, medidas impopulares que acabaram impondo sua derrota nas urnas.
"Alguns supuseram que nós conseguiríamos um resultado um pouco melhor, mas estamos satisfeitos com que alcançamos", disse ele.
ENTENDA AS ELEIÇÕES NA ITÁLIA
O que está em jogo?
O resultado das eleições será observado de perto na Europa e no resto do mundo. Os italianos enfrentam escolhas difíceis. O país está imerso em uma recessão profunda, com níveis recordes de desemprego – especialmente entre os jovens.
Os prospectos de instabilidade política logo após as eleições também podem ser devastadores. Se um impasse político for criado e for comprovado que os eleitores rejeitaram nas urnas as medidas de austeridade e reformas elaboradas para conter a crise, os mercados poderiam se assustar e a crise da zona do euro poderia entrar em uma nova fase, com a Itália como protagonista.
Durante a campanha, Berlusconi atacou as medidas de austeridade de Mario Monti e prometeu amplas reduções de impostos caso retornasse ao poder. Seu rival, Pier Luigi Bersani, da coalizão liderada pelo PD, disse que caso seja eleito dará prosseguimento às reformas e à disciplina fiscal implementadas por Monti, mas fará mais pelo crescimento econômico e pela geração de empregos no país.
Quais são os resultados mais prováveis?
A coalizão de centro-esquerda liderada por Pier Luigi Bersani tem liderado as pesquisas de opinião para a Câmara dos Deputados, com uma vantagem de até 10% frente aos rivais, mas Berlusconi conseguiu diminuir essa liderança em cinco pontos percentuais durante a campanha, graças a uma incansável rodada de aparições em programas de TV e rádio.
Uma grande parcela do eleitorado permanece indecisa, o que pode levar a um impasse.
Enquanto uma vitória na Câmara dos Deputados pode colocar Bersani na posição de formar um governo, nenhuma coalizão tem condições de liderar o país de forma efetiva sem o controle também do Senado, e como os assentos dos senadores são decididos de forma regional, é ali que a verdadeira disputa deve ocorrer, dizem analistas.
Berlusconi e seus aliados esperam conquistar assentos suficientes no Senado para dificultar, senão impossibilitar, a formação de um governo liderado por Bersani. E as últimas pesquisas mostraram uma disputa acirrada na câmara alta, sobretudo em regiões como Lombardia e Sicília.
Entretanto, há especulações de que, no caso de um impasse, a coalizão de centro liderada por Mario Monti poderia acabar apoiando a coalizão de centro-esquerda de Bersani, neutralizando assim as ameaças de Berlusconi e seus aliados. Neste cenário, Monti poderia vir a ter um papel de destaque no governo de Bersani.
O Movimento Cinco Estrelas está se beneficiando de uma grande onda de protestos populares e descontentamento dos italianos, e deve sair-se bem nas urnas, mas seu líder Beppe Grillo descartou fazer quaisquer alianças com outros partidos. Ele tem tecido duras críticas aos políticos do país, chamando-os de "zumbis" que precisam ser substituídos por candidatos mais jovens, livres de acusações de corrupção e sem envolvimento em escândalos.
Fonte: BBC Brasil
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